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23/10/2008

Obliquidades [Duplex Longa/Criterium]

BLITZ

17.10.89

OBLIQUIDADES

O concerto dos Duplex Longa/Criterium, designado «Projectos Oblíquos», foi a primeira de uma série de iniciativas que o Instituto Franco-Português se propõe levar a cabo nos tempos mais próximos, visando a divulgação das propostas mais recentes e inovadoras da música moderna portuguesa.
Este primeiro espectáculo saldou-se por um semiêxito. O público afluiu em número razoável. O som estava bom. Os atrasos de horário não foram exasperantes. Em termos exclusivamente musicais é que deixou muito a desejar. Para a maioria dos presentes não foi esse o caso, o mesmo é dizer que o público gostou, aplaudiu delirantemente sobretudo os Duplex Longa, grupo sobre o qual recaíam as maiores expectativas. Esta discrepância assenta numa série de equívocos que procurarei esclarecer.
Relatemos então o que se passou. Os Duplex Longa são dois, melhor, três, se contarmos com o computador de ritmos, disposto no centro do palco, comandando quase sempre as operações. Os dois humanos são Carlos Raimundo, no baixo, e Mário Resende, no violino, tendo ambos a seu cargo as programações rítmicas. O grupo vinha referenciado como praticante de um som fazendo a ponte entre os Tuxedomoon e os Penguin Cafe Orchestra.
O esquema inicial da sua prestação foi invariavelmente a alternância de temas rítmicos com outros em que o computador se calava, permitindo aos dois instrumentistas, sobretudo ao violinista, exibirem os seus talentos. E aqui o primeiro equívoco. O tipo de música que os Duplex se propõem fazer exige um virtuosismo que os seus membros estão longe de possuir. Não é que toquem mal, mas não possuem ainda a fluência instrumental, o à-vontade que lhes permita libertarem-se da rigidez que por ora ostentam. Era notório o esforço que por vezes faziam para conseguir acompanhar o ritmo computorizado, quando seria suposto tocarem com ou sobre os esquemas rítmicos de base. Por outro lado, os Duplex estão, por enquanto, longe de serem originais e sabe-se quanto a originalidade conta no campo musical que escolheram. Para já limitam-se a alinhavar influências de etnias várias, como a árabe ou eslava num contexto classizante, não indo muito além do percorrer de escalas resultando num som bonitinho e imediatamente reconhecível. Nenhum risco ou ponta de audácia nas soluções melódicas e harmónicas. Jogam para já num exotismo de pacotilha e no facto de se movimentarem num campo que, em termos nacionais, se apresenta praticamente virgem. Em terra de cegos…
Mas o pior de tudo foi o final, quando os Duplex se afundaram no seu próprio pretensiosismo. Subiram ao palco uns instrumentistas «da clássica», com instrumentos «a sério» como o violoncelo, a flauta e o trompete e, finalmente, um coro de senhoras, todos juntos para um final pretensamente grandioso. O resultado foi assistirmos a uma aula de alunos do Conservatório, com todos os participantes desunhando-se para não desafinarem ou saírem do compasso. Os Duplex Longa são, por enquanto, apenas uma boa ideia. Podem ir longe se souberem admitir e até mesmo tirar vantagem das suas próprias limitações e se se preocuparem menos em «mostrar que também sabem fazer» e mais com a criação de uma linguagem própria, sob risco de não passarem de um puro exercício de estilo. Ah, é verdade, na 1.ª parte tocaram os Criterium, variante nacional n.º 6348 dos Joy Division.
Aguardam-se futuras iniciativas, com propostas menos certinhas e mais destabilizadoras.

15/10/2008

Vários - Vidya

Pop Rock

13 MARÇO 1991

VÁRIOSVidya
LP, Potlatch

Projecto de Vítor Rua, dos Telectu, gravado entre os meses de Janeiro de 1990 e 1991, no estúdio caseiro de Nuno Rebelo, e que inclui praticamente todos os músicos de algum modo conotados com aquilo a que poderíamos chamar “cena ‘underground’ lusitana”. 19 temas, sem título, organizam-se numa montagem em que sucessivamente vão intervindo os diversos participantes: Vítor Rua, Jorge Lima Barreto, Elliott Sharp (num excerto gravado ao vivo na sua recente actuação ao lado dos Telectu), Carlos Zíngaro, Saheb Sarbib, Miguel Azguime, D.W.Art, Sei Miguel, João Peste, Nuno Rebelo, Luís Desirat, Rodrigo Amado, Rafael Toral, dois Osso Exótico, Tó Zé Ferreira, Rui Azul, Miguel Megre, Fala Miriam, Bruno Rascão, João Paulo Feliciano, Paulo Eno e o duo Duplex Longa. Música experimental, ambiental, industrial, numa colagem de géneros e estilos que tem pelo menos a virtude de lutar, em termos estéticos, contra a normalização vigente. Há momentos excelentes, outros nem tanto. Dos primeiros, realce para: a “raga” electrónico-industrial dos Telectu, no tema nº5; os ambientes muito jon-hasselianos do tema seguinte, como suporte para as divagações violinísticas de Carlos Zíngaro; o solo percussivo de Miguel Azguime, no tema nº8; os zumbidos eléctricos de Paulo Eno, controlados por Rua num encosto aos Nurse With Wound no tema nº9; a dança das vocalizações fantasmagóricas de João Peste com o computador de Rua, no nº11; os ambientalismos obscuros e estruturais de Rua, Tó Zé Ferreira e Nuno Rebelo, nos temas nº14 e 15; o breve caos controlado que alia os King Crimson de “Red” à vertigem Naked City do tema nº17, pelos Duplex Longa; a apropriação das Frippertronics por Vítor Rua, que encerra o disco. Para o fim, o momento mais brilhante, aquele que abre o segundo lado – cruzamento dos Residents com fragmentos melódicos de “Strangers in the Night”, tocados por um Rua que soube aprender os ensinamentos do malogrado Snakefinger, valorizado pelas notáveis prestações de Rui Azul, na electrónica e no solo de sax tenor. A vanguarda começa a organizar-se em Portugal. ****

29/09/2008

Duplex Longa - Forças Ocultas

Pop Rock

22 ABRIL 1992

Duplex Longa
Forças Ocultas
CD, MTM, distri. El Tatu

Tivessem os Duplex Longa, um duo constituído por Mário Resende, violino, flauta, electrónica, e Carlos Raimundo, baixo, electrónica, cortado alguns temas e uma mão cheia de segundos a estas forças ocultas, ou seja, tivessem sido mais Duplex e menos Longa, e estaríamos em presença de um grande disco de música feita em Portugal. Em vez disso, o duo optou pela exibição do catálogo, já um pouco estafado, do pós-modernismo, com todo o seu cortejo de tiques e truques.
As influências musicais são múltiplas, algumas óbvias. Nos temas confinados ao formato violino/baixo/caixa-de-ritmos é todo o universo estético dos Tuxedomoon e quejandos que assoma sem ocultação possível. “Manitu”, entre a mecanicidade, a improvisação jazzy e o delírio barroco, e “Tuareg”, um “show” autónomo da caixa-de-ritmos, remetem para uma obra como “Colorado Suite” de Blaine Reininger com a Mikel Rouse Broken Consort.
“Primeira viagem” e “Ab origine II” preferem o romantismo kitsch de Stevem Brown. Depois é todo o estendal “étnico”, exótico e “world”, em pinceladas poderosas (“Ab origine I”), em estilo de apontamento (“Pinzacucha”) ou nas divagações perfeitamente dispensáveis de um “Phado” das Arábias, onde não faltam sequer os maneirismos vocais de Anabela Duarte. Há um pastiche espanholado de Michael Nyman em “Chuva, vapor e electricidade” e o melhor de tudo que é “Hardgore” que só por si vale todo o disco – uma sucessão de clímaxes explosivos onde se destrói/reconstrói, segundo a segundo, o “free jazz”, o “hardcore” e o classicismo maricas, numa só penada e a grandes pedaladas do violino de Mário Resende e do sax de Paulo Curado. Uma boa estreia a que faltou mais afinada pontaria. (7)