6 Outubro
2000
FOLK
Bert Jansch,
ex-Pentangle e figura importante da folk inglesa (Jimmy Page e Neil Young
reconhecem a sua influência), regressa, cinco anos depois do magnífico “When
the Circus Comes to Town” com “Crimson
Moon”. Canções que passam pelo ponto em que os blues e a folk inglesa rural
se tocam, dentro de um espírito mais baladeiro e “sixties” do que o álbum
anterior. O voz também já conheceu melhores dias, mas o estilo e a classe na
guitarra estão intactos neste simpático caderno para o qual foram convidados
Bernard Butler, dos Suede, e Johnny Marr, ex-Smiths. E em “Downunder” quase só
falta a voz de Jacqui McShee para se ouvir os Pentangle, enquanto “October
song” evoca os mesmos acordes medievais de outro dos seus antigos companheiros
no grupo, John Renbourn (Castle Music, distri. Som Livre, 6/10).
Carlos Nuñez também está de volta. A
superestrela da gaita-de-foles passou a assinar grande parte dos temas e o
resultado é desastroso. Em “Mayo Longo”
o popular tornou-se popularucho. Depois de Dulce Pontes, a cantora portuguesa
escolhida foi desta feita Anabela. O galego gostou tanto dela que a convidou
para cantar nos seus concertos em regime permanente. Sharon Shannon, Liam
O’Flynn, Donál Lunny, o coitado do Ronnie Drew (dos Dubliners) que já não tem
idade para estes disparates, e Dar Ar Braz (acompanhado pela sua “entourage”
L’Heritage des Celtes no tema final) são os nomes folk convidados mais
sonantes. Participam ainda Liam O’Maonlai, dos Hothouse Flowers, Hector Zazou e
outro português, Guilherme Inês, que faz companhia, no piano, a Anabela, no
título tema. Capaz do “melhor”, aqui apenas com nota “suficiente”, nos registos
mais tradicionais, e do pior, no escabroso “The moon says hello”, vocalizado
por Roger Hogson, ex-Supertramp, ou nuns “Astros, fuentes y flores”, capazes de
levarem Anabela de novo à Eurovisão, Carlos Nuñez está a merecer levar um
corretivo. Um disco para esquecer (Ed. e distri. BMG, 3/10).
Os
escoceses Ceolbeg, pelo contrário,
estão cada vez melhores (pelo menos em disco, já que ao vivo as suas atuações
deixam algo a desejar…). O lado rockeiro dos primeiros álbuns praticamente
desapareceu e os desempenhos no novo “Cairn
Water”, nos dois extremos da paleta rítmica, de Gary West, na
gaita-de-foles, e Wendy Stewart, na harpa céltica, são um deleite. Até mesmo a
versão de “To each and everyone of you”, de Gerry Rafferty, que no Intercéltico
do Porto deste ano soou desconchavado e fora do contexto, surge aqui como a
pequena joia da folk contemporânea que na realidade é. A continuarem assim, os
Ceolbeg arriscam-se a entrar para o clube seleto dos clássicos (Greentrax,
distri. MC – Mundo da Canção, 8/10).
Pela
primeira vez disponível em CD, além de mais em edição remasterizada, está “Tender Hooks” (1978) de Gay and Terry Woods, um exemplar
representativo da fase tardia do folk rock inglês dos anos 70. Terry Woods fez
parte dos Sweeney’s Men (aos quais também pertencia Andy Irvine, que se
notabilizaria nos Planxty) antes de integrar a primeira formação dos Steeleye
Span, grupo com o qual ele e Gay Woods gravaram o álbum de estreia “Hark! The
Village Wait”. Gay regressaria aos Steeleye Span quase 30 anos depois, formando
com Maddy Prior a dupla de vozes femininas do grupo. Antes deste “Tender
Hooks”, Terry e Gay já tinham assinado o clássico do folk rock “The Woods
Band”, do coletivo com o mesmo nome. “Tender Hooks” conta com a colaboração de
Kate McGarrigle e Pat Donaldson (ex-Fotheringay, da Sandy Denny) e poderá ser
um “must” para os apreciadores de baladas com um leve sabor americanizado. Era
uma época difícil para a folk inglesa e “Tender Hooks” reflete a hesitação
quanto ao caminho a seguir. Em “I won’t believe it” o saxofone soa aos Roxy
Music… (Cooking Vinyl, distri. Megamúsic, 6/10)
Ajoelhem
aos pés dos Oskorri, no trono da
música tradicional do País Basco há mais de meio século. “Ura”, o mais recente capítulo de uma discografia extensa e quase
sempre brilhante, é um daqueles trabalhos imbuídos de uma dignidade
inquestionável e a continuação sustentada de toda uma obra com alicerces
sólidos. Uma entre várias etapas fundamentais de um percurso que não admite
quebras nem desfalecimentos, mas que a cada novo avanço parece descobrir novas
delicadezas e uma ternura impossíveis de descrever. Quem já conhece a música
tradicional desta região, através de anteriores trabalhos dos Oskorri ou da
descoberta recente dos Hiru Truku, saberá reconhecer os tesouros contidos em
“Ura”. E, como acontece com as instituições, os Oskorri atraem gente ilustre.
Aqui os convidados de alto gabarito dão pelos nomes de Glen Velez, Ivo Pasov (o
clarinetista búlgaro mais rápido que a própria sombra) e Kepa Junkera (o
acordeonista basco com dez dedos em cada mão) (Elkarlanean, distri. Farol, 8/10)