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05/07/2018

Thrill Jockey, ontem



Fernando Magalhães
17.09.2002 150311

Muito resumidamente (crítica completa aos 2 dias do evento, 4ª feira):

BOBBY COHN: Bizarro, amaneirado, boa voz, showmanship e...pouco mais. A personagem sobrepôs-se à música que, pelo menos ao vivo (os discos são bastante curiosos), mostrou ser de uma vulgaridade gritante (Disco, funk, teatralidade bowieana...) - 4,5/10

THE SEA & CAKE: Ouçam os CARAVAN (de "Waterloo Lily") e, já agora, os WIGWAM (de "Nuclear Nightclub") e esqueçam os THE SEA & CAKE
:D
Menos radical: Foi um concerto agradável. Os tipos tocam mal mas esforçam-se. As partes melhores (leia-se, com o trompete de Mazurek, outro músico sofrível mas esforçado) foram, infelizmente, prejudicadas pelos problemas de som. - 6/10

TORTOISE: Começaram e acabaram muito bem, em força e com vontade "de castigar os ouvidos" e obrigar a uma escuta tensa e ativa, mas..., pelo meio, procuraram agradar e mostrar estatuto de "clássicos", o que, se por um lado, prova que, efetivamente, já marcam, de facto, uma posição de destaque no universo do pós-rock, por outro, tornou enfadonhas determinadas sequências instrumentais que pareciam ser tocadas "à manivela". Tudo muito bonitinho e agradável, o que seria a última coisa que esperaria dizer dos TORTOISE!
Momentos ouve em que parecia estar a ouvir os Stereolab. O lado "easy listening" e alguns pormenores "lounge" parecem-me indicar um certo conformismo... Mesmo assim, um bom concerto. - 7/10

Não sei porquê, mas estou com uma fézada que os TRANS AM vão arrasar hoje à noite e que vão ser o grande concerto deste "Looking for a Thrill"...

FM

15/11/2016

O regresso de Djed [Tortoise]

CULTURA
SEGUNDA-FEIRA, 2 ABR 2001

Crítica Música

O regresso de Djed

Tortoise + The Sea and Cake
Paradise Garage, Lisboa.
31 de Março, 21h30.
Casa cheia

Para muitos, a estreia ao vivo em palcos portugueses dos Tortoise, na noite de sábado, no Paradise Garage, em Lisboa, foi como que a concretização de um sonho há muito acalentado. Não era para menos. A banda de John McEntire e compinchas é uma das referências incontornáveis do pós-rock de Chicago e a qualidade de toda a sua discográfica justificava a expetativa que rodeava esta sua apresentação fora do estúdio.
            Foi um bom concerto, sem ser excecional. Depois de uma primeira parte assegurada pelos The Sea and Cake, outra personificação da febre criativa de McEntire – que terá passado ao lado de muita gente, convencida que a música começaria às 21h30 indicadas nos bilhetes, quando na verdade a primeira banda deu início à sua atuação pouco passava da nove –, os Tortoise invadiram o palco, desarrumando-o por completo. Músicos para um lado e para o outro numa roda-viva, a arrastar fios e equipamento, numa espécie de metáfora do que viria a seguir. E o que veio a seguir foi uma bomba despoletada com a cacofonia de guitarras de "Seneca", que abre o último CD do grupo, evocação oblíqua a "Star spangled banner" de Jimi Hendrix.
            A partir daí a música derivou ao longo do alinhamento de "Standards", sobrepondo marcações marciais de bateria, eletrónica rústica, guitarras em "riffing" de krautrock, vibrafones minimalistas e semi-improvisações que ora se aproximavam do difícil equilíbrio mantido no álbum, ora se afastavam para experimentar a consistência de geografias virgens. "Standards" é um álbum de explosões e implosões sonoras e, a esse nível, o concerto correspondeu na mesma moeda, ao sustentar-se de contrastes e de sucessivos "falsos começos" e "falsos finais". Entre o rock, a eletrónica manipulada em tempo real e tímidas incursões no jazz ou no minimalismo, a música dos Tortoise conseguiu a proeza de nunca perder o fio à meada e de resistir ao apelo da desagregação que tantas vezes faz confundir a experimentação e a improvisação com a condescendência e a falta de proficiência instrumental.
            Sem serem músicos brilhantes, os Tortoise mostraram, no mínimo, competência e seriedade, além de cultura musical. Evidenciada nas citações, perfeitamente assumidas, interiorizadas e reformuladas de uma música que foi capaz de transcender os limites do pós-rock.


            Num movimento de recuo no tempo que partiu de "Standards" para chegar a um dos momentos de maior brilhantismo da sua discografia, "Millions Now Living Will Never Die", os Tortoise foram sedimentando a postura em palco (já não se mexiam tanto, embora continuassem a ser frequentes as trocas de instrumentos entre os músicos) e ganhando segurança nos sons. Quando menos se esperava, fizeram-se ouvir os primeiros vagidos eletrónicos de "Djed", os tais 20 minutos de "Millions Now Living..." que em 1996 agitaram as águas do pós-rock. A batida "motorika" aprendida como os Neu! avançou até ao momento em que os dois vibrafones entraram em diálogo "stevereichiano". Subitamente, porém, a hipnose quebrou-se, e "Djed" interrompeu-se a meio, certamente não por causa dos assobios lançados por aquela parte da assistência que manifesta o seu desagrado sempre que a música – seja ela qual for – escapa aos parâmetros "normais" a que está habituada. Afinal, rock ou pós-rock será apenas uma questão semântica... Venham pois as guitarras e o 4/4 que o pessoal quer é desbundar. Apesar do retorno à "normalidade", foi difícil desbundar com o quase easy-listening lounge de "Blackjack", um dos momentos mais divertidos e de maior dissidência ao conceptualismo rigoroso de "Standards".
            O tempo apertava, porém. O Paradise Garage faz questão de funcionar como discoteca a partir da meia-noite e assim os Tortoise, ao fim de cerca de hora e meia que passou depressa, desculparam-se de não poderem continuar. Mas mesmo já com as luzes da sala acesas, o público pediu mais. Recebeu o melhor. Depois de um retorno às ondas do mar e ao bucolismo bossa-nova em formato The Sea and Cake, os Tortoise regressaram para um derradeiro "encore" em que, finalmente, deitaram para trás o formalismo, lançando-se numa "jam" de "cosmicrock" arrojada a dar ideia de que o concerto poderia começar aí e durar a noite inteira. Não era por acaso que os Can, uma das bandas preferidas dos Tortoise, costumavam dar concertos de seis horas, as duas primeiras para aquecer...
            Mas para a maioria das 700 pessoas que esgotaram a lotação do Paradise Garage, o concerto dos Tortoise jamais será esquecido. Será caso para dizer: "700 Now Living Will Never Die".

EM RESUMO
Corte Quando o tema "Djed" se interrompeu a meio de um dueto de vibrafones minimalistas, ficou nítida a fronteira que separa a fação revisionista do pós-rock e aquela que em definitivo cortou o "rock" do seu vocabulário.

05/11/2016

Pós-rock RADIANte

CULTURA
QUINTA-FEIRA, 19 SET 2002

Crítica Música

Pós-rock RADIANte

Looking for a Thrill

Lisboa, Paradise Garage
16 e 17 de Setembro, às 21h
Sala a 3/4

Considerando que o pós-rock é um género agonizante, a exibição do catálogo da editora norte-americana especialista na matéria, Thrill Jockey, que teve lugar, segunda e terça-feira, no Paradise Garage, sob o genérico “Looking for a Thrill”, pode considerar-se um êxito. Não que qualquer das seis bandas, mais um karaokeiro, que passaram pelo palco de um Garage cheio, mas não a abarrotar (a transpiração coletiva chegou, no entanto, para transformar o recinto em sauna), tivesse sido brilhante. Tratou-se mais de uma reunião de amigos e da celebração de um certo estado de espírito “underground”.
De tal forma amigável que ao mesmo tempo que os músicos tocavam, as pessoas continuavam a conversar em voz alta, provocando um “agradável” burburinho de fundo que se manteve ao longo das perto de oito horas de concertos. Toda a gente, dos músicos, em constante circulação pela sala, ao “staff” da editora e ao público, estava radiante.

Segunda, 16: Bobby Conn, The Sea and Cake, Tortoise

Arrancou com o “entertainer” Bobby Conn, que nos discos goza de maneira séria e gosta que lhe chamem anticristo, mas que no Garage optou por uma sessão de karaoke, cantando e tocando guitarra elétrica sobre acompanhamento pré-gravado. Em fato de treino vermelho e com o rosto maquihado, Conn fez de “crooner” marado.
Possuidor de inegáveis talentos vocais, usou-os para mimar o número de David Bowie ou para acertar as notas com o rock’n’roll ou sobre o absurdo de batidas disco/funk. Também deixou escorregar as calças para mostrar um bocado do rabo, dando assim a conhecer o seu talento musical sob outro ângulo. A arte é isto mesmo. Podemos perfeitamente imaginar Charlie Parker a desapertar a braguilha durante um solo de saxofone alto ou Maria Callas a levantar o vestido num “fortissimo” mais sensual, como ações enriquecedoras do génio artístico.
Os Sea and Cake não mostraram o rabo mas tornaram claro que ainda lhes falta pedalar muito para conferir a necessária fluência a uma música que tenta viver de subtilezas e recuperar o swing, por vezes “canterburyano”, de uns Caravan ou Gilgamesh, mas sofre do primarismo instrumental dos seus intérpretes. Rob Mazurek bem tenta dar-se ares de “jazzman”, mas a noção que tem de jazz esgota-se na estridência e na articulação de fraseados estafados que rapidamente descambam em “clichés”.
A fechar a primeira noite de arrepios, os Tortoise, de regresso ao Garage, confirmaram o estatuto entretanto adquirido de estrelas do pós-rock. Entraram em força e provocação, com uma amálgama de “noise” armadilhado, mas rapidamente a música, maioritariamente retirada do último álbum, “Standards”, condescendeu com um easy-listening camuflado que tanto se enrolava no “groove” dos Stereolab como roçava a indolência do “lounge” com pinta de intelectual.
Mal vai o pós-rock quando se contenta em pavonear-se numa jaula de cristal...

Terça, 17: Chicago Underground Duo, Radian, Eleventh Dream Day, Trans AM

Foi melhor. Menos “pós”, mais rock e anti-rock.
Primeiros em palco: Chicago Underground Duo. De novo Mazurek a apitar, desta feita apoiado na bateria e nas ondulações de vibrafone de Chad Taylor. “Synesthesia” e “Axis and Alignment” são álbuns saborosos de timbres e texturas requintadas. Ao vivo é mais simples mas não menos agradável. Em apenas três temas, Chad teve oportunidade de construir uma capela de percussões à maneira dos Art Ensemble of Chicago e Mazurek de disparar uma programação rítmica “roubada” a “Zero Set”, álbum de Dieter Moebius, Conny Plank e Manu Neumeier.
Seguiram-se os austríacos Radian com o melhor concerto da mostra. Obviamente inspirados no nevoeiro tóxico dos This Heat, o trio concentrou-se na música do novo álbum, “Rec.Extern”, sem facilitar. As frequências maceradas dos Cabaret Voltaire, o industrialismo de “Live in der Fabrik”, dos Cluster, e o tribalismo dos Can obscuros de “Tago Mago” e “Limited Edition”, assomaram como influências perfeitamente assimiladas numa visão claustrofóbica e venenosa de rock — ou anti-rock — eletrónico, elaborado sobre um jogo de tensões e ameaças. Uma lição de integridade.
Rock, a atirar para o punk, foi a fórmula servida pelos Eleventh Dream Day. Dose reforçada de adrenalina que no último tema deu uma reviravolta, através de uma versão esfarrapada de “I’ll come running”, de Brian Eno, do álbum “Another Green World”.
Esperava-se dos Trans AM, a quem coube o encerramento de “Looking for a Thrill”, a apoteose e o apocalipse. Mas os rapazes estão noutra onda (estão sempre noutra onda...).
Oscilantes entre o rock avassalador, que é o que fazem melhor, de “Red Line”, e a atual vaga de trejeitos “eighties” (começam a tornar-se insuportáveis as frases ordinárias de sintetizador copiadas dos Tubeway Army e dos Human League), tropeçaram na “soul” sem alma, chamaram para o palco, em dois temas, a corneta de Mazurek, fizeram o truque das vozes “vocoderizadas” e, num lampejo final, acenderam piras de fogo a acompanhar um solo de bateria de Sebastian Thomson — um castigador de tambores portentoso e sustentáculo principal da torre Trans AM. Melhor momento: um vulcão escancarado por duas baterias, guitarras em fúria, e a mesma dança primitiva dos 23 Skidoo.
Funcionando como separador, foi possível assistir à projeção do filme “Looking for a Thrill”, composto por uma sequência de monólogos de artistas da editora. Num deles, Thurston Moore, dos Sonic Youth, recordou um dos primeiros concertos a que assistiu em Nova Iorque: dos Suicide, e da sua procissão de atrocidades. Teve medo, confessou. Outros tempos...

EM RESUMO
O melhor O Paradise Garage viveu em apoteose a celebração e decadência do pós-rock.
No meio das estrelas Tortoise e Trans AM, foram os obscuros Radian a fazer a diferença

30/09/2014

As metamorfoses da pós-tartaruga [Tortoise]



Y 30|MARÇO|2001
escolhas|ao vivo

as metamorfose da pós-tartaruga

“That’s me, me, the president of the junta! I am the president of the junta!” (“Eu, eu é que sou o presidente da junta!”, gritam em coro John McEntire e Jim O’Rourke. A junta é o pós-rock, género musical algo estafado nos dias que correm, mas cuja liderança era de primordial importância, há cinco, seis anos atrás. Eles são de facto os dois presidentes da junta do pós-rock de Chicago.
            Mas, perguntarão vocês, porquê falar aqui de política regional? Fácil: porque um destes autarcas, John McEntire, visita-nos amanhã, na qualidade de dirigente dos Tortoise, uma das mais importantes instituições musicais de Chicago e uma das que mais e melhor contribuiu para conferir credibilidade ao pór-rock. Tortoise pela primeira vez em Portugal é um acontecimento. Ainda para mais numa altura em que mal pousou nos escaparates nacionais o novo álbum “Standards”, capítulo mais recente de uma aventura sónica que não cessa de surpreender.
            Os Tortoise (“tartaruga”, designação inspirada em John Fahey, uma dos heróis da banda, recentemente falecido, cujo gosto por este réptil constituía uma das suas muitas idiossincrasias…), expoente da cena alternativa de Chicago, formaram-se – surpresa – em… Chicago, mais concretamente no Illinois, em 1990. Quatro anos após a sua fundação, o álbum de estreia, “Tortoise”, juntamente com outros álbuns de bandas como os Rome, Trans AM, Slint ou Him, alertou a crítica e o público para a existência de um movimento ao qual foi colado o rótulo “pós-rock” (“post rock”). Na prática, queria dizer: rock que recusava sê-lo, ou que queria levá-lo para fora dos seus parâmetros tradicionais, para tal recorrendo e reformulando influências, passadas ou contemporâneas, como o krautrock, a cena de Canterbury, progressivo, jazz, easy-listening, art-rock e até… bem camuflado, o rock.
            Mas “Tortoise” não fazia prever a dimensão que viria a ter o álbum seguinte, “Millions now Living Will never Die” (existe um disco intermédio de remisturas, de 1995, nunca distribuído em Portugal, “Rhythms, Resolutions & Clusters”). De imediato, o álbum ganhou um estatuto de culto, muito por culpa de um tema, “Djed”, que não se envergonhava de permanecer a girar durante cerca de 20 minutos, recuperando sem traumas a tradição das faixas longas, quer do krautrock, quer da música progressiva, dos anos 70. “Djed” é uma experiência sem paralelo nos domínios da experimentação, abrindo ao então emergente pós-rock novas pistas, tanto a nível estético, como ao das técnicas de estúdio. Muita desta liberdade criativa – é forçoso reconhecê-lo – deve-se ao visionarismo de dois dos produtores, Steve Albini e… Jim O’Rourke, precisamente, o outro presidente da junta, com quem McEntire trabalhara nos Gastr del Sol.
            Quem, hoje, quiser saber os caminhos que em 1996 se abriam ao pós-rock, deve consultar “Millions now Living Will never Die”. Os Tortoise tinha-se tornado a ponte que ligava a tradição à inovação. E uma referência incontornável da música de Chicago que deste modo voltava a fazer frente a Nova Iorque, sede desde a década passada da tentacular cena “downtown”, na liderança das “novas músicas” americanas. Os Tortoise ficavam paralelamente imortalizados numa novela de Timothy White, “Low Fidelity”, onde se narra a viagem de um fanático a Londres para comprar todas as edições discográficas do grupo.
            Depois de novo disco de remisturas, “Remixed”, o passo seguinte, “TNT”, indica uma viragem musical de 180º. O som torna-se difuso, menos focado, em abstrações que sugerem improvisação, novas investigações de estúdio e experimentação nas franjas do jazz. O que não surpreende se atendermos a que um dos músicos, Jeff Parker, faz parte da AACM (Association for the Advancement of Creative Musicians) e que os Tortoise mantêm relações com outras duas bandas importantes de Chicago, os Isotope 217º e os Chicago Underground Orchestra, ambas do universo do jazz alternativo.
            O novo “Standards” volta a surpreender. É o “disco punk” dos Tortoise. O pós-rock afastara-se tanto do rock que, no fim, fechando um ciclo, encontra… o rock. Mas um rock que perdeu a inocência para se assumir como criação mutante. Ainda um álbum sobre a América, onde também a inocência cedeu o lugar, definitivamente, ao império do espetáculo.
            A mais recente edição da série “Red Hot”, “Red Hot + Indigo”, dedicada a Duke Ellington, conta com a colaboração do grupo de Chicago, numa versão do tema “Didjeridoo”.
            Na primeira parte, atuam os The Sea and Cake, um dos múltiplos projetos paralelos de John McEntire (também autor, a solo, da banda sonora de “Reach the Rock”). Nostalgia, memórias de Canterbury, pop e bossa-nova, numa música de nuances suaves que pode ser ouvida em disco no novo “Oui”.


TORTOISE
(1ª parte: The Sea and Cake)
Lisboa, Paradise Garage, sábado, dia 31.
Tel. 213544452. Às 22h. Bilhetes a 3000$00

21/09/2014

Tortoise - Standards + Labradford - Fixed::Context



Y 2|MARÇO|2001
escolhas|discos

TORTOISE
Standards
Thrill Jockey, distri. Zona Música
7|10

LABRADFORD
Fixed::Context
Blast First, distri. Zona Música
7|10

Depois do “big bang”

Tortoise e Labradford correspondem a dois estágios distintos de evolução do pós-rock. “Standards” será, segundo os próprios, o “disco punk” dos Tortoise. O grupo voltou-se para uma via energética que estava ausente no anterior “TNT”. Se este era uma montagem de módulos sonoros em permanente flutuação, oo novo “Standards” sujou, por um lado, o som, ao mesmo tempo que o ar de “inacabado” surge agora imbuído de uma carga libertária. O lado ideológico da crítica a alguns dos sinais da América pós-Clinton, servirão de caução a uma música que alterna achados sonoros com “jams” inconsequentes. Eletrónica manipulada com mestria, devaneios jazzísticos, um pouco de “lounge” e “film music” e constantes truques de ilusionismo formam uma argamassa em ebulição, sem que este retorno ao “big bang” faça esquecer a galáxia em expansão que continua a ser “Millions now Living will never Die”. Os Labradford, esses, há muito que se afastaram do rock. Desde “Mi Media Naranja” que a banda se vem embrenhando numa música “espacial” que tanto evoca bandas da 4AD – Dif Juz ou This Mortal Coil –, como Pink Floyd e Brian Eno. “Fixed::Context” cria ambientes talvez menos suscetíveis de aprofundamento do que o anterior “E Luxo So”, embora imbuídos de forte pendor hipnótico. Em “Twenty”, pulsações no limite dos infra-sons sustentam uma frase de guitarra eterna repescada de “Wish you were here”, dos Floyd. “Up to pizmo” e “David” vivem do mesmo tipo de tecituras de guitarra criadas por Vini Reilly nos Durutti Column, e “Wien” fecha em voo silencioso de baixo, sintetizador e piano elétrico sobre as regiões de “Apollo Atmospheres” de Eno. Música para sonhar, alguns furos acima do postal retro dos Sigur Rós.