Sons
19 de Setembro 1997
19 de Setembro 1997
MUNDO CÃO
Fuschimuschi Math-Ice
Short Stories (9)
Maniffature Criminali, distri. Ananana
O que se pode fazer com um gravador de quatro pistas e sem “overdubs”? No caso do alemão residente em Düsseldorf Fuschimuschi Math-Ice, tudo. Ele fica-se por uma intenção mais modesta: resgatar a música pop. Para mais informações, pede para escreverem à mãe dele. Passemos aos factos. Os factos demonstram, por ínvios caminhos, uma evidência: “Short Stories” é um dos grandes discos do ano. Drum’n’bass, trip hop, scratch, pop, experimentação livre, humor devastador, numa combinação órfã de compromissos, fazem-nos abrir a boca de espanto. Procurem Arthur Russell, Steve Fisk, Negativland, R. Stevie Moore, Holger Hiller. Por mais longe que tenham ido, Fuschimuschi vai ainda mais longe.
“Short Stories” inclui uma sessão de “scratch” com o forro de umas calças. Amantes latinos dissertam sobre queijo mozzarella. A teoria da comunicação minimalista. Filigranas de metal e luzes, fortes e pequenas. Um bongo e mais nada. Bem-vindos à música do espaço arrumada em gavetas. Easy-listening difícil de ouvir. Tive um gato que fazia “au” quando se tocava o “mi” de uma marimba. Trip hop é hop trip. Só trip. Samplar heavy metal faz mal? “De súbito, uma frase italiana veio-me à cabeça: ‘Un panello com scritta fise.’” E “I viel gut”? “Não há mais nenhuma frase, como esta, em toda a história da pop.” “Short Stories” é “música para o futuro e música para o passado”. Criancinhas brincam no pátio. After Dinner. “A música foi o meu primeiro sorriso.” Hermeto Pascoal faz música com galinhas. Fuschimuschi faz música com conceitos, a festa de Babette da hermenêutica do absurdo, enquanto ontologia do cosmo. “A música é o meu único divertimento.” E o nosso. Fuschimuschi Math-Ice, como ele mesmo se define, é um “voyeur”.
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