20|JUNHO|2003 Y
discos|roteiro
MAFALDA ARNAUTH
Encantamento
Virgin,
distri. EMI-VC
9|10
No
meio das divas, semi-divas e candidatas a divas que vão proliferando no “novo
fado”, Mafalda Arnauth continua na dianteira e a dar cartas. Antes de mais e
antes que nos esqueçamos: “Encantamento” é o melhor disco de sempre da cantora
e um dos melhores do fado, “tout court”, editados nos últimos anos. Mafalda
está a cantar como nunca, sublimemente, o que se deve em parte às aulas de
canto recebidas, que resultaram num domínio absoluto da respiração e da projeção,
aliviando o “stress” e a pressão, enterrando o medo. Dizendo de outra forma:
Mafalda canta agora como quem respira. Como quem vestiu, sem agasalhos, a alma
inteira. As ornamentações e o rubato fluem com a naturalidade de uma...vamos
mesmo ter que dizer o nome...Amália... embora nunca a originalidade de um canto
e uma sensibilidade poética próprios se revelassem, como aqui, com a
luminosidade – aquela onde a Beleza se cruza com a mágoa – que ressalta de fados
como “As fontes”, “Sem limite”, “Da palma da minha mão” ou “Canção”. “Irei
beber a luz e o amanhecer, irei beber a voz dessa promessa, que às vezes, como
um voo, me atravessa e nela, cumprirei todo o meu ser”. As palavras são de
Sophia de Mello Breyner, em “As fontes”. Mafalda Arnauth fê-las suas e cumpre a
promessa.
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