29/01/2020

Mogwai, felizes como esqueletos


Y 30|JANEIRO|2004
roteiro|ao vivo

mogwai
felizes como esqueletos

Para os Mogwai o termo pós-rock (ou “cosmic post-rock”, como os descreve o All Music Guide) continua a fazer sentido, como o demonstra o seu último álbum, editado no ano passado, “Happy Songs for Happy People”. As linhas metronómicas de baixo e bateria que regra geral definem esta corrente estão presentes, a par de quadros abstratos servindo de cenário a experiências de música eletrónica/ambiental como “Moses? I amn’t”, tão árida e profunda como os desertos noturnos dos Stars of the Lid, e “Stop coming to my house”, que não esconde as mesmas pretensões épicas dos gybe!. “Kids will be skeletons” balança em sintetizadores longínquos e sonhadores diretamente inspirados na música de Brian Eno de “Another Green World” ou, mais tardiamente, nos Labradford. O tema evolui em crescendo (leia-se, aumentando de volume e a quantidade de instrumentos ou “takes”), estratégia que quase sempre resulta satisfatória, ainda que, por norma, a um nível meramente superficial. “Boring machines disturbs sleep” acumula “feedback” residual na linha dos Main mas nada no álbum consegue ser notável, ainda que a combinação de piano obsessivo e imagens cristalinas de sintetizador, em “I know you are but what am I?”, consigam construir algo mais forte e consistente naquela que é, de longe, a melhor faixa do disco – ou, pelo menos, a que condensa e mantém um estado de espírito mais duradoiro.
            Mas as canções de “Happy Songs for Happy People” não são tão felizes como isso (o pós-rock raramente o foi) e os Mogwai (que dia 5 e dia 6 se apresentam em Lisboa e Gaia) como tantas bandas do género que ficaram pelo caminho ou se mudaram para diferentes latitudes, pecam pelo habitual: a música parece, amiúde, incompleta, sugerindo como uma base ou os rudimentos de algo com mais corpo que ficou por gravar. Como se alguém se tivesse esquecido de a completar. Ficam esqueletos e formas geométricas com algum interesse, mas o mundo de sons fantásticos que mesmo algum pós-rock produziu está para além das possibilidades da banda de Glasgow. Ao vivo é de esperar um reforço de energia, mas “cósmico” é, definitivamente, um termo que não assenta bem aos Mogwai.

MOGWAI
LISBOA|Paradise Garage
R. João de Oliveira Miguéis, 38. 5ª, 5, às 21h30. (portas abrem às 21h) Tel.: 213243400. Bilhetes: €19.
1ª parte: Malcom Middleton (Arab Strap).
GAIA|Hard Club
6ª, 6, às 22h, €19
1ª parte: Malcom Middleton (Arab Strap).

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