22 de Maio 1998
DISCOS - POP ROCK
Arto Lindsay
Noon Chill (7)
2xCD For Life/Ryko, distri. MVM
Mais ainda do que em “O Corpo Sutil” e “Mundo Civilizado”, “Noon Chill” não é um álbum construído sobre a bossa-nova, mas antes em torno da bossa-nova. Não se trata então de trabalhar por dentro este género musical com origem no Rio de Janeiro, mas sim de moldar a sua essência, a sua cor espiritual, também a sua doçura, a um olhar e a uma estética que – pese embora toda a paixão e relação de Arto Lindsay com o Brasil – pertencem a um nova-iorquino. “Abstract hip-hop” e “tropically altered grooves” são duas expressões já usadas para definir esta música de subtis modulações rítmicas e harmónicas, adaptáveis respectivamente a temas como “Blue eye shadow” ou “Anything”, puro “drum ‘n’ bass”. O aparente desequilíbrio, que na bossa se faz sentir na dialéctica entre o estado de tristeza do indivíduo e a beleza soalheira da paisagem exterior, transfere-o Arto Lindsay para a relação entre a simplicidade da melodia principal e a complexidade dos arranjos. Cada canção de “Noon Chill”, se despida de todos os adornos instrumentais, reduz-se a um fio (também o fio de voz de Lindsay), por detrás do qual pulsa uma floresta de entidades vivas. Um esquema não afastado de todo do utilizado pelos Smoke City, com a diferença de que o que nestes se reduz a uma frivolidade ambiental e à presença carismática da voz de Nina Miranda, em Arto Lindsay esconde-se em múltiplos níveis de percepção sonora. Escute-se um tema como “Anything” para se perceber as semelhanças e diferenças. O segundo CD, intitulado “Reentry”, reúne cinco temas anteriormente compilados num EP de edição japonesa, quatro dos quais com novas remisturas, incluindo um exercício de “noise” (“Channel 17”) que refaz o universo de obscuridade criado por Arto em dueto com Peter Scherer, em “Pretty Ugly”.
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