28/01/2016

Estrada sem retorno [Lee Ranaldo]

Y 1|FEVEREIRO|2002
capa|música

lee ranaldo
estrada sem retorno

Para dar cabo da cabeça e dos nervos, não há nada melhor do que escutar um álbum em vinil de Lee Ranaldo, intitulado “From Here to Infinity” (1987), em que, seja qual for o ponto onde se faz descer a agulha sobre o disco, esta fica bloqueada, ficando a girar eternamente sobre a mesma espira (“locked grooves”). Impossível ser mais minimalista e repetitivo.
            É a faceta mais radical do guitarrista e compositor dos Sonic Youth – por sua vez, uma das bandas de rock americanas mais dadas à experimentação, como está patente no álbum “Goodbye 20th Century”, com versões de compositores contemporâneos como Cornelius Cardew, John Cage, Christian Wolff, Georg Maciuna, Pauline Oliveros e Steve Reich, gravado pelos Sonic Youth no seu próprio selo Syr (“Sonic Youth Records”). Em Serralves (e, uma semana mais tarde, a 15 e 16, na Gulbenkian, em Lisboa) não se prevê que Ranaldo vá tão longe. Mas nunca fiando. Onde a improvisação leva noa se sabe se existe estrada de regresso.
            O ponto de partida para ele e o português Rafael Toral discorrerem musicalmente é a exposição de Robert Smithson e Bernd & Hila Becher, “Field Trips/Viagens de Campo”, patente no Museu de Serralves até dia 3 de Março, sabendo-se da influência que o primeiro exerce sobre o trabalho do guitarrista americano.
            A improvisação servirá de guia através, não só do diálogo entre os dois guitarristas, como da relação estabelecida entre eles e as imagens criadas pela artista multimédia Leah Singer, e o “Video Caleidoscópio”, de João Paulo Feliciano, ambos manipulados em tempo real.
            Lee Ranaldo, além de membro-fundador, guitarrista, compositor e letrista dos Sonic Youth, colaborou com o Wagner das guitarras elétricas, Glenn Branca, o papa do pós-rock Jim O’Rourke, os Master Musicians of Jajouka e o baterista de jazz William Hooker.Gravou vários álbuns a solo de guitarra e de “spoken word”, de que é exemplo o recente “Amarillo Ramp”. Publicou livros de poesia. De viagem. “Road Movies”. À maneira de Ginsberg e Kerouac, profetas da “beat generation” dos anos 60. “Eric’s Trip”, “Pipeline/Kill Time” e “Mote” são alguns dos temas mais conhecidos escritos por si para os Sonic Youth. “Put Moore Bllod into the Music”, título de um dos filmes em que participou como ator, é uma legenda adequada à sua atitude perante a arte.

LEE RANALDO + RAFAEL TORAL
Porto Auditório de Serralves. Tel: 22 6156584.
sáb., 9, às 22h. Bilhetes a 12,50 euros


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