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1|FEVEREIRO|2002
capa|música
30 bandas sonoras incontornáveis
Lynch não prescinde de Badalamenti,
Hitchcock não dispensava Herrmann, Fellini fazia o mesmo com Nino Rota e Leone
com Morricone
(artigo coletivo em que FM assina
os seguintes textos)
as
virgens suicidas
Air 1999
Atire-se para trás das costas a influência dos
Pink Floyd. Não será por causa disso que a música da dupla francesa para esta
história de poesia e morte deixará de exercer o seu fascínio. “As Virgens
Suicidas” é diferente, para melhor, de todos os álbuns dos Air. De fora ficaram
a superficialidade, o kitsch e o plástico. Ocuparam o seu lugar a tristeza e o
veneno encantatório, forrados a vibrafones, pianos e saxofones de cemitério. É
o safari lunar, o outro lado do lado escuro da lua.
down
by law
John Lurie 1986
É a banda sonora que melhor concilia o cinema
anti-espetáculo de Jim Jarmusch com o jazz de câmara do saxofonista dos Lounge
Lizards. Não é um improvisador sanguíneo, mas um músico para quem o rigor,
ascético, da forma é a base em que se apoiam humor e diversão. “Down by Law”,
porém, mais perto da nostalgia europeísta de um Benjamin Lew ou de uns
Tuxedomoon do que de um despacho “downtown”, ri-se pouco, soando a um
comentário à distância, das imagens. Ou uma outra técnica, musical, em
“stacatto”, de iludir o tempo e o movimento.
paris,
texas
Ry Cooder 1984
A ligação entre a paisagem desolada que abre o
filme e a “slide guitar” de Ry Cooder constituem uma daquelas simbioses
determinantes na criação de um ambiente. Espaço e luz espraiam-se numa
languidez que evoca a matriz Morricone/Leone de “O Bom, o Mau e o Vilão”,
antítese contemplativa do drama que se seguirá. Eis o paraíso original,
anterior a qualquer ação, paixão e violência humanas. A partitura de Cooder
segue devagar o percurso de descoberta do protagonista, numa viagem de
reconquista do passado, que passa pela música mariachi e o despojamento, para,
finalmente, regressar à melodia original e à pureza do deserto.
o
contrato
Michael
Nyman 1982
Foi o primeiro labirinto lançado por Peter
Greenaway ao cinema. Foi o passo inicial de uma colaboração com o compositor
inglês Michael Nyman, como Greenaway um apaixonado por simetrias, matemática e
jogos. Casamento perfeito. Ao requinte visual, no limite da obsessão, e ao tão
enfeitiçante trabalho de manipulação mental do cineasta, respondeu Nyman com um
não menos obsessivo mantra de armadilhas harmónicas, onde o romantismo, a
herança de Purcell, o minimalismo e a música de câmara convergem na mesma
demente perfeição de um jardim inglês.
india
song
Carlos
D’Alessio 1975
“India Song”, a canção com o mesmo título
incluída na BSO de um dos filmes mais angustiantes de Marguerite Duras, é uma
melodia de efeitos emocionais devastadores. O fraseado do piano não poderia ser
mais simples, mas, como numa melopeia rosa-cruz de Satie, é uma música que
parece brotar de um território sagrado, inundada de sapiência e melancolia,
povoada por fantasmas de outras vidas. Alessio compôs o prodígio, mas seria
Jeanne Moreau, numa pungente versão vocalizada deste tema, a transformar “India
song” numa decantação húmida da alma. O que era espectro começou a sangrar.
1 comentário:
Roxanne M Vetter Laub?
Asher Laub Music Video
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