WORLD
No mar de Lugris
Luar na Lubre
Cabo do Mundo (8)
WEA, distri. Warner Music
A par dos Milladoiro os Luar na Lubre são hoje a banda galega cujo som consegue juntar um apelo universalista ao apego pelas raízes. No caso dos Luar na Lubre a integração no catálogo de uma multinacional como a Warner, coincidente com a edição do anterior “Plenilunio”, teve como consequência uma abertura do som e a sofisticação de uma produção feita a pensar no mercado internacional da “world music”. O novo “Cabo do Mundo”, curiosamente, investe numa direcção diferente da do seu antecessor. Ainda que se mantenha o cuidado posto na produção, é notória a atenção prestada pelo grupo à composição e à execução instrumental, que neste álbum atingem os níveis mais elevados de sempre na carreira dos Luar na Lubre. Nunca como em “Cabo do Mundo” soou tão límpida e carregada de emoção a voz da cantora Rosa Cédron – que num tema como “Devanceiros”, curiosamente, faz lembrar Uxia e em “Cantiga de berce” cultiva o folk progressivo britânico de bandas como Mellow Candle, Trader Horne e Tudor Lodge – nem tão cheias de coisas para dizer, a gaita-de-foles e a sanfona do “maestro” Bieito Romero. “Cabo do Mundo”, dedicado ao pintor galego Urbano Lugris (autor de uma obra surrealista à maneira de Magritte ou De Chirico que versou sempre a Galiza céltica, em odes ao verde das florestas a ao azul do mar) seria o melhor álbum de sempre dos Luar na Lubre se com ele navegássemos apenas por temas como o fabuloso “Nau”, verdadeiro hino à Galiza céltica, e apesar da influência do amigo de longa data, Mike Oldfield, se fazer sentir em arranjos como os de “Crunia:Maris”, com tubular bells e tudo… Infelizmente os Luar na Lubre não conseguiram ou quiseram resistir ao mais velho pecado da música galega, a “irlandização”, ou melhor, neste caso a “anglicização”, como uma versão de “Scarborough fair” (a balada mil vezes tocada por bandas folk principiantes depois de ter sido popularizada por Simon & Garfunkel) e, logo a seguir “Canteixeire”, uma recuperação do tradicional “John Barleycorn” com arranjo idêntico ao de John Renbourn em “A Maid in Bedlam”, aqui apesar de tudo salvo pelo desempenho do convidado Erick Riggler, nas “uillean pipes”. Um álbum apaixonante e apaixonado pelo mar, como respira na pintura de Lugris, autor de todas as imagens do disco.
Sem comentários:
Enviar um comentário