Sons
3 de Dezembro 1999
POP ROCK
Orquestra de Vila Chã
Orchester 33 1/3
Maschine Brennt (8)
Charizma, distri. Ananana
B. Fleischmann
Pop Loops for Breakfast (8)
Charizma, distri. Ananana
Fennesz
Plus Forty Seven Degrees 56’ 37’’ Minus Sixteen Degrees 51’ 08’’ (8)
Touch, distri. Matéria Prima
Não lembraria ao diabo começar um disco com um tema de 41 minutos mas foi isso mesmo que fizeram os austríacos Orchester 33 1/3 em “Maschine Brennt”, digno sucessor do álbum homónimo de estreia, quanto a nós um dos melhores trabalhos discográficos de 1997. O longo tema em questão, que dá título ao álbum, é uma homenagem ao escritor Max Brand, pseudónimo de Frederick Faust, autor de centenas de “best-sellers” e da personagem Dr. Kildare. Passam-se coisas inquietantes nesta longa viagem pela música da orquestra mas nem sempre com aquela dose de interesse e acutilância que a dimensão do tema justificaria. Um pavimento de electrónica ambiental/industrial sustenta súbitas erupções dos metais que longe de quaisquer heresias “free” aparecem aqui completamente subjugados a um meticuloso trabalho de escrita que os coloca entre as progressões harmónicas dos Urban Sax e marchas funerárias de jazz de New Orleans. Há ainda sequências de ruído de máquinas em funcionamento e interlúdios vocais completando um todo algo descosido que ora se eleva aos cumes atingidos pelos Art Zoyd em “Berlin” ora divaga durante largos minutos sem destino por um pântano de detritos electrónicos onde não se vislumbram quaisquer formas de vida. Um trabalho de fôlego, sem dúvida, que procura romper com os métodos prévios instaurados pela orquestra mas que acaba por soçobrar perante a desmesura de propósitos. As restantes seis faixas de “Maschine Brennt” incluem um terramoto de baixas frequências pelo que parece ser um sax barítono tratado electronicamente, em “Daily plasma”, uma incursão não menos telúrica no “hip hop”, em “Lower ass side mix”, uma curiosa intersecção de efeitos vocais e truncagens sonoras em “Review” e, a fechar, um solo de piano na gaveta, “Reise nach Berlin”. Longe de ser uma obra-prima, “Maschine Brennt”, não mancha porém a reputação daquela que foi uma das bandas mais originais a emergir da nova cena electrónica europeia nos últimos anos.
Christof Kurzmann e Christian Fennesz eram os dois maestros da Orchester 33 1/3. Extinto o projecto colectivo que integrava mais de uma dúzia de elementos, gravaram cada um a sua estreia a solo. O primeiro fundou a editora Charizma e escudou-se no pseudónimo B. Fleischmann para rubricar “Pop Loops for Breakfast”, um delicioso álbum de electrónica romântica na linha de “Beautronics” dos Isan, obviamente inspirado nas duas referências germânicas mais citadas nos últimos tempos: Cluster e Pyrolator. Puro deleite auditivo.
Já Christian Fennesz – que há alguns meses actuou no Lux-Frágil e se prepara para produzir o novo álbum dos portugueses Supernova – optou por uma obra mais intelectual, ainda que também no seu caso exclusivamente electrónica. Mas enquanto o seu ex-colega se revela sensível à melodia e com uma atenção aos timbres mais sedutores criados pelos samplers e sintetizadores, Fennesz programou o seu universo de bits segundo coordenadas menos evidentes e a exigirem uma dose maior de disponibilidade. Sem referências aparentes que permitam balizar os limites deste lugar onde decorrem mil fenómenos bizarros, é passo a passo e com as antenas em regime de captação máxima que se caminha até ao ponto exacto que Fennesz traçou no seu mapa pessoal. Diluviano, misterioso, por vezes hermético, “Plus 47º 56’ 3’’ Minus 16º 51’ 0’’” é uma emissão radiofónica emitida de um planeta nos confins da galáxia e recebida em segredo na estação ferroviária deserta ilustrada pela capa. Em Vila Chã, algures no Norte de Portugal.
Maschine Brennt (8)
Charizma, distri. Ananana
B. Fleischmann
Pop Loops for Breakfast (8)
Charizma, distri. Ananana
Fennesz
Plus Forty Seven Degrees 56’ 37’’ Minus Sixteen Degrees 51’ 08’’ (8)
Touch, distri. Matéria Prima
Não lembraria ao diabo começar um disco com um tema de 41 minutos mas foi isso mesmo que fizeram os austríacos Orchester 33 1/3 em “Maschine Brennt”, digno sucessor do álbum homónimo de estreia, quanto a nós um dos melhores trabalhos discográficos de 1997. O longo tema em questão, que dá título ao álbum, é uma homenagem ao escritor Max Brand, pseudónimo de Frederick Faust, autor de centenas de “best-sellers” e da personagem Dr. Kildare. Passam-se coisas inquietantes nesta longa viagem pela música da orquestra mas nem sempre com aquela dose de interesse e acutilância que a dimensão do tema justificaria. Um pavimento de electrónica ambiental/industrial sustenta súbitas erupções dos metais que longe de quaisquer heresias “free” aparecem aqui completamente subjugados a um meticuloso trabalho de escrita que os coloca entre as progressões harmónicas dos Urban Sax e marchas funerárias de jazz de New Orleans. Há ainda sequências de ruído de máquinas em funcionamento e interlúdios vocais completando um todo algo descosido que ora se eleva aos cumes atingidos pelos Art Zoyd em “Berlin” ora divaga durante largos minutos sem destino por um pântano de detritos electrónicos onde não se vislumbram quaisquer formas de vida. Um trabalho de fôlego, sem dúvida, que procura romper com os métodos prévios instaurados pela orquestra mas que acaba por soçobrar perante a desmesura de propósitos. As restantes seis faixas de “Maschine Brennt” incluem um terramoto de baixas frequências pelo que parece ser um sax barítono tratado electronicamente, em “Daily plasma”, uma incursão não menos telúrica no “hip hop”, em “Lower ass side mix”, uma curiosa intersecção de efeitos vocais e truncagens sonoras em “Review” e, a fechar, um solo de piano na gaveta, “Reise nach Berlin”. Longe de ser uma obra-prima, “Maschine Brennt”, não mancha porém a reputação daquela que foi uma das bandas mais originais a emergir da nova cena electrónica europeia nos últimos anos.
Christof Kurzmann e Christian Fennesz eram os dois maestros da Orchester 33 1/3. Extinto o projecto colectivo que integrava mais de uma dúzia de elementos, gravaram cada um a sua estreia a solo. O primeiro fundou a editora Charizma e escudou-se no pseudónimo B. Fleischmann para rubricar “Pop Loops for Breakfast”, um delicioso álbum de electrónica romântica na linha de “Beautronics” dos Isan, obviamente inspirado nas duas referências germânicas mais citadas nos últimos tempos: Cluster e Pyrolator. Puro deleite auditivo.
Já Christian Fennesz – que há alguns meses actuou no Lux-Frágil e se prepara para produzir o novo álbum dos portugueses Supernova – optou por uma obra mais intelectual, ainda que também no seu caso exclusivamente electrónica. Mas enquanto o seu ex-colega se revela sensível à melodia e com uma atenção aos timbres mais sedutores criados pelos samplers e sintetizadores, Fennesz programou o seu universo de bits segundo coordenadas menos evidentes e a exigirem uma dose maior de disponibilidade. Sem referências aparentes que permitam balizar os limites deste lugar onde decorrem mil fenómenos bizarros, é passo a passo e com as antenas em regime de captação máxima que se caminha até ao ponto exacto que Fennesz traçou no seu mapa pessoal. Diluviano, misterioso, por vezes hermético, “Plus 47º 56’ 3’’ Minus 16º 51’ 0’’” é uma emissão radiofónica emitida de um planeta nos confins da galáxia e recebida em segredo na estação ferroviária deserta ilustrada pela capa. Em Vila Chã, algures no Norte de Portugal.
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