Sons
14 de Janeiro 2000
14 de Janeiro 2000
Música electrónica portuguesa em análise
O ovo da serpente
Christoph Heeman adorou o disco de Nuno Canavarro, prontificando-se a gravar mais material deste músico português. Por cá é mais difícil. Fizemos o retrato do estado actual da música electrónica no nosso país, convidando os músicos a pronunciarem-se.
Editado pela Ama Romanta, em 1988, em paralelo com “Música de Baixa Fidelidade”, de Tó Zé Ferreira, “Plux Quba” acabou por ser reeditado em CD no ano passado, mas pela editora norte-americana Moikai, de Jim O’Rourke, um dos gurus do pós-rock. Acrescente-se ainda o facto de Christoph Heeman e Jan Saint-Werner (Mouse on Mars, Microstoria) admitirem a influência de “Plux Quba”.
Mas, como santos da casa não fazem milagres, muito menos se fizerem música electrónica e ainda menos se viverem em Portugal, por cá, este e outros trabalhos são sistematicamente ignorados e mal apoiados pelos “media” e recusados pelas grandes editoras. Aos poucos, contudo, criou-se em Portugal um circuito paralelo, no qual tanto a música electrónica como outras rotuladas de “alternativas” conquistaram um pequeno mas merecido espaço. Editoras/distribuidoras como a Ananana, a Áudeo e a Symbiose arriscaram produzir e editar álbuns nacionais que escapam aos esquemas do “mainstream”.
É verdade que a música electrónica não tem grandes tradições em Portugal, se exceptuarmos obras de compositores eruditos como Jorge Peixinho, Constança Capdeville ou Emmanuel Nunes. Na música popular, no auge do rock progressivo, foi preciso esperar que o actual maestro Miguel Graça Moura trouxesse de Londres o primeiro sintetizador Moog ouvido em Portugal. O então teclista dos Pop Five Music Incorporated formou, especialmente para o efeito, em honra do aparelho, os Smoog, cuja estreia ao vivo teve lugar no Coliseu dos Recreios em Lisboa, na primeira parte de um concerto de B. B. King. Depois disso os músicos portugueses não se interessaram muito pela tecnologia electrónica então emergente. Os Moogs, A.R.P. e Korgs eram caros, era preciso mandar vir de fora, e saía mais em conta adquirir um bom órgão Hammond ou Farfisa ou um piano eléctrico Fender rhodes ou RMI…
Os Anar Band, de Jorge Lima Barreto e Rui Reininho, foram outros dos pioneiros na utilização do sintetizador em Portugal, com uma música artesanal que misturava a electrónica e o free-jazz. Na pop era mais raro escutar-se o Moog com uma excepção honrosa: o álbum “10.000 Anos depois entre Vénus e Marte” de José Cid, um dos marcos da pop progressiva nacional. Alguns anos mais tarde também os Tantra, considerados os Genesis nacionais, usaram e abusaram dos sintetizadores.
Chegados aos anos 80, assistiu-se à explosão da electropop, representada em Portugal pelos Street Kids, de Nuno Rebelo e Nuno Canavarro, pelos Corpo Diplomático, de Pedro Ayres e Paulo Gonçalves, antes de formarem os Heróis do Mar, e pelos Ocaso Épico, de Farinha.
Era a época de ouro dos sequenciadores e das caixas-de-ritmo. Mas a pedrada no charco foi atirada, nessa mesma década, pela editora Ama Romanta, de João Peste, com o lançamento simultâneo de dois álbuns fundamentais: o já citado “Plux Quba”, de Nuno Canavarro, e “Música de Baixa Fidelidade”, de Tó Zé Ferreira, dois músicos de formação na área da electrónica erudita, mas com uma sensibilidade pop. “Sagração do Mês de Maio”, composto por Nuno Rebelo para um desfile de moda, é outro objecto incontornável da electrónica portuguesa. Jorge Lima Barreto, agora na companhia de Vítor Rua, ex-GNR, formara entretanto os Telectu, continuando a experimentar novos sintetizadores e fórmulas musicais como o minimalismo.
Nos anos 90, com a democratização e progressivo compactamento e acessibilidade da tecnologia electrónica digital (“Power stations”, “sampler”, computador, etc.), tornou-se mais fácil e menos dispendioso criar música electrónica em Portugal. Proliferaram os grupos, num leque de estilos que vai da música industrial dos Bizarra Locomotiva à música cinemática do veterano Luís Cília (em “Bailados”), da new age inteligente de Carlos Maria Trindade (a solo, em “Deep Travels” e, com Nuno Canavarro, no clássico “Mr. Wollogallu”) à electrónica “noise” dos No Noise Reduction, da colagem estruturalista de José Pedro “Discmen” Moura à visão mais lata e universalista de Nuno Rebelo, Vítor “Freefield” Joaquim e António Emiliano. Para os lados da electrónica erudita João Pedro Oliveira, Carlos Zíngaro e os Miso Ensemble experimentam, por seu lado, as possibilidades e novos horizontes de uma música que marcará, decisivamente, as sonoridades e a sensibilidade artística do novo milénio.
Editado pela Ama Romanta, em 1988, em paralelo com “Música de Baixa Fidelidade”, de Tó Zé Ferreira, “Plux Quba” acabou por ser reeditado em CD no ano passado, mas pela editora norte-americana Moikai, de Jim O’Rourke, um dos gurus do pós-rock. Acrescente-se ainda o facto de Christoph Heeman e Jan Saint-Werner (Mouse on Mars, Microstoria) admitirem a influência de “Plux Quba”.
Mas, como santos da casa não fazem milagres, muito menos se fizerem música electrónica e ainda menos se viverem em Portugal, por cá, este e outros trabalhos são sistematicamente ignorados e mal apoiados pelos “media” e recusados pelas grandes editoras. Aos poucos, contudo, criou-se em Portugal um circuito paralelo, no qual tanto a música electrónica como outras rotuladas de “alternativas” conquistaram um pequeno mas merecido espaço. Editoras/distribuidoras como a Ananana, a Áudeo e a Symbiose arriscaram produzir e editar álbuns nacionais que escapam aos esquemas do “mainstream”.
É verdade que a música electrónica não tem grandes tradições em Portugal, se exceptuarmos obras de compositores eruditos como Jorge Peixinho, Constança Capdeville ou Emmanuel Nunes. Na música popular, no auge do rock progressivo, foi preciso esperar que o actual maestro Miguel Graça Moura trouxesse de Londres o primeiro sintetizador Moog ouvido em Portugal. O então teclista dos Pop Five Music Incorporated formou, especialmente para o efeito, em honra do aparelho, os Smoog, cuja estreia ao vivo teve lugar no Coliseu dos Recreios em Lisboa, na primeira parte de um concerto de B. B. King. Depois disso os músicos portugueses não se interessaram muito pela tecnologia electrónica então emergente. Os Moogs, A.R.P. e Korgs eram caros, era preciso mandar vir de fora, e saía mais em conta adquirir um bom órgão Hammond ou Farfisa ou um piano eléctrico Fender rhodes ou RMI…
Os Anar Band, de Jorge Lima Barreto e Rui Reininho, foram outros dos pioneiros na utilização do sintetizador em Portugal, com uma música artesanal que misturava a electrónica e o free-jazz. Na pop era mais raro escutar-se o Moog com uma excepção honrosa: o álbum “10.000 Anos depois entre Vénus e Marte” de José Cid, um dos marcos da pop progressiva nacional. Alguns anos mais tarde também os Tantra, considerados os Genesis nacionais, usaram e abusaram dos sintetizadores.
Chegados aos anos 80, assistiu-se à explosão da electropop, representada em Portugal pelos Street Kids, de Nuno Rebelo e Nuno Canavarro, pelos Corpo Diplomático, de Pedro Ayres e Paulo Gonçalves, antes de formarem os Heróis do Mar, e pelos Ocaso Épico, de Farinha.
Era a época de ouro dos sequenciadores e das caixas-de-ritmo. Mas a pedrada no charco foi atirada, nessa mesma década, pela editora Ama Romanta, de João Peste, com o lançamento simultâneo de dois álbuns fundamentais: o já citado “Plux Quba”, de Nuno Canavarro, e “Música de Baixa Fidelidade”, de Tó Zé Ferreira, dois músicos de formação na área da electrónica erudita, mas com uma sensibilidade pop. “Sagração do Mês de Maio”, composto por Nuno Rebelo para um desfile de moda, é outro objecto incontornável da electrónica portuguesa. Jorge Lima Barreto, agora na companhia de Vítor Rua, ex-GNR, formara entretanto os Telectu, continuando a experimentar novos sintetizadores e fórmulas musicais como o minimalismo.
Nos anos 90, com a democratização e progressivo compactamento e acessibilidade da tecnologia electrónica digital (“Power stations”, “sampler”, computador, etc.), tornou-se mais fácil e menos dispendioso criar música electrónica em Portugal. Proliferaram os grupos, num leque de estilos que vai da música industrial dos Bizarra Locomotiva à música cinemática do veterano Luís Cília (em “Bailados”), da new age inteligente de Carlos Maria Trindade (a solo, em “Deep Travels” e, com Nuno Canavarro, no clássico “Mr. Wollogallu”) à electrónica “noise” dos No Noise Reduction, da colagem estruturalista de José Pedro “Discmen” Moura à visão mais lata e universalista de Nuno Rebelo, Vítor “Freefield” Joaquim e António Emiliano. Para os lados da electrónica erudita João Pedro Oliveira, Carlos Zíngaro e os Miso Ensemble experimentam, por seu lado, as possibilidades e novos horizontes de uma música que marcará, decisivamente, as sonoridades e a sensibilidade artística do novo milénio.
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