4 de Fevereiro 2000
POP ROCK
POP ROCK
Pascal de Lisboa para o pinhal
Pascal Comelade
Live in Lisbon (8/10)
Pascal Comelade & Richard PinhasOblique Sessions II (7/10)
Les Disques de L’Acier et du Crépuscule, distri. Megamúsica
“Live in Lisbon” foi gravado ao vivo em… adivinharam! Em Lisboa! Mais precisamente a 25 de Junho do ano passado no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém, com a Bel Canto Orquestra. Há mais três temas gravados em Barcelona mas é como se não contassem. O álbum é muito nosso. Pascal mostrou estar em grande forma nessa ocasião, como o atesta a qualidade deste álbum no qual a faceta “música para brinquedos” não asfixia um lado mais “adulto” (que não menos onírico) como acontece no já “standard” comeladiano, “L’argot du brui”, um tango dengoso e surreal que é a súmula do universo deste músico catalão. Igualmente familiares soam as inspiradas versões de “Sunny afternoon”, dos Kinks, “Smoke on the water”, dos Deep Purple (patética, o que nele é um elogio), “All tomorrow’s parties”, dos Velvet Underground (bastante velvetiana, por sinal), “Honky tonk woman” dos Stones (em ritmo mariachi) e, a comprovar o ditado que diz que “em Roma sê romano”, uma rendição pianística de “Grândola vila morena”, de José Afonso. Uma noite de folia e nostalgia por um Comelade em estado de graça. Comelade tem sempre graça, aliás…
Ou quase sempre. Com Richard Pinhas, antigo guitarrista e manipulador de electrónica dos Heldon, o caso muda de figura. Num segundo volume de “sessões oblíquas” que torneiam a discrição Enoiana – aqui materializada numa versão andróide de “Here comes the warm jets” – onde Comelade, além dos instrumentos de plástico, toca piano de cauda e órgão electrónico e Pinhas, guitarra eléctrica. Neste caso a música é tensa, acumulando ambientes minimais e opressivos, em diálogos, nem sempre ricos de significado, entre a intuição “naif” de Comelade e as “Pinhatronics” cerebrais do francês no que pode ser considerada uma conversa entre um gafanhoto e um elefante. Pinhas arde. Comelade por pouco não se quebra em pedaços, esmagado pelo ex-Heldon. Umas vezes soa como um ensaio dos Faust. Noutras a poesia desce aos solavancos, nas asas de um anjo de papel de seda e alumínio, como em “Krafft-ebbing et les coupleurs de nattes”. Dois loucos em acção.
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