11 de Fevereiro 2000
POP ROCK
POP ROCK
A ameaça do coelho invisível
Laub
Intuition (7/10)
Kitty-Yo, distri. Symbiose
Köhn
(Köhn)2 (8/10)
K-RRAA-K, distri. Matéria Prima
Originários da Alemanha os Laub fazem parte de uma segunda linha de ataque da nova música electrónica alemã, um pouco atrás dos Kreidler e muito atrás da facção mais experimentalista representada por nomes como FX Randomiz, L@N ou, mais recentemente, Sack & Blumm. O álbum de estreia da banda, “Kopflastig”, é um exercício interessante de mistura de sonoridades electro com uma voz feminina, de Antye, que remete para os parâmetros “arty” dos também germânicos Non Credo e No Secrets in the Family. Mas se “Kopflastig” é um álbum, no mínimo, interessante, o conjunto de remisturas apresentadas em “Intuition” consegue ir mais longe, propondo algumas leituras que ultrapassam, em amplitude de visão, o material original. Estão neste caso as remisturas de “Grau”, pelos Pôle, com um enredo de ruídos difícil de deslindar, dos Rechenzentrum e Elektronauten (estes entre o dub, o trip-hop e o chill-out) ambos hipnóticos, respectivamente em “Uter anderen bedingungen” e “Diffus dub”, e dos Schneider TM, com um trabalho de manipulação do tempo e da velocidade que remete para a estratégia usada pelos Neu! em “Neu!2”. Bastante krautrockers soam os Full Swing, em “Weit weg”, o mesmo tema que nas mãos dos Phoneheads se converte no formulário rítmico tradicional do drum’n’bass. Richard Thomas assina em “Skycrapes and earthquakes” a remistura mais radical e musicalmente estimulante de “Intuition”, com um puzzle minuciosamente congeminado em laboratório à maneira de Holger Hiller que deixa pouco osso á mostra da versão original. Clifford Gilberto, Gonzales e Matthias Schaffhäuser não adiantam grande coisa, usando um conjunto de fórmulas gastas e sem grande significado.
Mas se “Intuition” oscila entre a inquietação mas também algum conformismo, o mesmo não se poderá dizer de “(Köhn)2”, segundo capítulo do projecto, também alemão, Köhn. Aqui o prazer da audição tanto pode derivar de um lado lúdico assumido até ao absurdo, como descer ao patamar da dor. Dois extremos que se confundem logo no tema de abertura, “Willem = Köhnen”, que começa com um “loop” de música festiva por uma banda de coreto, progressivamente retalhado, e subitamente irrompe numa sessão de tortura dos Throbbing Gristle. No limiar da dor física está “*”, que o próprio Köhn (trata-se de um músico apenas, jamais identificado) define como um teste á capacidade de resistência dos altifalantes às frequências mais agudas do espectro sonoro. Em “(Köhn)2” joga-se sempre no limite, entre um humor violento (a falsa electropop de “Sönn”, “poppy electronics with a message of hope”, como é descrito nas notas irónicas deste digipak também ironicamente ilustrado com um coelho branco invisível onde apenas se distingue um olho vermelho e ameaçador…) e manipulações de material acústico (um violino em “De köhning”, guitarra acústica e saxofone barítono em “The wrath of köhn”) irremediavelmente massacrados e transformados em experiências que podem conduzir ao banco de urgências do hospital. Erros técnicos de leitura (como faz José Moura enquanto Discmen) ou a assumida fraca qualidade da fita master utilizada são igualmente aproveitados para a elaboração de castigos auditivos, sempre com os Throbbing Gristle no horizonte (presença tutelar em “Kukeleköhn”) num álbum que, apesar de incómodo, mantém intacto do princípio ao fim uma imprevisibilidade que acaba por constituir um dos seus principais trunfos. Mas lá que dói, dói…
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