Y
26|OUTUBRO|2001
escolhas|discos
FAIRPORT CONVENTION
Full House
9|10
House Full
Island, distri. Universal
7|10
fairport
convention casa cheia
“Full
House” e “House Full” são imagens espelhadas de uma mesma realidade, apesar da
disparidade das datas originais das respetivas edições. “Full House”, um dos
álbuns clássicos dos Fairport Convention, foi editado em 1970, enquanto “House
Full”, gravado ao vivo no mesmo ano, no Troubadour, em Los Angeles, e com a
participação dos mesmos músicos, teve que esperar até 1986 para ver a luz do
dia. Coube a ambos a honra de serem os primeiros a ser objeto de
remasterização, esperando-se que o mesmo aconteça com a extensíssima
discografia desta banda emblemática do folk rock britânico dos anos 60 e 70 e
que ainda hoje se mantém em atividade.
“Full House” é o 5º álbum dos
Fairport, o primeiro depois da saída da cantora Sandy Denny, que haveria de
regressar esporadicamente anos mais tarde para participar em “Rising for the
Moon”. Mas o que poderia constituir um grave “handicap”, até pelo sucesso
artístico alcançado pelo disco anterior, “Liege and Lief”, considerado um
marco, acabou por resultar numa reorientação bem sucedida da filosofia musical
do grupo. Se “Liege and Lief” dependia da fantástica voz e da presença carismática
da malograda Sandy Denny, é “Full House” que assume uma vocação rítmica e uma
liberdade de ação no domínio dos arranjos e da execução instrumental que
serviram de modelo à geração seguinte do folk rock, dos Horslips aos Woods
Band.
O espaço deixado vago por Denny foi
preenchido pelo protagonismo de dois instrumentistas fabulosos, o guitarrista
Richard Thompson, hoje um singer-songwriter clássico, e o violinista Dave
Swarbrick, este dando desde sempre provas de fidelidade à folk. “Dirty linen” e
“Flatback caper” são dois medleys alucinantes em que Swarbrick e Thompson
rivalizam no balanço e no virtuosismo. “Walk awhile”, um dos temas emblemáticos
do folkrock contrasta com “Sir Patrick Spens”, onde é posto em relevo o registo
folky de Swarbirck, que colmatou de forma mais do que adequada a ausência da
diva, enquanto “Sloth” é uma longa balada que Richard Thompson preenche com uma
lenta dissertação na guitarra.
Ponto fraco deste reedição é a
alteração do alinhamento original, que já pecava pelo tema final, adaptação
preguiçosa do “standard” “Flowers of the forest”, o que é compensado com a
inclusão dos extras “Now be thankful” (em versões mono e stereo), “Bonny Bunch
of roses” (mais tarde aproveitado para título de um álbum posterior dos
Fairport) e “Sir B. Mckenzie’s daughter lamente for the 77th mounted lancers
retreta from the straits of Loch Knombe, in the year of our Lord 1727, on the
occasion of the announcement of her marriage to the laird of Kinleakie”,
candidato ao Guiness como maior título de sempre para uma canção.
“House Full” pode ser encarado como
complemento ao vivo de “Full House”. Além da prova dos nove no que concerne ao
virtuosismo de Swarbirck e Thompson, e da comparação que permite fazer entre os
temas comuns aos dois discos, destacam-se em “House Full” o “medley” “The lark
in the morning”, retirado de “Liege and Lief”, e a incursão na música “morris”
medieval de “Staines morris”, território que viria a ser explorado de forma
exaustiva pelo ex-Fairport Ashley Hutchings com os Albion (Country) Band.
Sem comentários:
Enviar um comentário