Pop
Rock
13
Abril 1994
THE ROBERT FRIPP STRING QUARTET
The Bridge Between
Discipline,
import. Contraverso
DO BARROCO AO TORMENTO
Não, não se trata disso. O ex-líder dos King Crimson e inventor das
“frippertronics” não entrou na onda dos Kronos, Balanescus e afins. O String
Quartet é simplesmente a designação, algo irónica, da reunião de Fripp com o
California Guitar Trio e um quinto guitarrista, Trey Gunn, no “grand stick”,
que supomos ser uma variante do “Chapman stick”, uma guitarra eletrónica com efeitos,
sem caixa. Temos assim cinco guitarras, elétricas e acústicas, mais
“frippertronics”, num álbum gravado ao vivo (sem ruído de palmas…) em Maio e
Junho do ano passado, com posteriores pormenores de pós-produção efetuados em
estúdio.
“The Bridge Between” é, sob certos aspetos, um álbum surpreendente.
Surgido num período em que Robert Fripp se debate com problemas legais
relacionados com a sua antiga editora, a EG, que levaram, inclusive, a que o
disco seja uma espécie de edição de autor saído com o selo Discipline, título e
logotipo de um álbum antigo dos King Crimson, há nele uma fúria dissimulada, a
par da habitual tendência do guitarrista para a teorização. Neste caso, e não
por acaso, concentrada num pequeno manifesto em que Fripp faz o enquadramento
do ato criativo e do papel desempenhado pelo músico na sociedade contemporânea,
acompanhado de um rodapé em que alerta os músicos para a defesa intransigente
dos seus interesses em matéria de direitos de autor, contra o “statu quo”
vigente de atropelos constantes a esses direitos.
Quanto à música, prolonga e refina a tendência para a harmonização, por
vezes quase sinfónica, das guitarras, característica do anterior projeto de
Robert Fripp, a League of Crafty Guitarists. Uma música que alia a energia do
rock (“Kan-non power”) à complexidade contrapontística da música barroca (em
três peças de Johann Sebastian Bach, “Chromatic fantasy”, “Contrapunctus” e
“Passacaglia”), à citação “kitsch” de “Yamanashi blues”, para terminar no longo
e perturbante tema final, “Threnody for souls in torment” (canto lúgubre para
as almas em tormento) que soa a Arvo Pärt no inferno e confirma antigos e
xamanísticos interesses de Fripp pelo tantrismo e pela temática do apocalipse.
Acima de tudo a ressalta a ideia de que Robert Fripp continua atento e atuante.
Com a sua guitarra a arder com a mesma intensidade de sempre. (8)
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