21/11/2011

Destruição, gelados e diversão [Pop-Rock]

21 de Abril 2000

POP ROCK - DISCOS

Destruição, gelados e diversão

Sexo, violência, confusão e disciplina, a electrónica agita-se num paroxismo sanguinolento na música dos Funkstörung, uma dupla constituída por Michael Fakesch e Chris de Luca. Funk industrial, consistente, num conglomerado que em “Try dried frogs” e “A8 KM 34” arrasa por completo a arquitectura hip hop e em “Sounds like a breakrecord” e “Grammhy winers” (ambos com a participação de Triple H) assume um lado activista através de um rap e scratch demolidores. Lembramo-nos de Mark Stewart e da sua “Mafia”. “Think”, “1/10” (swing de metal percussivo) e “Red shirt, white shoes” (música industrial em levitação, coisa rara) contam com vocalizações aéreas de Greenwood e Carin sobre massas incandescentes. “A bottle, a box and a mic” larga a mesma energia dos Einstürzende Neubauten combinados com os Public Enemy num “drum’n’bass” pegajoso e residual que se cola à pele, antes de os 16 minutos finais de “Mind the gap” abrirem uma cratera de poeira radioactiva em suspensão no trip hop dos Portishead. Uma torneira de escape para tanta tensão.

O som dos Tele:Funken é mais analítico, proporcionando outro tipo de estímulos. Electrónica swingante na linha dos Shabotinski, FX randomiz, Isan e Holosud que do krautrock extraiu a filosofia e do uso lúdico das novas tecnologias fez uma síntese para usar no imenso parque de diversões em que se transformou a música electrónica neste final de milénio. “Theme from Tele:Funken” abre em carrossel num convite a Gary Numan para se divertir com as suas “replicas” numa montanha-russa.

Os Solvent é que não escondem o seu fervor pelo passado, citando como influências os Human League, Depeche Mode, Soft Cell, Fad Gadget, Yazoo e os Skinny Puppy, além de Lowfish e Aphex Twin. Pop electrónica, polida e ritmada, para fazer dançar robôs. Arrumar, depois de gasta, ao lado dos Mikron 64 e Nova Huta.

Em fase de reconhecimento nos meios da electrónica europeia, os radicais franceses Tone Rec surgem pela primeira vez menos radicais num álbum de remisturas, metade a cargo deles próprios, metade assinada por Fennesz, pelos primos Dat Politics e pelos To Rococo Rot. Da operação saíram experiências mais dançáveis que o habitual no mundo angular dos Tone Rec, mais anarquizantes no caso de Fennesz, dos Dat Politics e nuns surpreendentemente virulentos To Rococo Rot do que na própria banda francesa que em “Trend” rubrica a faixa mais irresistível de toda a sua carreira – uma coisa viciante e oleada, alimentada a mel e gasolina, que é uma resposta absolutamente imparável à “auto-estrada” aberta pelos Kraftwerk. E quem quiser brincar ao giroflé e ao mesmo tempo dançar tecno à maneira dos Tone Rec só tem que ouvir “Giroflex”, saltar como um doido e ser conduzido em seguida ao manicómio.


Funkstörung
Appetite for Destruction (8/10)
Studio !K7, distri. MVM

Solvent
Solvently one Listens (7/10)
Suction, distri. Matéria Prima

Tele:Funken
A Collection of Ice Cream Vans Vol. 2 (8/10)
Domino, distri. Ananana

Tone Rec
Demo Pack Demoli (8/10)
Quatermass, distri. Ananana

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