Sons
7 de Abril 2000
Jean-Benoit fala do novo álbum dos Air
Uma oração no espaço
“The Virgin Suicides”, banda sonora composta pelos Air para um filme de Sofia Coppola, é “mais denso” e “menos gentil” que o anterior “Moon Safari”. É Jean-Benoit, um dos elementos da dupla francesa, quem o diz. E também vê na música do grupo um “apelo religioso” em forma de oração.
Talvez mais do que a cançoneta electrónica apresentada em “Moon Safari”, é na série de instrumentais “planantes” do novo álbum “The Virgin Suicides” que a música dos Air adquire colorações tão mais sombrias quanto estimulantes. Jean-Benoit, o matemático do grupo, falou ao PÚBLICO sobre esta faceta dos Air e da próxima etapa da evolução humana em direcção ao espaço.
PÚBLICO – É verdade que Nicolas Godin se inspirou no arquitecto Le Corbusier para compor o tema “Modulator”?
JEAN-BENOIT – Nessa altura ele andava a estudar arquitectura e adorava Le Corbusier. Pensava nisso todo o tempo. Num equilíbrio arquitectural que pudesse ser transposto para uma canção…
P. – Quanto a si, afirmou uma vez que a música dos Air era ideal para resolver problemas…
R. – É verdade. Porque é uma música que harmoniza. Se a considerarmos uma música original, é porque ela é uma música harmoniosa. É nessa qualidade que poderá ser útil na resolução de problemas. Existe na nossa música um apelo religioso. Alguns acordes e harmonias de “The Virgin Suicides” lembram música religiosa clássica, a música coral de Bach por exemplo. Considero a nossa música uma oração.
P. – Sobretudo em “Moon Safari”, falam várias vezes no céu e nas estrelas. Depreende-se então que não se trata apenas do céu físico?
R. – Trata-se de uma concepção extrafuturista do universo. Pensamos que vai haver nos próximos tempos outra revolução. Depois da revolução sexual e da revolução informática terá lugar a revolução espiritual. Haverá uma evolução dos genes humanos que terá como consequência tornar as pessoas mais sociáveis e tornar possível partir em direcção ao espaço.
P. – Em naves espaciais ou através de viagens astrais?
R. – Será um passo mais longe. Talvez se organize uma seita nos Estados Unidos. Montar uma seita nos Estados Unidos é das coisas que dá mais dinheiro. Não há melhor maneira de enriquecer do que vender religião! [Risos.] Muito mais do que a música!
P. – Antes dos Air, fizeram parte do grupo Orange que tocava temas dos anos 70. Curiosamente alguns dos temas de “The Virgin Suicides” fazem-me lembrar os Pink Floyd, de “Meddle” e “Dark Side of the Moon”…
R. – Gostamos dos Pink Floyd, mas penso que essa conotação se deve ao facto de este álbum ser maia rock, usar uma bateria e, ao mesmo tempo, ter um lado planante. “Planante” mais bateria sugere imediatamente Pink Floyd! Mas a música de “The Virgin Suicides” faz muito mais sentido enquanto banda sonora do filme, não é verdadeiramente um novo álbum dos Air.
P. – Quais são as suas preferências em matéria de música electrónica?
R. – Existe um único grupo de música electrónica pura, os Kraftwerk. Mais do que a música electrónica, que pode soar bastante artificial, somos fãs da música de variedades dos anos 70. Adoramos Michel Polnareff, Serge Gainsbourg, Michel Berger… E Nancy Sinatra e Lee Hazlewood.
P. – Em “Kelly watch the stars”, outro tema de “Moon Safari”, Kelly é a personagem da série de tv Os Anjos de Charlie. Até que ponto existe uma relação entre as imagens televisivas e a música dos Air?
R. – Existe, sobretudo com os desenhos animados. “Kelly watch the stars” é, de certa forma, um desenho animado. Gostamos de fazer coisas surrealistas.
P. – Os próprios modelos gigantes de sintetizador Moog que costumam tocar possuem um forte impacte visual…
R. – Sim. Na digressão mundial de “Moon Safari” havia oito teclados enormes no palco. Sintetizadores antigos e digitais. Mas o mellotron teve que ser “samplado”. Um mellotron verdadeiro é monstruoso, um inferno para levar para o palco. Não usamos nos espectáculos qualquer tipo de programações, tocamos realmente os instrumentos.
P. – Porque é que não foram vocês a cantar “Playground love”?
R. – Para variar o prazer. O que há de mais excitante em fazer música é quando, no estúdio, na altura de fazer as misturas, se descobre a alma de cada tema.
P. – Há quem, como eu, prefira “The Virgin Suicides” a “Moon Safari”…
R. – “The Virgin Suicides” é mais denso e menos gentil que “Moon Safari”. Um pouco como o filme…
P. – Que é?...
R. – São cinco raparigas que andam num colégio e se sentem frustradas nas suas relações amorosas, as famílias proíbem-nas de sair, sentem-se completamente incompreendidas. Aos poucos vai-se instalando um clima de mal-estar que invade todo o filme. No final elas tornam-se perversas, envolvem-se na droga, têm aventuras sexuais, acabando por sentir vergonha delas mesmas e por se suicidar. Há uma carga forte de sensualidade.
P. – A pergunta inevitável: já têm planos para o próximo álbum?
R. – Sim, estamos a trabalhar nele desde Setembro do ano passado. Já estão feitos sete novos temas.
P. – Existe alguma possibilidade de ver os Air ao vivo em Portugal nos próximos tempos?
R. – Infelizmente, creio que não. Mas adoramos Portugal, sobretudo as portuguesas. A jovem que trabalha na promoção dos artistas estrangeiros da Virgin é muito bonita, belíssima.
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