PORTUGUESES
José Peixoto
O Que me Diz o Espelho de Água (7/10)
Ed. e distri. FarolMúsica
Sentem-se numa cadeira. Respirem fundo. Abram a janela e respirem o ar fresco da manhã. Ponham no leitor de CD o terceiro álbum a solo de José Peixoto, guitarrista dos Madredeus, e escutem as brisas que sopram deste trabalho habitado pelo silêncio e pelo elemento líquido. “O Que me Diz o Espelho de Água” liga-se desde as primeiras notas à água, quando, logo no tema de abertura, “O que não se vê”, a guitarra “imita” as gotículas cristalinas de uma harpa, instrumento tradicionalmente ligado àquele elemento. Faltará a esta música feita de sinceridade gestos tranquilos, o incêndio ou a seiva do excesso mas, em contrapartida, “O Que me Diz o Espelho de Água” tem para oferecer uma miríade de recantos e pequenos fogos-fátuos transportadores de paz de espírito, em progressões sempre apontadas ao interior. Como em Ralph Tower, Will Ackerman ou Michael Edges, a guitarra de José Peixoto flui como um rio de impressões suspensas, de momentos fugazes, de frases apanhadas de um rio maior. Nas margens ambientais da “new age”, do flamenco, do jazz e de algumas fragrâncias árabes e brasileiras (de Villa-Lobos a Gismonti). Ao contrário dos anteriores “As Vozes dos Passos” e “A Vida de Um Dia”, “O Que me Diz o Espelho de Água” conta com a colaboração de outros músicos, no caso Mário Franco, no contrabaixo, e Rui Júnior, nas percussões, o primeiro mais influente no desenho final dos temas em que participa, o segundo imbuído da tarefa de colorir e pontuar o som e a fluidez do discurso da guitarra. “O Que me Diz o Espelho de Água” é um disco difícil de segurar nas mãos. Passa como uma nuvem deixando na memória gotas de orvalho.
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