MÚSICA
NA ZDB, NA
4ª FEIRA
TRANS
AMERICA EXPRESS
NÃO ESCONDEM
A INFLUÊNCIA DOS KRAFTWERK, QUE AMARRARAM COM ARAME FARPADO A UMA NOVA ESPÉCIE
DE HEAVY METAL, E DEFINEM-SE COMO “UM AGRUPAMENTO DE ROCK QUE SE ABORRECE COM O
ROCK MUITO FACILMENTE”. SÃO OS TRANS AM, A BANDA MAIS AGRESSIVA DO PÓS-ROCK, E
VÊM ATUAR EM PORTUGAL NUMA SALA MINÚSCULA. PODERÁ HAVER ESTRAGOS.
NO INÍCIO tossiam com o pó e a ferrugem da velha cave da casa dos
pais de um dos elementos do grupo, em Washington DC, onde ensaiavam e gravavam.
Mas não demorou muito até os Trans AM serem conhecidos e apontados como uma das
manifestações mais excitantes da então emergente corrente que a crítica
catalogou como pós-rock – uma mistura de influências do passado (krautrock,
Progressivo), tecnologia “lo fi” e, paradoxalmente, o desejo de inovação.
“Trans AM”, álbum
de estreia deste trio formado por Nathan Means, Philip Manley e o argentino
Sebastian Thompson, é uma descarga explosiva de eletricidade e adrenalina,
variante para os anos 90 do vulcão King Crimson, enfiado na armadura de metal
do krautrock dos Neu! e Kraftwerk. John McEntire, então ainda a fazer os
preparativos que o conduziriam ao papel de guru do pós-rock, gravou vários
temas do disco, numa ligação que se aprofundaria com a produção do álbum
seguinte, “Surrender to the Night”, considerado um dos marcos do movimento, ao
lado de “Millions now Living will never Die”, dos Tortoise, de John McEntire,
precisamente.
Com “Surrender to
the Night” os Trans AM tornaram mais eletrónica a sua música, rendendo-se a uma
estranha combinação de “cósmico”, rock e música industrial. Admitindo embora a
influência dos incontornáveis Kraftwerk – “não o reconhecer seria como uma
banda pop que negasse a influência dos Beatles…”, dizem –, dos Neu! e dos Can,
o grupo apontou outros horizontes capazes de refletirem a força e algumas das
coordenadas formais da sua música, como os Van Halen, Chicago e Miles Davis.
Locomotiva
desgovernada
Consolidada a
projeção mediática do pós-rock, com uma sucessão de novas bandas a dispararem
setas envenenadas ao mamute rock (Rome, Stars of the Lid, Ganger, Jessamine,
Ui, Stereolab, Labradford), os Trans AM transitaram no álbum seguinte, “The
Surveillance”, para uma área mais politizada, marcada pela paranoia, a
vigilância policial e o totalitarismo da sociedade norte-americana, numa visão
influenciada pelo “1984” de George Orwell, abordando temas como “a propaganda
de sistemas de segurança domésticos”, “iniciativas anti-crime”, “políticas de
tolerância zero” e “comunidades fechadas”.
Divergindo nesta
altura dos até então seus camaradas de guerra, os Tortoise, que com o álbum
“TNT” se haviam lançado em voo planante em direção às doçuras do “easy
listening” e do jazz ambiental, os Trans AM definiam agora a sua música como
"perigosa", experimental à maneira dos industriais dos anos 80,
Chrome e This Heat e, ao mesmo tempo, sem vergonha de assumir que muita desta
energia era sugada de bandas de heavy metal como os Led Zeppelin e Black
Sabbath.
Longe estava o
som primário do álbum de estreia, embora as gravações se continuassem a
processar na mesma cave e com os mesmos sintetizadores analógicos, com a
diferença de que agora tinham à sua disposição um novo estúdio armado de meios
tecnológicos sofisticados – o seu "Kling Klang" privativo, numa
comparação com o nome do mítico estúdio móvel dos Kraftwerk. Infelizmente
tiveram que o desmontar logo a seguir às gravações, porque os senhorios da casa
se mudaram...
Regressaram ao
futuro no álbum do ano passado, "Future World", no qual se demarcam,
de forma violenta, as duas facetas aparentemente contraditórias da sua música.
Por um lado uma eletrónica sintética que além dos Kraftwerk se apropriou do
romantismo replicante dos Tubeway Army e da cold wave dos Human League, e por
outro um hard rock visceral nos limites do ruído e da brutalidade, com uma
homenagem aos Radiohead pelo meio. A capa do álbum, um grafismo de computador
em tons de verde sobre um fundo de vazio, sugere uma viagem puramente mental já
sem qualquer ligação ao mundo exterior. É com este universo simultaneamente
animal e virtual, marcado pela esquizofrenia e por um dilúvio de energia
arrancado ao Apocalipse, que os Trans AM vão irromper na apertada sala da
Galeria Zé dos Bois, como uma locomotiva desgovernada. Não sabemos se as
paredes irão aguentar.
TRANS AM
Lisboa,
Galeria Zé dos Bois, 4ª feira, 22h
Preço dos
bilhetes: 1000$00.
Sem
marcações.
ARTES
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