CULTURA
DOMINGO, 10 OUT 2004
Adiafa armam baile no Alentejo com novo
disco
“Tá o Balho Armado”, segundo álbum, dos Adiafa, foi apresentado ao vivo
em Beja, com os convidados Rui Veloso, Paulo de Carvalho e Gaiteiros de Lisboa
Tiveram a fama e o proveito, mas
não ficaram ricos. Nenhum deles comprou casa nova, garantem. Apesar disso
tornaram-se durante meses verdadeiras celebridades da música popular
portuguesa. “As meninas da Ribeira do Sado” foi a canção que andou nas bocas de
Portugal de Norte a Sul e levou os alentejanos Adiafa ao sucesso, aos “tops” e,
o álbum de onde foi tirada, a disco de platina, com mais de 40 mil vendidos.
Agora,
com o segundo CD lançado no mercado, “Tá o Balho Armado”, os Adiafa procuram,
no mínimo, manter a força da onda, ainda que, desta vez, não se vislumbrem
outras “meninas” no horizonte.
A
apresentação oficial do disco foi na sexta-feira, no Pavilhão Polivalente de
Exposições de Beja. Com um concerto onde estiveram praticamente todos os
convidados do álbum, incluindo Rui Veloso, Paulo de Carvalho e os Gaiteiros de
Lisboa, com as canções que interpretam no disco, respetivamente “Feira de
Castro”, “Saias” e “Sambombita”.
Um
concerto equilibrado, apesar do som deficiente, com constante troca de músicos
em palco e muita descontração, ao ponto de num dos lados do palco estar uma
mesa posta com comes e bebes para receber os músicos após cada intervenção.
Foram
apresentadas todas as faixas de “Tá o Balho Armado”, mais um tema extra para os
convidados especiais. Os Gaiteiros, com o seu “O menino está na neve”, do álbum
“Invasões Bárbaras”, Paulo de Carvalho com uma vocalização “a capella”, Rui
Veloso com “O primeiro beijo”. José Salgueiro, dos Gaiteiros, ajudou à bateria
numa série de canções. Joaquim Simões, no fagote, Augusto Graça, na flauta,
Pedro Mestre, na viola campaniça, os Alentejanos, em “cante” vocal, e o grupo
de bombos e percussões Bardoada, participaram também no concerto e na adiafa
(festa) improvisada. No final apoteótico todos, incluindo uma matrafona elevada
no ar, cantaram em coro “As meninas da Ribeira do Sado”. Os Adiafa não se vão
livrar delas tão cedo.
“Tá
o Balho Armado” é um disco feito com mais tempo e meios técnicos do que o seu
antecessor. Apresenta duas partes distintas. A primeira, mais popular e
acessível, é mais cantarolável e dançável. Começa, como o álbum de estreia, com
umas meninas, mas desta vez sem carrapatos atrás das orelhas, “Meninas façam
arquinho”, cuja introdução falada conta com o desempenho de João Canto e Castro
a imitar o professor José Hermano Saraiva.
Segue
com uma alentejanizada “Mula da cooperativa”, de Max, homem de outras adiafas.
Mas a aposta forte, que irá ser editada em “single”, para suceder às “Meninas
da Ribeira do Sado”, é “Ó Ana, ó Ana, ó Ana…”, com as suas sugestões de rimas
marotas (“Semeei no meu quintal/Uns quantos dentinhos de alho/Saltou-me o cabo
do sacho/E bateu-me no…”). Na segunda metade de “Tá o Balho Armado”, as
polifonias vocais tornam-se mais solenes e a música aproxima-se do mais fundo
da tradição alentejana. “Sambombita”, moda de Barrancos, pelos Gaiteiros de
Lisboa, é arrasadora e surpreendente é a toada hipnótica e arabizante de “Afã”.
Falta
esperar pelos resultados, que é como quem diz, pelo número de vendas. O sucesso
do primeiro disco fez aumentar as expectativas e a responsabilidade. “Fazer o
segundo disco não custou”, diz Luís Espinho, uma das vozes dos Adiafa, “Agora o
impacto, o ‘feedback’ deste segundo trabalho só por muita sorte é que
conseguirá atingir o nível do primeiro, que foi realmente um fenómeno.”
Comparando
os dois discos, Espinho explica que “em termos de tempo” que tiveram para o
fazer, este foi “incomensuravelmente maior” e que o novo estúdio “está muito
mais bem apetrechado”. “Fizemos aquilo que queríamos, a diferença está em que o
novo disco terá um som um pouco mais urbano, embora baseado na mesma traça, na
música de recolha”.
Ultrapassada
está a morte de um dos elementos fundadores do grupo, Emídio Zarcos, cuja
memória os Adiafa não se dispensam de homenagear. O grupo, porém, continuou na
estrada. “Se nós nos ressentíssemos, o Zarcos de certeza zangava-se, esteja ele
onde estiver. Olhámos uns para os outros, doridos, mas decidimos continuar. O
trabalho por vezes faz esquecer as tristezas.” Porque, afinal, os Adiafa são
“um estado de alma”, uma mesa posta para a festa onde constantemente “uns saem
e outros entram”.
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