21 de Junho de 1995
álbuns poprock
reedições
As aventuras de um embrião em África
EMBRYO
Embryo’s Rache (7)
Materiali Sonori, import. Áudeo
Africa (8)
Materiali Sonori, import. Megamúsica
É verdade: estes Embryo foram a primeira banda estrangeira, neste caso alemã, a actuar no nosso país, num memorável e desatinado concerto “à borla” realizado no então Cinema Alvalade. “Embryo’s Rache”, de 1971, surgiu no mercado português mais ou menos por essa altura, ainda antes da vaga planante que haveria de chegar por vias das editoras Brain, Ohr e Cosmic Music. Os Embryo andavam longe do céu, mais preocupados com questões sociais e políticas, que abordavam de forma “kitsch” através de um rock jazz anarquizante – leia-se desbunda encharcada em charros -, receptivo a influências exteriores, nomeadamente a música do Norte de África. Temas semi-improvisados, resquícios do psicadelismo e boas prestações do principal solista, Edgar Hoffman, no saxofone soprano e violino, apoiado na batida potente de Christian Burchard, situavam nessa época os Embryo algures entre os Can e os Soft Machine, faltando-lhes todavia a disciplina que caracterizava estes dois grupos. Ainda hoje dá especial prazer escutar o sax filtrado e o solo “sugarcaniano” de Hoffman, respectivamente em “Revenge” e “Change”, ou o longo e reintitulado “Spagna si, Franco finished” (na versão vinílica era “Franco no”…), uma sequência imprevisível de “mellotron” progressivo, sax, flauta e percussões, à boa maneira anarca. O compacto inclui dois temas extras, bastante vulgares, (mal) gravados ao vivo 20 anos depois. Para ignorar.
“Africa”, de 1985, apresenta uma fase totalmente diferente do grupo, de cuja formação original restavam apenas Hoffman e Burchard. Gravado na Nigéria com inúmeros convidados africanos, é um álbum com uma direcção musical bem vincada, em que, como não podia deixar de ser, predominam os ritmos e motivos melódicos africanos, tocados em instrumentos nativos, com a marcação cerrada de Burchard, na bateria ou na marimba. Edgar Hoffman tem terreno livre para explicitar a sua sonoridade “sui generis” no sax soprano. Nada de “world music”, no sentido vulgarizado do termo, antes um exercício sofisticado sobre as raízes africanas, como base de um trabalho cujos apêndices tocam por vezes nos Weather Report ou em obras como “Zero Set”, de Dieter Moebius, Conny Plank e Mani Neumeier, com o cantor sudanês Deuka, ou “Noir et Blanc”, de Hector Zazou e Boni Bikaye, só que sem computadores.
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