8 de Fevereiro de 1995
álbuns poprock
Quinta do Bill
BILL FRISELL
Music for the Films of Buster Keaton: Go West (6)
Music for the Films of Buster Keaton: The High Sign & One Week
Elektra, distri. Warner Music
Bill Frisell é um nome importante da nova música nova-iorquina e em particular da cena “downtown”. Certo. Bill Frisell tocou com John Zorn. É verdade. E com Marianne Faithfull. Sim, sim. E com Madonna! Ah!? Tem discos gravados na ECM, um pouco chatos, mas… De Charles Ives a Hendrix, já passou um pouco de tudo pela sua guitarra. Sim senhor, até já tocou ao vivo em Portugal. Depois disto quem é que me vai perdoar por não gostar dele? Não se trata de uma daquelas embirrações irracionais a que vulgarmente se chama “ódios de estimação”. Também é um bocadinho isso, mas não só. Confesso que não vou a à bola com o seu ar certinho, de menino-prodígio que se tornou professor de guitarra. Sou da opinião de que não deviam deixar uma pessoa com o seu aspecto “clean” andar pela “downtown” – coisa de génios lunáticos –, embora conceda que possa haver excepções. O problema, a verdadeira incompatibilidade, está em que já ouvi vários discos do Bill e até à data, por mais que me esforçasse, não consegui gostar (ou será melhor dizer, aderir?) de nenhum. Este não é excepção. Bill é um tecnicista, disso não tenho dúvidas. Assim como os dois músicos que o acompanham neste projecto, Kermit Driscoll, no baixo, e o afamado Joey Baron, na bateria. Estas peças, repartidas por dois CD, compostas por encomenda da Academia das Artes de St. Ann, em Nova Iorque, para ilustrar curtas-metragens protagonizadas pelo mito do burlesco e do cinema mudo Buster Keaton, são neste aspecto exemplares. Mas, o tal mas fatal, fica-se com a impressão de que a música não vai a lado nenhum. Que não é carne nem peixe. Não diria que é música a metro, porque Frisell se preocupa ao milímetro em sacar ao seu instrumento fraseados que umas vezes invocam a violência agoniada de Hendrix e outras a fragmentação tímbrica de Fred Frith, mas evidenciando a cada instante a preocupação em fazer um som limpo e, para os meus ouvidos, morno. Mas é música que nunca mais pára de passar. As peças são quase todas curtas e isso lembra de imediato John Zorn, mas Bill, por muito rápido que seja – e não é, o seu discurso atira antes para o tortuoso e para a ruminação –, não consegue ser tão conciso nem sintético como o saxofonista. Sobretudo a “country” e os “blues” surgem como motivos fugazes, bem como certas referências à cançoneta, à bossa-nova, ao som ECM e ao próprio Zorn. Mas Bill mói e remói até ficar tudo uma pasta sem sabor. A Bill Frisell faltará talvez a focagem, a força de uma música verdadeiramente original. Sobra cérebro, mas falta coração. Neste caso, será por não termos as imagens? Rezam as crónicas que na estreia, em Nova Iorque, em que os músicos actuaram ao vivo por baixo do ecrã durante a projecção, o público gozou que nem um perdido. Por mim, suspeito de que continuo a preferir um Buster Keaton mudo.
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