26/07/2008

Ritos de passagem [Peter Hammill]

Pop Rock

14 de Dezembro de 1994

RITOS DE PASSAGEM

Afinal Peter Hammill vem sozinho. À semelhança do que aconteceu no ano passado na mesma sala lisboeta onde o cantor irá de novo actuar no próximo fim-de-semana. Desilusão. Não que isso implique que vá ser um mau concerto. Há dois anos, em solo absoluto, o ex-Van Der Graaf rubricou duas actuações notáveis no S. Luiz. Só que tinha sido anunciada a vinda com ele de um grupo de músicos, e já se antecipava o prazer de escutar o saxofone de David Jackson, o baixo de Nic Potter o violino de Stuart Gordon, três músicos que, em formações diferentes, fizeram parte dos Van Der Graaf Generator.
Não sendo talvez esta a melhor altura para dissecar tais estratégias, embora salte aos olhos que sai mais barato pagar a um único músico do que a uma banda inteira, fica qualquer coisa atravessada, como se nos tivessem oferecido um doce e no último momento nos tivessem tirado da boca.
Vamos ter pois que nos contentar uma vez mais com a voz, que não é pouca, a guitarra e o piano de Peter Hammill. E saborear ao máximo as canções e interpretações ultra-expressivas do cantor. Será uma nova passagem em revista de temas antigos, como sempre relidos por Hammill segundo a inspiração e o estado de espírito do momento, e a apresentação ao vivo, em moldes obviamente diferentes do disco, dos cinco temas que compõem o novo álbum “Roaring Forties”.
Foi sobre cada um destes temas que pedimos a Peter Hammill um pequeno comentário. Aqui vão as “respostas instantâneas”, ou “impressões em forma de ‘flash’”, como o próprio as classificou. Quanto a “Roaring Forties”, na sua totalidade, Hammill define-o como “um trabalho sobre os ritos de passagem, do tempo, das falhas entre o conhecimento, a inocência e o ego”, cujas canções tanto podem ser apreciadas a um “nível superficial” como a um nível “mais profundo”.

“SHARPLY UNCLEAR”
“Esta fonte de conhecimento e de autoconfiança provoca um estado de auto-maravilhamento excessivo. Sob o esqueleto externo do desmame e da crença em nós próprios (e, como consequência, a falta de crença em todos os outros que têm perspectivas alternativas). Está alguém em casa?...”

“THE GIFT OF FIRE”
“Entretanto, esta rapariga não sabe o suficiente. O facto de os seus dons serem em grande parte sustentados pela sua inocência não é suficiente para a proteger, ou para os proteger, de serem manchadas pelas apreciações dos outros. A verdade nunca é absoluta…”

“YOU CAN´T WAIT”
“Portanto o melhor é vivermos o momento. Ansiar por um futuro ou por um passado ideais nega-nos a possibilidade de viver o presente. É lógico, então, dizer que o futuro e os presentes passados são de igual forma renegados. É tão óbvio… mas tão difícil de viver. De facto, se alguém o conseguisse, seria viver um momento universal de transcendência.”

“A HEADLONG STRETCH”
“Os ritos de passagem sucedem-se sem parar. As personalidades que nós somos foram e vão ser criadas. Esta peça liga entre si muitas das minhas preocupações, das quais o tempo e o ego não são das menos importantes. Conseguir obter uma linha essencial de significado a partir desta tapeçaria de impressões momentâneas é algo de impossível. Se o conseguisse fazer, não estaria nesta profissão de escrever canções, que são, pela sua própria natureza, abertas.”

“YOUR TALL SHIP”
“Uma recapitulação de algumas linhas de pensamento atrás enunciadas, e de outras diferentes. A viagem que vale a pena fazer não é através de um reservatório. Enfrentar a tempestade é um dever que temos para connosco próprios. E isso não pára.”

PETER HAMMILL

16 de Dezembro, Cinema do Terço, Porto

17 de Dezembro, Teatro S. Luiz, Lisboa

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