POP ROCK
9 Abril 1997
world
9 Abril 1997
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Colónia de férias
AD VIELLE QUE POURRA
Ménage à Quattre (9)
Xenophile, distri. MC – Mundo da Canção
“Ménage à Quattre” é o quarto álbum desta banda canadiana, depois de “Ad Vielle Que Pourra”, “Come what May” e “Musaїque”. Com este novo álbum, os Ad Vielle ultrapassaram o impasse a que tinham chegado no anterior “Musaїque”., onde era visível alguma desorientação quanto à direcção musical a seguir, recuperando a coesão e a frescura do primeiro álbum. De fora ficou a fusão pela fusão, o que não significa que os Ad Vielle perderam o sentido da diversão e a atenção ao que se passa em volta. Digamos que instalados nos novos territórios, depois de um período de estranheza e acomodação, o grupo aprendeu rapidamente as novas regras, retirando toda a espécie de dividendos dessa colonização. Descontraídos, saboreiam as férias.
Os Ad Vielle inventaram o seu próprio conceito de “tradição”, identificável não só através do estilo, como de um som particular e de uma aglutinação feliz de uma multiplicidade de tendências. Mais do que o estabelecimento de parâmetros instrumentais fixos, o que acontece é a instalação de uma atmosfera específica, sem fronteiras redutoras mas obediente a uma estética global.
A “suite” de “bourrées” e polca que abre o álbum é do melhor que a banda alguma vez nos ofereceu, com ênfase, mais forte do que nunca, na sanfona, num fabuloso diálogo entre Daniel Thonon e Pierre Imbert. “Kalamantiano” é definido como uma doença grega que junta o bandolim “bluegrass”, tocado com a sensibilidade de um “acadiano”, com acompanhamento de um tocador de sanfona belga e uma “darbuka” árabe. Entre os vários tradicionais e adaptações, inclui-se “Cine Citta”, uma homenagem a Nino Rota, e uma dança da Renascença tocada em clarinetes diatónicos do séc. XIX, guitarra, piano e sanfona, “nenhum destes instrumentos feitos para tocar em conjunto uns com os outros”. “Tarondelle” exibe um “cocktail” de “scottishe-swing”, enquanto as sanfonas volteiam no “rock and reel” de “Un fronças au Kébak” e “Andromadére” distorce um “an dro” numa dança “judaico-céltica” com ritmo bretão e melodia hebraica. “Le cultivateur” prova que não são só os Hedningarna a fazer vandalismos…
Entretenham-se anda com o “air” trocadilhado de “Ad va que pour elle”, empanturrem-se de espírito brincalhão com “Ça manque pás de celtes” e irritem-se um pouco com os vagidos desafinados do filho de nove anos de Daniel Thonon, em “Écoutez! les mamans”. Neste mundo de valsas, vocalizações no estilo característico de Quebeque, colagens de música antiga, bailes “musette” e romances de personagens fantásticas, cabem todas as fantasias, num álbum e num grupo que desafiam classificações.
1 comentário:
É muito bom ver uma crítica como essa à respeito de uma banda tão pouco conhecida, e da mesma maneira tão rica e interessante.
Gostaria que pudéssemos trocar figuras, Tiago!
Um grande abraço,
Camila Oliveira
halle_veilchen@hotmail.com
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