POP ROCK
14 Maio 1997
portugueses
14 Maio 1997
portugueses
V Império
Mar de Folhas
ED. E DISTRI. MOVIEPLAY
A aposta é forte, em termos de promoção. O 5º Império (da música portuguesa, lê-se nas entrelinhas…) sai dia 5 de Maio (quinto do calendário). Três vezes cinco. A imagem e conceito subjacente são familiares. Portugal e a sua História, os mitos, a nostalgia, o mar, a saudade, o destino, os bravos feitos, enfim, o quadro de honra do nosso orgulho, já que o presente deixa muito a desejar (a este propósito, consulte-se a letra de “Ventos de história”, um verdadeiro manual compilado pelo senhor de La Palice).
Um quadro que começou a ser desenhado na música popular portuguesa pelos Heróis do Mar, prosseguiu com a Sétima Legião e culminou nos Madredeus. Mar que está a dar uvas, onde navegam a Ala dos Namorados, Paulo Bragança e Frei Fado d’el Rei. Curiosamente, os V Império cruzam toda esta imagética com um universo musical cujo apuramento se deve a Rodrigo Leão e Vox Ensemble. “Mar de Folhas” segue fórmula idêntica, juntar tecnologia sofisticada com textos passadistas. Mas se Rodrigo Leão foge a seguir a via fácil da tal portucalidade aprendida, tantas vezes à pressa, camuflando os seus mitos pessoais no latim e numa atmosfera de missa universal, os V Império ligam a música a uma veia romântica nacional que mergulha as suas raízes num postal ilustrado de Sintra. Depois, enquanto o ex-Sétima Legião e Madredeus recorre aos coros, o Império contra-ataca com naipes de instrumentistas clássicos.
Tudo é levado aos extremos da pompa e do enfeite, nesta aliança dos sintetizadores e “samplers” de João Gata e Rui Ricardo, com solistas como Aníbal Lima (violino), Alexandra Mendes (violino e viola de arco), Paulo Teixeira (oboé e corne inglês) e João Murcho (violoncelo) e a voz da cantora do grupo, Íris. Por falar nela, temos que falar nos Madredeus. Ouça-se, por exemplo, um tema como “Sempre (em ruelas sem nome)”. O difícil é encontrar diferenças tanto ao nível da composição como entre cada entoação de Íris e de Teresa Salgueiro. Um exercício, de resto, aplicável a muitas outras canções de “Mar de Folhas”.
O odor classicizante sente-se à distância. Nada é simples nem evidente. Exige-se solenidade e tragédia. As cordas afogam em mágoas cada nota gemida por Íris. Michael Nyman espreita, como não podia deixar de ser, em cada arremetida. Não custa apreender o truque e resulta sempre. “Décadas” é mesmo um decalque perfeito da música do compositor inglês. Se algum dia for feita a versão portuguesa de “O Piano”, algo chamado, sei lá, “A gaita de amolador” ou “O bombo”, os V Império estão prontos para assinar a banda-sonora.
“Mar de Folhas” é o exemplo acabado da exploração de um conceito gasto. Não traz nada de novo à música portuguesa, reduzindo-a, ainda por cima, a uma visão demagógica onde o culto das formas (tão gastas como o conceito) substitui o acto de criação. Um longo, longo bocejo onde as ideias estão mais mortas do que as próprias folhas. (2)
Sem comentários:
Enviar um comentário