Sons
23 de Outubro 1998
POP ROCK
Em órbita
Combustible Edisom
The Impossible World (8)
Bungalow/Sub Pop, distri. Symbiose
“A nossa música é para ser ouvida depois da meia-noite, ao anoitecer e ao amanhecer, a horas misteriosas em que tudo pode acontecer.” Estas palavras, proferidas por Nicholas Cuday, líder dos Combustible Edisom, a propósito do álbum anterior do grupo, “Schizophonic!”, continuam a poder aplicar-se a este novo trabalho. Este “mundo impossível” é o mesmo que leva Cuday a dizer que gostaria que a música do grupo “fosse ouvida em estações espaciais”. Cultores do novo easy listening, ao lado dos Stereolab e The High Llamas, os Combustible Edisom vêem na reapropriação desta música que fez escola nos anos 50 e 60, através de gurus como Juan Esquivel, Lalo Schiffrin, Burt Bacharach, Martin Denny ou Arthur Lyman, mais do que um género musical uma atitude capaz de incorporar a experimentação, mas sem perder de vista a acessibilidade, citando a propósito, como referências, Stravinski e Pierre Henry.
E, se o easy listening original recorreu, ainda antes do rock, a toda uma panóplia de instrumentos electrónicos, dos modelos mais arcaicos de sintetizadores ao “theremin” e outros híbridos entretanto extintos, os Combustible Edisom fazem também, a seu modo, um uso sistemático de toda essa artilharia, carregando-a de poesia e de imagens que parecem tiradas de filmes de David Lynch como “Veludo Azul” ou uma versão colorida de “Eraserhead”.
A “space age bachelor pad music” dos Combustible Edisom gira em órbita fora da atmosfera terrestre. No interior da sua estação espacial as guitarras, o vibrafone e os sintetizadores de porcelana flutuam numa dança que a voz de Lily Banquette transforma em canções sobrenaturais. Todos os lugares-comuns do easy listening passam por “The Impossible World” para deixarem de o ser. Com a elegância de um “bal musette” parisiense, em “Dior” (lembram-se de “Anne Marie Beretta”, aventura nos meandros da alta costura de Steve Beresford com John Zorn?...), ou a insustentável pureza de “In the garden of the earthly delights”. Porque de cada um destes fotogramas salta um grão de transgressão e de loucura. Ou de sonho, essa “dimensão assombrada” de uma “música que vem de um outro tempo e de outra dimensão”, ainda nas palavras de Nicholas Cuday. Os Combustible Edisom são o lado luminoso do pesadelo que nos Portishead implode e neles explode com a intensidade de uma supernova.
23 de Outubro 1998
POP ROCK
Em órbita
Combustible Edisom
The Impossible World (8)
Bungalow/Sub Pop, distri. Symbiose
“A nossa música é para ser ouvida depois da meia-noite, ao anoitecer e ao amanhecer, a horas misteriosas em que tudo pode acontecer.” Estas palavras, proferidas por Nicholas Cuday, líder dos Combustible Edisom, a propósito do álbum anterior do grupo, “Schizophonic!”, continuam a poder aplicar-se a este novo trabalho. Este “mundo impossível” é o mesmo que leva Cuday a dizer que gostaria que a música do grupo “fosse ouvida em estações espaciais”. Cultores do novo easy listening, ao lado dos Stereolab e The High Llamas, os Combustible Edisom vêem na reapropriação desta música que fez escola nos anos 50 e 60, através de gurus como Juan Esquivel, Lalo Schiffrin, Burt Bacharach, Martin Denny ou Arthur Lyman, mais do que um género musical uma atitude capaz de incorporar a experimentação, mas sem perder de vista a acessibilidade, citando a propósito, como referências, Stravinski e Pierre Henry.
E, se o easy listening original recorreu, ainda antes do rock, a toda uma panóplia de instrumentos electrónicos, dos modelos mais arcaicos de sintetizadores ao “theremin” e outros híbridos entretanto extintos, os Combustible Edisom fazem também, a seu modo, um uso sistemático de toda essa artilharia, carregando-a de poesia e de imagens que parecem tiradas de filmes de David Lynch como “Veludo Azul” ou uma versão colorida de “Eraserhead”.
A “space age bachelor pad music” dos Combustible Edisom gira em órbita fora da atmosfera terrestre. No interior da sua estação espacial as guitarras, o vibrafone e os sintetizadores de porcelana flutuam numa dança que a voz de Lily Banquette transforma em canções sobrenaturais. Todos os lugares-comuns do easy listening passam por “The Impossible World” para deixarem de o ser. Com a elegância de um “bal musette” parisiense, em “Dior” (lembram-se de “Anne Marie Beretta”, aventura nos meandros da alta costura de Steve Beresford com John Zorn?...), ou a insustentável pureza de “In the garden of the earthly delights”. Porque de cada um destes fotogramas salta um grão de transgressão e de loucura. Ou de sonho, essa “dimensão assombrada” de uma “música que vem de um outro tempo e de outra dimensão”, ainda nas palavras de Nicholas Cuday. Os Combustible Edisom são o lado luminoso do pesadelo que nos Portishead implode e neles explode com a intensidade de uma supernova.
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