10|DEZEMBRO|2004 Y
discos|roteiro
PAOLO CONTE
Elegia
Atlantic,
distri. Warner Music
9|10
A
música e as palavras de Paolo Conte vêm de cidades fantasmagóricas, de teatros
ao crepúsculo, na ressaca de pecados românticos. “Eu tinha uma paixão pela música/Pela
música ferrugenta/Metropolis negra pintada de ferrugem quente…”, os primeiros
versos que canta em “Elegy”, sobre piano Debussy, apontam a estrada perdida dos
sonhos deste “crooner” de voz grave. “Sandwich man” com os seus encontros sob a
abóboda de um jazz de saxofones de saltimbanco antecede o magistral “The
chinese house”, falando da procura de uma casa de prazeres numa rua de vazio.
Na música de Conte o cérebro entontece-se de prazeres numa casa de ópio que
nunca conheceu. “Frisco” é Babilónia e Ninevah, “chic and ambitious like a
cretonne sofá”. Trombones bêbedos, um clarinete desnorteado de paixão, violinos
choram até o filme se focar na imagem de um navio ao largo de “Chissá”,
evocando “E la Nave Va” de Fellini, e, foneticamente, uma canção de outro álbum
de Conte. “Chissá, chissá/La nave passerá/Chissá se là/Qualcuno salirá…”. Paolo
dança a valsa dos danados em “Molto lontano”, entrega-se à obsessão de “La
nostalgia del Mocambo”. “Elegia” é “Índia”, notas de piano que se espetam como
pregos, “infinita alegria”, arranjos prodigiosos na criação de ambientes que
nos arrasam por dentro, “de um erotismo ilimitado/Que tem quase um ar de
ilusão/Como um mistério murmurado/Nas teclas de um bandoneon”. Conte é o grande
poeta tonto da música popular deste século.
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