QUARTA-FEIRA,
28 JUNHO 2000 cultura
Lenda da canção argentina
entusiasma a Aula Magna
India
songs
AOS 65 anos, Mercedes Sosa continua a ser senhora de
um vozeirão. A cantora argentina que é uma das lendas vivas da canção popular
sul-americana levou ao rubro uma assistência composta maioritariamente por fãs
que, na noite de sexta-feira, quase encheu a Aula Magna da Universidade de
Lisboa.
Apesar
de ser uma viatura de luxo Mercedes entrou no espetáculo em regime de baixas
rotações. Coberta da cabeça aos pés com um vestido e uma écharpe vermelha
enrolada em volta do pescoço, a cantora veterana de rosto índio, parecia uma
estufa ambulante. A voz, porém, impôs-se de imediato, mesmo se toda a primeira
parte do concerto incidisse no reportório de baladas interventivas que
construíram parte da sua reputação e ajudaram a fundar, nos anos 60, o
movimento “Nuevo Cancionero Argentino”, culminando com uma tocante
interpretação de “Gracias a la vida”, de Violeta Parra e com “Alfonsina y el
mar”, a canção que lançou a sua já longa carreira.
Impercetivelmente
foi surgindo a outra Mercedes Sosa. Com a troca dos manifestos de liberdade
pela liberdade do canto livre das ideologias, e da écharpe vermelha por uma
verde.
Uma
espantosa sucessão de cinco temas encetados com o épico “Los hermanos” e
coroada com “Como pajaros en el aire” mostrou a Mercedes étnica, um
todo-o-terreno, digamos assim, que projetou a voz nos registos do grito e das
técnicas de canto tradicionais tribais (improvisadas?) atirando as emoções para
a flor da pele e expondo o canto nas suas texturas mais carnais. Socorrendo-se,
num par de temas, de um tambor, Mercedes Sosa mostrou nessa altura toda a
intensidade que a sua música pode ter.
“De
fiesta en fiesta”, “Vestido y un amor”, “Solo le pido a Dios”, “Viejas
promesas” e “Sina”, do brasileiro Djavan, levaram o concerto ao colo até a
apoteose, “Maria, Maria”, da dupla, também brasileira, Milton
Nascimento/Fernando Brant, com o refrão, conhecido de todos, a ser entoado em
coro, de pé, pela assistência em peso.
Eram
inevitáveis os “encores”, pedidos de forma insistente, quase em delírio, com
gritos atirados da plateia a pedirem esta ou aquela canção. Mercedes Sosa,
fatigada mas deliciada com o acolhimento do público português, acedeu, voltando
ao palco por duas vezes, numa delas para interpretar novo tema de Violeta
Parra, “Volver a los 17”, em ambas repetindo o refrão de “Maria, Maria”, aquele
que estava no ouvido de todos. Ao fim de quase 40 anos de carreira, Mercedes
está longe de precisar de ir à revisão.
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