cultura TERÇA-FEIRA, 4 JULHO 2000
Vitorino e Septeto Habanero atuam
juntos em mini-digressão
O
bolerista e os soneros
Vitorino,
o bolerista, e os soneros Septeto Habanero voltam a apresentar-se juntos e ao
vivo em Portugal, retomando uma colaboração encetada em disco com o álbum
"La Habana 99". Boleros para fazer dançar Portugal até ao final de
Agosto.
O bolero,
uma das danças típicas e mais românticas da música tradicional cubana, há muito
que anda a bailar na cabeça do cantor alentejano Vitorino. Um amor antigo,
moldado em recordações de infância, filtradas "através do travesseiro duma
cama de ferro", em casa do avô Salomé, onde, no rés-do-chão transformado em
sala de ensaios, mesmo por baixo do seu quarto, uma pequena orquestra da
família "executava com enorme prazer e divertimento as grandes canções
clássicas dos anos 40/50 americanas, assim como os velhos boleros, mambos e
tchás". "A minha avó mandava-me cedo para a cama e eu adormecia num
delicioso sono de acordes longínquos e que a distância e a espessura das
paredes adoçava e transformava em música de anjos brincalhões e heróis, que me
enchiam a imaginação e os sentidos", recorda o autor de "Flor de la
Mar" na folha de apresentação do álbum "La Habana 99", gravado
no ano passado em Havana, com o Septeto Habanero, formações mítica da música
cubana. Com a gravação deste disco ficava concretizada metade desse sonho.
A
segunda cumprir-se-á finalmente através de uma série de espetáculos que hoje,
amanhã e na quarta-feira têm lugar no Teatro Tivoli, em Lisboa, prosseguindo
ainda este mês em Vila Nova de Famalicão (dia 7), Braga (dia 8) e, já em
Agosto, Portimão (14), Açores (18), Porto (19) e Viseu (26). Para trás ficam as
más recordações da estreia ao vivo do cantor alentejano com o grupo cubano, no
ano passado, no Parque das Nações, ao ar livre de uma noite gelada de
Fevereiro, onde faltou clima e público a uma música toda ela apaixonada pelos
perfumes e danças dos trópicos. "Entrava-nos a nortada pela boca
adentro", recorda Vitorino ao PÚBLICO. Entre esse Inverno e este Verão,
gravaram no ano passado em Havana o álbum "La Habana 99" que com as
suas 30.000 unidades já vendidas em Portugal se prepara para ser disco de
platina.
Desta
feita, "com condições ideais" e numa "sala lindíssima",
tudo se conjuga para uma noite que permitirá reviver os sons e as imagens da
época dourada, os anos 40 e 50, das danças de salão. Vitorino é o cantor
convidado do Septeto, após se ter oferecido como "voluntário".
"Eles procuravam um cantor para cantar com eles em Portugal e eu disse
logo: Sou eu!". Vitorino enviou-lhes alguns discos seus, os cubanos
ouviram, gostaram, e escolheram as canções. "Sou como um vocalista à boa
maneira dos anos 20" explica, com orgulho e visível satisfação, o cantor
alentejano que em breve lançará com o seu irmão Janita Salomé um álbum ao vivo
de canções menos conhecidas de José Afonso.
Quando
subir esta noite ao palco do Tivoli, Vitorino representará com gosto a mesma
personagem dessa época que teima em persistir em Cuba que encarna na capa de
"La Habana 99", a do cantor romântico, estrela de Santiago de Cuba e
de Hollywood. Do cantor de boleros, "porque o bolero é branco, o que tem a
pele mais clara, enquanto o 'son' já é mulato", diz, assumindo-se como
europeu. "Eles [o Septeto Habanero] avaliaram com muita acuidade as minhas
características e acharam que eu era bolerista. Sonero creio que não sou",
confessa. "Soneros são eles, eu sou bolerista". E pormenoriza, dando
mostras do conhecimento profundo que tem desta música presente no seu
imaginário desde criança: "O que eles fazem é o bolero-son, não é o
bolero-filin, um bolero muito declamado, próximo do fado".
Fazem
parte desta lenda viva da música de Cuba, que Vitorino honrará com todo o seu
saber e experiência de grande cantor do Sul, o veterano Pedro Ibañez (voz,
guitarra e líder do grupo), Emílio (voz e guijo), Digno (voz e clave), Joselito
(voz e maracas), Chino (trompete), Faustino (baixo9, Ferro (bongo) e Felipe
(guitarra).
VITORINO
COM SEPTETO HABANERO
LISBOA Teatro Tivoli, hoje, amanhã e 5ª feira, às
22h. Bilhetes entre 3000$ e 4500$.
Sem comentários:
Enviar um comentário