10 FEVEREIRO 1993
REEDIÇÕES
DEPECHE MODE
Speak and Spell (5)
A Broken Frame (6)
Construction Time Again (8)
Some Great Reward (6)
Black Celebration (7)
CD Mute, distri. Edisom
Pop electrónica ou electropop era como se chamava aos filhos, netos, primos e sobrinhos dos Kraftwerk que à entrada dos anos 80 resolveram pôr a mecânica electrónica ao serviço da canção pop. De uma lista imensa de grupos, sobressaíram, entre outros, os Orchestral Manoeuvres in the Dark, Human League, Heaven 17, Tubeway Army, Telex, Soft Cell, Silicon Teens, Berlin Blondes, Yazoo, Tears for Fears, Blancmange, New Musik, Japan e, claro, os Depeche Mode, cuja discografia de 1981 a 1986 está a partir de agora disponível no suporte compacto, a preço reduzido.
A banda de Alan Wilder, Andrew Fletcher, David Gahan e Martin Gore começou por não se distinguir da concorrência. “Speak and Spell” mostra uns Depeche Mode nitidamente influenciados pelos irmãos gémeos da corrente de Sheffield: Heaven 17 e Human League. Os primeiros em “Boys say go” e “Shout”, os segundos em “Nodisco”, “Tora! Tora! Tora!” e “Any Second Now”, este último uma réplica exacta da fase inicial deste agrupamento, correspondente ao EP “The dignity of labour”. Por outro lado, faixas como “Any second now” e “Dreaming of me” dificilmente se distinguem do que soava para as bandas dos Orchestral Manoeuvres. No seu todo, “Speak and Spell” (que inclui quatro temas extra) é minimalista à maneira dos Silicon Teens (é preciso não esquecer que a produção, em ambos os projectos, esteve a cargo de Daniel Miller, um dos impulsionadores do movimento), jogando numa batida primária próxima do “disco sound”.
No disco seguinte, “A Broken Frame”, os Depeche Mode deixam a música gelar. As canções desaceleram, as harmonias vocais tornam-se rebuscadas, dando a ideia de a banda se querer assumir como uns Beach Boys da era cibernética. Álbum sombrio, à imagem da capa, belíssima, inclui duas das canções mais inspiradas que até agora saíram da pena de Martin Gore, “See you” e “The Meaning of love”. Mas momentos há em que a música parece ter sido composta a metro, acabando por desvalorizar o todo.
“Construction Time Again” marca o apogeu, em termos de inspiração e originalidade, dos Depeche Mode. Menos preocupada em atingir franjas alargadas de mercado, a banda aproxima-se, em termos de conceito e sonoridade, da música industrial, havendo quem na altura considerasse os Depeche Mode uma versão pop dos Einstürzende Neubauten. Sem faixas só para encher, como acontecia nos álbuns anteriores, “Construction Time Again” deixou livre o caminho para Andrew Fletcher levar mais longe a experimentação no projecto que encetou a solo, Recoil.
Talvez assustados com a própria ousadia, os Depeche Mode dão um passo atrás com “Some Great Reward”. As posições extremam-se. Desta feita despojado de melodias que ficassem facilemente no ouvido, o álbum socorre-se de uma encarnação pirosa de Freddy Mercury, em “Somebody”, compensada pelo reforço da componente industrial, em “People are people” e, sobretudo, “Master and servant”. “If you want”, por sua vez, é o “Within you, without you” (George Harrison) da electropop, com “sitars” sintéticas a darem o tom.
Em “Black Celebration”, álbum conceptual sobre o “negro”, da “vida na chamada idade espacial” ao vestuário, os Depeche Mode voltam a acertar. Regressam as boas canções (“A question of lust”, “It doesn’t matter two”, “A question of time”, “Stripped”) a par do investimento no experimentalismo, explorado em profundidade nos três temas extras incluídos, do “proto dub” rodoviário de “Breathing in fumes” ao ambiente Urban Sax mais Suicide criado em “Black day”. Dos Depeche Mode de pode dizer que desde então perderam o estilo. O que, estando a ideia de “estilo” associada à própria génese da banda, é grave. Veremos o que o próximo capítulo tem para nos dizer – um novo álbum, “Songs of Faith and Devotion”, com edição prevista para Março.
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