Sons
19 de Março 1999
19 de Março 1999
Droga, loucura, morte
Toda a gente sabe que a principal causa de mortalidade entre a população rock é a droga. Janis Joplin, Jim Morrison, Jimi Hendrix, Sid Vicious e uma quantidade de outras estrelas rock (Tim Buckley, Gram Parsons, Tommy Bolin, Andy Gibb, Billy Mercia, dos New York Dolls, Paul Gardiner, dos Tubeway Army...) morreram devido à mesma praga, a droga. Bastaria esta realidade para desencorajar os mais novos de alguma vez pegarem numa guitarra eléctrica ou numa bateria. Porque o rock é o caminho mais curto para a droga e, de onde se depreende, para a morte. O rock, como a droga, mata. Mentes mesquinhas garantem que, sem a droga, músicos como os acima citados jamais teriam feito a música (quiçá, perniciosa) que fizeram. Não fora assim e sabe-se lá se não teríamos hoje elementos produtivos, úteis à sociedade, excelentes empregados de escritório ou agentes de seguros, talvez mesmo advogados de sucesso.
Mas não é só a droga a mãe de todos os males. Outras causas existiram que levaram desta para melhor nomes mais ou menos gloriosos da história do rock. Desastres de viação (Alan Barton, dos Smokie, Marc Bolan e Steve Curry, ambos dos T. Rex, Clarence White, dos Byrds, Harry Chapin, Eddie Cochran, Jerry Edmonton e Rushton Morebe, dos Steppenwolf, os rockers Johnny Kidd e Dickie Valentine; inclusive de bicicleta, como no caso de Nico) e de avião (Buddy Holly e Ritchie Valens, ambos no mesmo voo, Patsy Cline, Jim Reeves, Otis Redding, Jim Croce, Ronnie van Zant e Steve Gaines, dos Lynyrd Skynyrd, Paul Jeffreys, dos Cockney Rebel, Rick Nelson, John Denver...), overdose, queda de escadas (Sandy Denny), consumo desenfreado de substâncias ilícitas, enforcamento (nada mais nada menos do que cinco – Ian Curtis, Peter Ham, dos Badfinger, Phil Ochs, Michael Hutchence, dos INXS e Richard Manuel, dos The Band), ingestão desmesurada de psicotrópicos, hipnóticos, ácidos, antipiréticos e afins, enfim toda uma série de acidentes trágicos que puseram fim a tantas e tão promissoras carreiras.
Quanto ao álcool, pode gabar-se de ter acabado com as vidas de Bon Scott (dos AC/DC), John Bonham (Led Zeppelin), Brian Jones (Rolling Stones), Clyde McPhatter (Drifters), David Byron (Uriah Heep), Gene Vincent e Keith Moon (The Who). Uma anorexia nervosa levou Karen Carpenter, dos Carpenters. A sida fez o mesmo a Freddie Mercury, dos Queen. Frank Zappa e Bob Marley não resistiram ao cancro. De Divine pode afirmar-se que comeu demais.
Há mortes mais estúpidas do que outras. John Lennon, baleado à porta do seu apartamento em Nova Iorque, é um exemplo deste tipo de estupidez letal. Al Jackson (dos Booker T and the MGs), Peter Tosh, um dos heróis da soul music, Sam Cooke e Marvin Gaye foram igualmente atingidos por tiros. Os dois primeiros, por gatunos. Cooke, por uma mulher que perseguia um pretenso violador. Gaye sucumbiu a um tiro disparado pelo seu próprio pai. Michael Mensom, dos Double Trouble, foi atacado por um “gang” de adolescentes que o regaram com gasolina e lhe pegaram fogo. Vivian Stanshall, do grupo cómico Bonzo Dog Doo Dah Band, e Steve Marriott, dos Small Faces, morreram em incêndios nas respectivas casas. Keith Relf, guitarrista dos Yardbirds, caiu electrocutado. Johnny Ace, um obscuro baladeiro norte-americano dos anos 50, perdeu a vida numa jogada infeliz de roleta russa. Graham Bond, músico inglês de jazz e blues dos anos 70, foi atropelado pelo metropolitano. O rocker Johnny Burnette morreu num acidente de pesca.
Mas há o reverso da medalha. Morrer cedo, para um músico, significa a sua mitificação, nalguns casos a santidade. Na condição, bem entendido, de a circunstância ser devidamente acompanhada por uma apropriada campanha promocional e pelo apoio dos “media”. Morrer é, nesta profissão, o caminho mais curto para o sucesso. Para a indústria a morte possui ainda o atractivo adicional de diminuir vitaliciamente as despesas com o artista e de garantir muitos e bons ganhos a longo prazo, graças à sábia administração de todo o material gravado que se conseguir sacar do caixote do lixo e guardar em arquivo para poder dedicar-se ao lançamento de futuras reedições com “material inédito” do falecido, constituído por demos, versões alternativas, ensaios, conversas de cama e outros rasgos de génio antes incompreensivelmente escondidos do público.
Claro que as vítimas sabem o que fazem e no que se metem. Acontece que muitas não aguentam. Ian Curtis, por exemplo, ou Kurt Cobain (cujo quinto aniversário da morte, em Abril próximo, está já a ser devidamente preparado) não aguentaram a suprema dor de estar vivo, as pressões do “show business” e os fracassos pessoais. No seu caso a aura de “românticos” assenta-lhes bem. Como, de resto, a todos os suicidas: Nick Drake, Peter Ham e Tom Evans, dos Badfinger, Terry Kath, dos Chicago, Marge Ganser, das Shangri-Las, Del Shannon, Paul Williams, dos Temptations, Richard Manuel, dos The Band e Phil Ochs.
A outros, porém, a morte apanhou-os de surpresa, sem aviso prévio. Esses não tiveram tempo de preparar o testamento, vítimas que foram da estupidez do destino. Talvez por isso, como no caso de Sandy Denny, que morreu ao cair de uma escada, a entrada na galeria dos mitos demorasse mais e necessitasse de requerimento, ficando em primeiro lugar para a eternidade a música, no lugar dos episódios, mais ou menos agitados e escandalosos, da vida de “star”.
Seja qual for, porém, a circunstância da morte, ficará para sempre a dúvida do que poderia ter sido a vida e obra dos que se foram antes de tempo. O que seriam hoje, se fossem vivos, Brian Jones, Jimi Hendrix, Jim Morrison? Conseguiriam eles sobreviver ao seu próprio passado ou, pelo contrário, teriam feito as pazes com a existência, aproveitando as suas benesses? Seriam ainda génios malditos ou estariam a jogar golfe com Alice Cooper e Phil Collins, a fazer duetos com Pavarotti ou a compor bandas sonoras para filmes de Walt Disney? Ninguém sabe. Ficaram a música e as lendas. Sobretudo a música, como única verdade absoluta capaz de sobreviver ao seu criador. E, paradoxalmente, à aura, tantas vezes mistificadora, criada em torno dela pela morte, essa entidade assustadora que chegará inevitavelmente para nos confrontar com o nada. E com o que sobrevive para além dele. Para os registos de necrofilia ficam as fichas de algumas das mortes mais bem documentadas. Fichas secas. Como a morte.
“Too old to rock’n’roll, too young to die”
(título de um álbum dos Jethro Tull)
Hank Williams (1923-1952)
Sofrendo de uma dor crónica nas costas, Hank procura alívio no consumo sistemático de analgésicos, tornando-se rapidamente viciado. Começa a falhar concertos, chegando aos recintos atrasado e bêbedo. No último dia do ano de 1952 a estrela da country sente-se mal durante uma viagem de carro e é transportado para um hotel de Knoxville, no Tennessee, onde chega já inconsciente. É chamado um médico que lhe ministra uma injecção com uma mistura de morfina e vitamina B. No dia seguinte, Williams é transportado, ainda inconsciente, de novo de automóvel, para o Ohio, numa viagem atribulada. Um polícia de trânsito obriga o condutor a parar por excesso de velocidade e pergunta, com ironia, se o músico está ou não vivo. Williams é conduzido finalmente a um hospital, na Virgínia, onde é declarado morto.
Buddy Holly (1936-1959) e
Ritchie Valens (1941-1959)
Dia 3 de Fevereiro de 1959. A meio de uma digressão, a “Winter Dance Party Tour”, Buddy Holly decide animar o estado de espírito da sua banda e recusa viajar num desconfortável autocarro. Aluga um voo “charter” num pequeno aparelho Beechcraft Bonanza que o deveria levar de Clear Lake, Iowa, a Moorhead, no Minnesota. Com ele seguem Richie Havens (que ganhara esse direito no jogo da moeda ao ar com o guitarrista do grupo. Tommy Alsup, e o disc-jockey Big Bopper, autor de “Chantilly lace” (que consegue o lugar por troca com Waylon Jennings). O avião descola às duas da madrugada no meio de uma tempestade de neve e cai pouco tempo depois, embatendo contra um muro e matando todos os que seguiam a bordo. O acidente serviu de inspiração ao “hit” de 1972 de Don McLean, “American pie”.
Jimi Hendrix (1942-1970)
Jimi Hendrix era um génio da guitarra. Com ou sem a ajuda da heroína, a sua Fender Stratocaster falava, gritava, explodia e incendiava-se num dos discursos virtuosísticos mais inovadores de sempre deste instrumento. Uma acumulação de excessos que se estendia à sua vida privada. Passa o dia 17 de Setembro com a sua namorada, Monika Dannemann. No dia seguinte, de manhã, ingere alguns comprimidos para dormir e, algum tempo depois, Monika repara que ele se está a sentir mal. Tenta acordá-lo. Em vão. No hospital diagnosticam uma mistura mortal de álcool e barbitúricos.
Janis Joplin (1943-1970)
Os Kozmic blues da cantora que engolia garrafas inteiras de whisky nos concertos deixam de se ouvir a 4 de Outubro. Janis é encontrada morta num quarto do Landmark Hotel, em Hollywood, com marcas recentes de agulha no braço. “Overdose” de heroína. Tinha agendado a gravação das partes cantadas de “Buried alive in the blues”, “enterrada viva nos blues”. Anos antes proferira a seguinte frase, quando da morte do presidente Eisenhower, impedindo, deste modo, a publicação de uma foto sua na capa da “Newsweek”: “Depois de resistir a 14 ataques de coração, tinha logo de morrer na minha semana. Na MINHA semana!”
Jim Morrison (1943-1971)
Circunstâncias da morte: o mistério e a dúvida ainda hoje permanecem cerrados em torno da morte do carismático cantor dos Doors. Há mesmo quem afirme que ele continua vivo, retirado da vida pública, e que a sua “morte” não passaria de um embuste destinado a camuflar o seu desaparecimento. No dia 5 de Julho o empresário dos Doors, Bill Siddons, chega a casa de Jim, em Paris, onde o músico se tinha exilado, e encontra a Pamela, a sua namorada da altura, já com o caixão selado e uma certidão de óbito assinada por um médico francês. Causa da morte: ataque de coração motivado por “overdose” de heroína. O túmulo no cemitério de Père Lachaise, onde Jim Morrison se encontra enterrado (ou não se encontra, de acordo com a teoria dos que afirmam que ele está vivo...) tornou-se, ao longo dos anos, num lugar de culto.
Marvin Gaye (1939-1974)
Problemas de impostos, conflitos com a editora, a mulher que o engana com Teddy Pendergrass e o consumo desregrado de cocaína provocam em Marvin, autor de “What’s going on” e “Sexual healing”, uma paranóia crescente que o leva a desconfiar de toda a gente e a amontoar armas em casa. Na manhã de 1 de Abril de 1984, o pai, alcoólico, força a entrada em casa do músico, que o considera um intruso. A mãe de Marvin separa os dois mas Marvin Gaye sénior volta à carga e dispara um primeiro tiro de revólver que atinge o filho no peito. Volta a disparar já com ele caído no chão.
Nick Drake (1948-1974)
“Não consigo pensar em quaisquer palavras. Não sinto emoções sobre coisa nenhuma. Não quero rir nem chorar. Sinto-me dormente. Morto por dentro.” São declarações de Nick Drake, confrontado com uma eterna depressão e a dificuldade em arranjar letras para o seu álbum de estreia, “Five Leaves Left”. Na manhã de 25 de Novembro de 1974 o poço engoliu-o de vez. A mãe, Molly Drake, dirige-se ao quarto de Nick para o acordar. Tarde de mais. Nick sucumbira a uma dose exagerada de sedativos. No gira-discos ainda rolava um dos concertos brandeburgueses de Bach. À cabeceira descansavam as páginas de “O Mito de Sísifo”, de Albert Camus.
Tim Buckley (1947-1975)
O autor das fantasmagorias “Happy Sad” e “Starsailor” corria velozmente atrás da noite. Encontra-a na noite de 29 de Junho. Tim dirige-se, meio ébrio, a casa de um “amigo”, Richard Keeling, à procura de heroína. Richard, apanhado prestes a drogar-se, reage com alguma agressividade e prepara-lhe uma dose com uma mistura de heroína e morfina, desafiando-o: “Toma, fica com tudo!” Tim aceita o desafio, convencido de que se trata apenas de cocaína e snifa o pó todo de uma vez. Morre no hospital de Santa Mónica. Longe das estrelas com que costumava sonhar. O seu filho e digno sucessor, Jeff Buckley, morre a 29 de Maio 1997, afogado nas águas do porto de Mud Island, a ouvir “Whole lotta love”, dos Led Zeppelin. Em “You and I”, canção do seu segundo álbum, canta: “Ah, a calma que existe por baixo daquele rio selvagem e envenenado.”
Marc Bolan (1947-1977)
A 16 de Setembro, o ex-hippie e rei do glam rock sai de carro com a sua amiga Gloria Jones e alguns amigos para ouvir música no clube Speakeasy e jantar no restaurante Morton. Ele e Gloria arrancam de regresso às 4 da manhã no Mini 1275 GR roxo de Gloria. Uma hora depois o automóvel esbarra contra uma árvore, numa curva a seguir à ponte de Queen’s Ride, no Sudoeste de Londres. Gloria fica gravemente ferida. O fundador dos Tyrannosaurus Rex morre.
Sandy Denny (1941-1978)
Cair de uma escada abaixo é uma morte pouco gloriosa, mas foi esta a maneira que o destino encontrou para pôr fim à vida da maior voz de sempre da folk inglesa. Sandy sofreu o acidente no dia 21 de Abril, na casa de um amigo. Partiu a cabeça e entrou imediatamente em coma, falecendo pouco tempo depois já no hospital, vítima de uma hemorragia cerebral, sem voltar a recuperar a consciência. O desastre aconteceu quando ela e o marido planeavam mudar-se para os Estados Unidos, para um relançamento da carreira. A morte da cantora dos Fairport Convention e dos Fotheringay aconteceu nove meses depois do nascimento da primeira filha do casal, Georgia.
Sid Vicious (1957-1979)
Sid Vicious, para falar verdade, parece nunca ter estado vivo. Da anarquia punk dos Sex Pistols, lado a lado e aos encontrões, com Johnny Rotten, às convulsões a solo e ao romance infectado com o seu grande amor, Nancy, tudo na existência de Sid apontava para o descalabro e para o niilismo. Nancy é encontrada no dia 12 de Outubro de 1978 na casa de banho de sua casa, encharcada numa poça de sangue com uma faca de mato a seu lado. Sid admite à polícia ter sido ele o assassino. É acusado de assassínio em segundo grau. Desesperado com a morte de Nancy, Sid é preso por causar desacatos num clube nocturno, mas sai em liberdade no dia de audiência. Vai a correr para o apartamento da sua mais recente namorada, Michelle Robinson, injectar-se. Segue-se nova dose, com material mais puro, o que, a seguir a um período (forçado) de abstinência (na prisão), não costuma dar bons resultados. Sid entra em colapso. Mas volta a si e adormece. Acorda a meio da noite para mais um chuto. O último. Alguém disse de Sid Vicious que “cultivava uma imagem de antagonismo”. Ele preferia cantar uma versão de uma canção de Frank Sinatra e dizer: “This is my way.”
John Lennon (1940-1980)
Depois de conseguir, na manhã de Dezembro de 1980, um autógrafo de Lennon, Mark David Chapman, que viajara de Havai para Nova Iorque só para ver o seu ídolo, permanece seis horas em frente ao apartamento do ex-Beatle aguardando a sua chegada. Lê “Uma Agulha no Palheiro”, de J. D. Salinger, enquanto espera. Quando Lennon chega e sai da sua “limousine”, Chapman dispara sobre ele uma sequência de sete tiros. Lennon morre sete minutos depois. Chapman é preso e o seu livro confiscado. Numa das páginas escrevera: “Esta é a minha declaração!”
Ian Curtis (1956-1980),
Phil Ochs (1940-1976),
Peter Ham (1947-1975)
Enforcaram-se os três. Ian Curtis, líder da mais famosa banda do eixo neurodepressivo de Manchester dos anos 80, os Joy Division, enrola a corda ao pescoço imediatamente antes de um concerto. A morbidez das letras que escrevia, juntamente com a epilepsia e a depressão crónica de que padecia contribuíram para o desenlace fatal.
Phil Ochs, cantor de protesto, autor do hino anti-Vietname dos anos 60, “I ain’t marching”, sofre, numa viagem a África, um misterioso ataque de um estrangulador que o leva às portas da morte. Como consequência as suas cordas vocais ficam danificadas para sempre, facto que acentua a depressão de que já sofria. Não resiste, enforcando-se na casa de sua irmã.
No caso de Peter Ham, o insucesso de vendas dos álbuns dos Badfinger, depois de uma fase inicial marcada por canções de êxito, aliado a dissensões no seio do grupo, levam à rescisão de contrato com a editora e ao aparecimento da depressão. Problemas familiares fizeram o resto. Ham põe ponto final na amargura e enforca-se.
Bob Marley (1945-1981) e
Peter Tosh (1944-1987)
Em finais dos anos 80, num dos primeiros concertos de uma digressão pelos Estados Unidos, Bob Marley tem uma síncope em pleno palco. A digressão é cancelada e a Marley é diagnosticado um cancro no cérebro e nos pulmões. Morre sete meses mais tarde vitimado pela doença.
Peter Tosh, outra das lendas do reggae, é atingido a tiro por um gatuno quando este tenta assaltar a sua residência na Jamaica.
Karen Carpenter (1950-1983)
Aos 31 anos a cantora da dupla pop The Carpenters tomava laxantes e remédios para a tiróide, como resultado de tensão em demasia (provocada pela carreira e pela vida familiar), a par da dependência de drogas. Pesa nessa altura 35 quilos. Após algumas tentativas de tratamento e um internamento, parece melhorar e aumenta o seu peso para 41 quilos. No princípio de 1983, a 4 de Fevereiro, Karen faz uma visita à mãe, Agnes. Conversam sobre roupas. No dia seguinte a mãe encontra-a desfalecida no quarto. A autópsia menciona como causa da morte uma paragem cardíaca provocada por anorexia nervosa.
Nico (1940-1988)
Chamavam-lhe a deusa da lua. Nico, modelo, actriz e, acidentalmente, cantora, era um espectro. A sua figura de diva do outro mundo que assombra o álbum da banana dos Velvet Underground esfumou-se como a sua vida, entre drogas, alternando entre excitantes e calmantes, uma insónia permanente e uma carreira que todos manipulavam, sem, todavia, penetrarem na essência do mistério. A 18 de Julho, Nico, na altura a viver com o poeta John Cooper Clarck, embate com a sua bicicleta numa árvore e sofre uma hemorragia cerebral. A deusa da lua encontrou a morte sob o sol de Ibiza, onde estava a passar férias.
Fredy Mercury (1946-1991)
É uma das primeiras vítimas mediáticas da sida, doença que o cantor dos Queen apenas admite ter 24 horas antes do desenlace fatal, através de uma declaração pública: “Desejo confirmar que fui considerado seropositivo e que tenho sida. Achei correcto manter esta informação privada, até agora, para proteger a intimidade dos que me rodeiam. Contudo, chegou a altura de os meus amigos e fãs saberem a verdade. Espero que todos se juntem a mim e aos meus médicos contra esta terrível doença.”
Kurt Cobain (1967-1994)
Uma incompatibilidade crónica com a vida conduz o músico dos Nirvana à heroína, juntamente com a sua mulher, Courtney Love. Uma primeira tentativa de suicídio, por “overdose” voluntária, definida pelo casal como “um acidente”, falha. Os restantes elementos do grupo convencem Kurt a tentar a desintoxicação numa clínica. Kurt acede mas foge de imediato para Seattle deixando um bilhete a Love: “Lembra-te, aconteça o que acontecer, amo-te.” A 5 de Abril de 1994 Kurt barrica-se em casa. Deixa a carteira aberta no chão, com a carta de condução à vista, para facilitar a identificação. Injecta-se com heroína, encosta o cano de uma espingarda à testa e dispara. O corpo é descoberto apenas dois dias e meio mais tarde por um electricista que trabalhava em sua casa.
Jerry Garcia (1942-1995)
Consumidor compulsivo de cocaína, heroína, ácidos (recebera a alcunha de “Capitão Trips”) e tabaco (três maços por dia), Jerry Garcia tinha uma obsessão pela morte, chamando ao seu grupo Grateful Dead e enchendo as capas dos discos com caveiras. Após várias tentativas frustradas de desintoxicação (uma delas deixa-o em coma) faz um derradeiro esforço para se libertar da heroína numa clínica da Califórnia. Durante uma visita de rotina um advogado do centro encontra o músico já sem vida na sua cama, vítima de um ataque de coração.
A reportagem era complementada pelo seguinte texto, assinado por Luís Maio:
Outras Mortes Nada Naturais
Por abuso de drogas e álcool
1968 – Frankie Lymon
1969 – Brian Jones (Rolling Stones)
1973 – Gram Parsons (Byrds e Flying Burrito Brothers)
1974 – Robbie McIntosh (Average White Band)
1976 – Paul Kossoff (Free)
1978 – Keith Moon (The Who)
1979 – Tommy Bolin (Deep Purple)
1980 – Tim Hardin
1980 – John Bonham (Led Zeppelin)
1981 – Mike Bloomfield
1986 – Phil Lynott (Thin Lizzy)
1987 – Paul Butterfield (Butterfield Blues Band)
1988 – Andy Gibb (The Bee Gees)
1995 – Rob Stinson (Replacements)
1998 – Rob Pilatus (Milli Vanilli)
Por acidente
1960 – Eddie Cochran, num desastre de carro
1967 – Otis Redding e cinco membros da banda de suporte Bar-kays, num desastre de avião
1969 – Martin Lamble (Fairport Convention)
1971 – Duane Allman (Allman Brothers), num desastre de moto
1977 – Quatro dos Lynyrd Skynyrd, num desastre de avião
1985 – Rick Nelson, num desastre de avião e D Boon (Minutemen) num desastre de carro
1998 – Sonny Bono (Sony & Cher), num acidente de sky
Por assassínio
1964 – Sam Cooke
1974 – Harry Womack
1987 – Scott La Rock
1995 – Selena
1996 – Tupac Shakur
1997 – Notorious BIG
Por suicídio
1954 – Johnny Ace
1973 – Paul Williams (Temptations)
1976 – Phil Oachs
1979 – Donny Hathaway
1986 – Richard Manuel (The Band)
1997 – Billy McKenzie (Associates)
1997 – Michel Hutchence (INXS)
1998 – Wendy O. Williams (Plasmatics)
Esta lista inclui celebridades tão estimadas quanto as antes referidas, mas também artistas de culto, uns já esquecidos, outros sobretudo lembrados depois da morte. Também não pretende ser exaustiva, mas apenas acrescentar-se à primeira lista. LM
Informações compiladas dos livros “Dead before their time”, de Diana Karanikas Harvey e Jackson Harvey (ed. Metrobooks, 1996) e “Eles morreram cedo demais”, de Tony Hall (ed. Edinter, 1996).
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