Sons
19 de Fevereiro 1999
DISCOS – POP ROCK
Ryuichi Sakamoto
Love is the Devil (7)
Asphodel, distri. EMI-VC
“Love is the Devil" é um filme de John Maybury (colaborador de Derek Jarman em filmes como “Jubilee” e “The Last of England”) sobre a vida do pintor inglês Francis Bacon, realizado no ano passado e ainda não estreado em Portugal. Ryuichi Sakamoto compôs a banda sonora deste filme que retrata a agitação da “swinging London” dos anos 60 e onde se juntam o erotismo, a poesia e a decadência. Ao contrário de alguma produção recente do músico japonês, mais voltada para o “mainstream”, este seu novo trabalho reflecte a sua faceta mais esotérica e impressionista, numa sucessão de quadros gelados exclusivamente pintados com electrónica e ocasionais traços de piano sepulcral. A julgar pelos títulos das faixas, a vida do pintor ter-se-á desenrolado num círculo restrito de lugares: o museu, a casa de banho, o atelier e a cama. Provavelmente na casa de banho de um museu ou na cama do atelier. Por isso mesmo, a música é fechada, escura, evoluindo numa sucessão de curtos “sketches” com um ambiente de claustrofobia e erotismo doentio, no qual se poderá detectar a sintomatologia terminal da música do autor (e actor) da banda sonora de “Merry Christmas Mr. Lawrence”. São quartos vazios onde apenas se escutam ecos e reflexos distorcidos do mundo exterior, pulsações de carne fria, emoções e movimentos despojados de ternura, nada mais senão um esteticismo sem esperança, variante “soft” dos Coil, aos quais Sakamoto confere a acutilância de um bisturi. Terá sido esta atmosfera sufocante (mas nunca saturada) o motivo que levou à edição de “Love is the Devil” na Asphodel, uma editora vocacionada para o “illbient”. Depois de os Roxy Music terem dito que o amor é uma droga, o final do século pretende que o amor seja o demónio. Tempos de inversão...
19 de Fevereiro 1999
DISCOS – POP ROCK
Ryuichi Sakamoto
Love is the Devil (7)
Asphodel, distri. EMI-VC
“Love is the Devil" é um filme de John Maybury (colaborador de Derek Jarman em filmes como “Jubilee” e “The Last of England”) sobre a vida do pintor inglês Francis Bacon, realizado no ano passado e ainda não estreado em Portugal. Ryuichi Sakamoto compôs a banda sonora deste filme que retrata a agitação da “swinging London” dos anos 60 e onde se juntam o erotismo, a poesia e a decadência. Ao contrário de alguma produção recente do músico japonês, mais voltada para o “mainstream”, este seu novo trabalho reflecte a sua faceta mais esotérica e impressionista, numa sucessão de quadros gelados exclusivamente pintados com electrónica e ocasionais traços de piano sepulcral. A julgar pelos títulos das faixas, a vida do pintor ter-se-á desenrolado num círculo restrito de lugares: o museu, a casa de banho, o atelier e a cama. Provavelmente na casa de banho de um museu ou na cama do atelier. Por isso mesmo, a música é fechada, escura, evoluindo numa sucessão de curtos “sketches” com um ambiente de claustrofobia e erotismo doentio, no qual se poderá detectar a sintomatologia terminal da música do autor (e actor) da banda sonora de “Merry Christmas Mr. Lawrence”. São quartos vazios onde apenas se escutam ecos e reflexos distorcidos do mundo exterior, pulsações de carne fria, emoções e movimentos despojados de ternura, nada mais senão um esteticismo sem esperança, variante “soft” dos Coil, aos quais Sakamoto confere a acutilância de um bisturi. Terá sido esta atmosfera sufocante (mas nunca saturada) o motivo que levou à edição de “Love is the Devil” na Asphodel, uma editora vocacionada para o “illbient”. Depois de os Roxy Music terem dito que o amor é uma droga, o final do século pretende que o amor seja o demónio. Tempos de inversão...
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