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23|NOVEMBRO|2001
música|festival
blue spot
o meu electro azul
Pelo
4º ano, o Porto recebe o festival Blue Spot.
Um
evento de músicas eletrónicas que conta este ano com os 4 Hero, Rinôcérôse, Kid
606 e Mouse on Mars.
artigo conjunto de
Fernando Magalhães e Vítor Belanciano.
FM assina os textos:
khan
Também
proveniente de Colónia, mas turco de nascimento, chega Khan, aliás, Can Oral,
também conhecido como El Turco Loco, o mesmo nome que atribui à sua companhia
discográfica. Can Oral (o nome soa pornográfico) foi companheiro de apartamento
de Jimi Tenor, fez tecno e cultivou os germes da cena illbient, exercendo um
indiscutível fascínio no pessoal, já de si pouco “normal”, das editoras Fat Cat
e Ninja Tune. Aprendeu com os anos 80, identificando-se com as suas margens
mais daninhas, dos Contortions a Lydia Lunch, dos Einsturzende Neubauten aos
Pere Ubu, dos The Gun Club aos Public Enemy. E com Diamanda Galás, “Miss
Peste”, que, apesar do seu ódio visceral aos turcos, não se escusou a
participar como convidada no mais recente álbum de El Turco Loco, “No
Comprendo”. Da mesma forma que não é fácil compreender a mistura musical deste
idiossincrata que tanto amolga o lounge, a new wave e a música industrial como
passeia de mãos dadas nos jardins edénicos de Julee Cruise.
kid606
Génio
ou “hype”? Depende do ponto de vista pelo qual se analisa a ascensão deste
quase adolescente de origem Venezuela que nasceu para dialogar com os
computadores e com eles fazer uma música com tanto de dilaceração como de
humor. O puto 606 já se apresentou no Número Festival do ano passado, assinando
uma performance onde a matemática andou de mãos dadas com o caos. É um mestre
do ruído mas também da articulação surrealista de fontes sonoras que combinam numa
simbiose bizarra os “found sounds”, a samplagem em registo de esquizofrenia e
as linguagens programáticas do computador, organizados em forma de assalto aos
sentidos em álbuns como “Down with the Scene” ou “PS I Love you”. Kid606 é um
tecnicista dos chips, um iconoclasta das civilizações em colapso, profeta do
sado-masoquismo monitorizado. Mas talvez não passe de um puto reguila em quem o
espírito punk continua vivo e cujo principal fito é desancar as convenções.
Consta que em alguns dos seus espetáculos lança objetos para o público.
mouse on mars
Provavelmente
nenhum outro grupo da nova cena eletrónica alemã conciliará com tanta eficácia
e criatividade o experimentalismo e uma faceta lúdica como os Mouse on Mar MOM,
dupla de Colónia (berço de krautrockers pioneiros como os Can) constituída por
Andi Toma e Jan St. Werner. Na sua anterior visita a Portugal, decerto
entusiasmados com a onda de entusiasmo que então se gerou à sua volta,
desbundaram na maquinaria, produzindo uma sucessão infatigável de grooves e
breakbeats que terá pecado por demasiada vassalagem às dance floors e menor
cuidado na exploração da vertente mais abstrata do grupo, presente em álbuns
essenciais, clássicos da eletrónica contemporânea, como “Iaora Tahiti”, “Niun
Niggung” ou o novo e orgulhosamente autista “Idiology”. Alemanha, séc. XXI, com
os Mouse on Mars, as máquinas reaprenderam a sorrir.
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