04/04/2015

Um sorriso aberto [Anja Garbarek]



Y 16|NOVEMBRO|2001
ao vivo|escolhas

anja garbarek
um sorriso aberto

“Smiling & Waving”, sorrindo e acenando. Ou, um olá e um adeus, como Anja Garbarek explicou em entrevista ao Y, numa síntese deste seu terceiro álbum, então acabado de ser lançado em Portugal. Desta feita será um “olá”.
            A cantora norueguesa, filha do saxofonista de jazz Jan Garbarek atuará, a 18, em estreia absoluta ao vivo no nosso país, para apresentar as canções intimistas/futuristas de “Smiling & Waving”, um dos álbuns mais surpreendentes editados este ano.
            Depois de uma primeira tentativa gorada, já que a entrevista fora marcada para o dia em que este jornal encerrou as suas instalações devido a um alarme de antraz, o Y voltou a contactá-la. Anja soube do sucedido e manifestou a sua preocupação.

Há dias, a realidade voltou a iludir os esquemas que costumamos usar para manter a ilusão de que a controlamos…
Foi mesmo antraz? Está tudo ok por aí? Oh, dear!
Houve alguma confusão, mas está tudo normal, agora. Vive atualmente em Londres, onde também se sente alguma tensão. Como está o ar que se respira por aí?
No dia 11 de Setembro vi tudo a acontecer pela SKY News e não queria acreditar no que os meus olhos viam. No preciso momento em que o comentador falava da hipótese de acidente em relação ao primeiro embate, viu-se o segundo avião a embater na outra torre. Foi uma situação bastante grave que se tornou ainda mais dolorosa com a repetição sucessiva das imagens. Há cerca de uma semana viajei para a Noruega e confesso que, pela primeira vez, tive medo de estar no aeroporto e de voar. Aqui em Londres as pessoas andam assustadas. Vê-se isso na maneira como contam anedotas e brincam com a situação. É uma forma de se sentirem aliviadas.
No seu caso esse medo está a ser canalizado para a música?
Tudo o que acontece acaba por afetar a minha música. A questão está em que intelectualmente tem-se esta ou aquela ideia mas torna-se difícil encontrar a emoção “certa”.
A sua música é bastante sonhadora…
Sim, nunca fui uma compositora politizada. Sempre me vi mais como uma poetisa. Na televisão estão sempre a mostrar os pontos de vista dos políticos, as suas declarações. Seria interessante mostrar igualmente a visão dos poetas. Falar do que eles sentem, daquilo com que sonham, dos seus medos, em suma, mostrar o lado emocional da arte. Quando alguém vem ter comigo com ar zangado, a gritar “não, não, não!” de dedo em riste, afasto-me logo. Pelo contrário qualquer estado de espírito que me faça sentir bem, mais gentil ou mais recetiva, que de algum modo mexa com os meus sentimentos, funciona. Acaba por ser uma arma muito mais forte do que gritar, gesticular ou usar grandes chavões.
Qual é o seu estado de espírito neste momento?
Uma quantidade deles, todos os que possa imaginar, misturados numa grande poção! (risos). É o género de pessoa que sou, um bocado difícil de definir. Estou constantemente a passar por altos e baixos, sou muito dramática, muito “preto e branco”. Para os meus pais é confuso. Quando fico triste fico de facto extremamente triste e para eles é difícil porque não há nada que possam fazer para me animar. Como ainda por cima vivem na Noruega, torna-se ainda mais frustrante.
Apesar de tanta inconstância já tem planos para um próximo disco?
Só na cabeça. Tenho escrito algumas letras mas falta acrescentar-lhes a melodia. É assim que componho. Dou imenso espaço às palavras e não gosto que elas choquem umas contra as outras. São as próprias histórias que determinam os tais estados de espírito que referi há pouco, ou a opção por um som de baixo ou por um clarinete… Entendo por histórias, as imagens que se vão formando na cabeça em que também o auditor pode criar a sua própria história.
Como vai ser o concerto de Lisboa?
            Vão estar sete músicos em palco, incluindo eu. Alguns deles são os mesmos que tocaram no disco, como é o caso do teclista. O reportório incidirá obviamente no novo álbum mas também incluirá alguns temas que apenas fazem parte de uma edição limitada de “Smiling & Waving” que apenas se encontra disponível na Noruega.
Já pensou na possibilidade de a sua música ser objeto de remisturas?
De facto, não me importava. Seria sem dúvida interessante. Mesmo fantástico se fossem os Mouse on Mars, que adoro, a pegar na minha música!


ANJA GARBAREK
Lisboa | Centro Cultural de Belém
dom., 18 às 21h20; bilhetes entre 3500$00 e 4800$00
1ª parte: Casino

2 comentários:

Anónimo disse...

saudações a quem quer q seja q está a manter este blog!
coloco este comentário dada a aparente impossibilidade de efectuar o contacto por email, já q o endereço q consta no perfil é dado como "no longer valid".
o meu objectivo é prestar a minha homenagem a este trabalho! e tb indagar sobre a razão do mesmo ("apenas" amizade e/ou admiração para c/o fm & seus escritos?)
ps- pode sff colocar a sua resposta como comentário aqui?

Tiago Carvalho disse...

Obrigado!
É estranho que não tenha conseguido enviar email, pois o meu endereço é aquele mesmo que consta do perfil.
As razões são essas: começou por ser admiração e por sorte converteu-se em amizade.
Abraço