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30|NOVEMBRO|2001
escolhas|discos
PINK FLOYD
Echoes - The Best of Pink
Floyd
2xCD EMI, distri. EMI - VC
8|10
pink floyd ecos
do século passado
Normalmente,
as coletâneas “o melhor de…” são desperdício para o fã deste ou daquele grupo,
para quem o que conta são os álbuns originais que traçam o percurso histórico e
sinalizam as diversas fases de evolução dos artistas da sua preferência. Não é
o caso de “Echoes”, primeiro “Best of” de sempre dos Pink Floyd, ao cabo de 35
anos de carreira. Não é uma coletânea como as outras, da mesma forma que os
Pink Floyd nunca foram uma banda como as outras. Da embalagem, delicioso jogo
de espelhos e “trompe l’oiel” que tanto evocam o design da campanha Hipgnosis
como os ilusionismos gráficos de Escher, ao som, objeto de nova remasterização
que faz empalidecer as anteriores, nada foi deixado ao acaso. “Echoes” foi
construído como uma história imaginária que acentua a intemporalidade de música
dos Pink Floyd. Em vez do alinhamento preguiçoso de faixas, por ordem cronológica,
optou-se por arriscadas transições que unem, através de “editing”, “See Emily
play”, de 1967, a “The happiest day of our lives”, de 1979, “Learning to fly”,
de 1987, a “Arnold Layne”, de 1967. O incrível é que faz sentido, dando a
entender uma outra lógica de encadeamento que manipula e altera de forma eficaz
e, por vezes, surpreendente, as emoções que julgávamos definitivamente
arquivadas na enciclopédia dos Floyd.
Ao todo, “Echoes” junta 28 temas do
grupo que, com os Soft Machine, foi responsável pela introdução, em 1967, do
Psicadelismo em Inglaterra, nos tempos épicos das atuações no clube londrino
UFO. Nunca a voz e o surrealismo mental de Syd Barrett, em temas como os já
citados “Arnold Layne” e “See Emily play”, mas também “Jugband blues” e “Bike”,
soaram tão luminosos. A faceta “space rock” faz-se representar pelos
incontornáveis “Astronomy Domine”, “Set the controls for the heart of the sun”
e o mais tardio “The great gig in the sky”, já do mega-sucesso “The Dark side
of the Moon”, cuja presença em “Echoes” se faz sentir ainda nos demasiado
“gastos”, “Time” e “Money”. “Wish you Were Here”, com a tocante homenagem a
Barrett que é “Shine on you crazy diamond”, a abrir do disco 2, e “The Wall”,
de 1979, álbum chave para a compreensão da atitude que orientou grande parte da
produção rock e pop dos anos 70 e do talento como compositor e dos fantasmas
que fervilhavam no cérebro de Roger Waters, fazem-se obviamente representar
neste “Best of” que consegue o prodígio de fazer soar fresca uma música mil e uma
vezes ouvida.
Mesmo os temas de álbuns menores,
como “A Momentary Lapse of Reason” e “The Division Bells”, ganham uma
insuspeita credibilidade graças a um alinhamento que os recontextualiza. São
ainda recuperados dois álbuns de transição, “Animals” e “The Final Cut”, e um
tema (“When the tigers broke free”) da banda sonora de “The Wall”. A única
mácula de “Echoes” será talvez o corte de seis minutos (de 22 para 16…) na
suite, com o mesmo nome, que ocupa o lado dois da edição original em vinilo de
“Meddle” – mas o “novo” som, fabuloso, faz esquecer esta “traição” de uma
coletânea onde são notórias a inteligência e uma compreensão genuína do que os
Pink Floyd representaram para a música popular do século passado.
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