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7|DEZEMBRO|2001
escolhas|discos
FENNESZ
Endless Summer
Mego, distri. Matéria Prima
7|10
Originalmente
título de uma coletânea de 1974 dos Beach Boys, compilada por Mike Love,
“Endless Summer” culmina uma operação de reconversão genética da música pop e o
fim do idealismo. O surf nas ondas do sonho da geração de 60 morreu na praia e
o naufrágio do sonho americano é aproveitado pelo austríaco Christian Fennesz
como matéria de oscilação para outro tipo de ondas. Se David Thomas e os Pere
Ubu ainda conservam, na mesma devoção à banda de Brian Wilson, os traços de um
romantismo dilacerado, o antigo elemento da Orchester 33 1/3 – que num EP de
1998 já pulverizara outra canção dos rapazes da praia, “Don’t talk (put your
head on my shoulder”), do álbum “Pet Sounds” – liquefaz aquele imaginário num
oceano de clicks & cuts, aqui bem mais chegado *as margens tranquilas do
chill-out. Um chill-out com rugas, bem entendido, a deformar o smile da geração
“rave”. Enquanto o anterior álbum, “+47º 56’ 37’’ -16º 51’ 08’’”, impressiona
pelo abstracionismo e poder de análise, “Endless Summer” confirma o talento de
Fennesz como bricoleur, capaz de arrancar insuspeitas melodias ao ruído e de
cortar em pedaços a estética monumental que ele próprio ajudou a erguer nos
Orchester 33 1/3. As praias de Fennesz, como as de “Apocalipse Now”, cheiram a
Napalm.
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