Pop Rock
1990
VÍDEOS
GRATEFUL DEAD
So Far
Edivideo
Passados 23 anos, os
Grateful Dead insistem na imagem de papas do psicadelismo. Extintos há muito os
Quicksilver Messenger Service e com os Jefferson Airplane reduzidos à condição
de caricaturas, a banda de Jerry Garcia permanece como último e fiel baluarte
do movimento iniciado na costa Oeste americana com a ajuda das teorias do
professor Timothy Leary e a filosofia emergente do pacifismo “hippie”. “So Far”
apresenta os Grateful Dead interpretando ao vivo, no Coliseu de Oakland, sete
temas: “Not Fade away”, “Uncle John’s Band”, “Playing in the Band”, “Lady with
a Fan”, “Space”, “Rhythm Devils” e “Throwing Stones”, intercalados de imagens
do mais puro estilo psicadélico. No início, a coisa apresenta-se normal: dois
temas lentos, convencionais, acompanhados por imagens vulgares, para não
destoar do ar de veterania exibido pelos diversos músicos. Explosões de
fogo-de-artifício, sincronizadas com frases do tipo “Can you See the Light” ou
cromos de casas rurais anunciando “como é bom viver no campo”, compartilhando a
felicidade com galinhas, vacas e couves lombardas. Depois, uma sucessão de
paisagens aéreas, mostrando mares, rios, pores-do-sol, searas ao vento e como o
nosso planeta pode ser bonito se for bem tratado. Tudo bem, pensamos, são a
mensagem e imagem possíveis após a ressaca do LSD. “Não há tempo para odiar” –
canta Jerry Garcia candidamente, como se fosse possível acreditar. Em “Uncle
John’s Band” somos confrontados com retratos de pessoas. Num deles, uma família
come, à volta de uma mesa. “Inserts” de fotografias de bisontes. Presume-se que
a família se refastela com suculentos bifes do citado bicho. Ou então, o que é
mais provável, contenta-se com depenicar verduras, numa evidente mensagem
ecológica de proteção à espécie. Chega a vez a dança, em “Lady with a Fan”.
Orquestras e dançarinos, “swing” e “rock’n’roll”, com muitas saias esvoaçantes
e cuequinhas à mostra. Multidões aplaudem. O quê? – pergunta-se. Um par
romântico, réplica da dupla Ginger Rogers/Fred Astaire, evolui em volutas
irreais, ele todo entradas e brilhantina, ela vestido rodado, qual cinderela em
baile de debutantes. Finalmente uma orgia de pernas, transformadas em
psico-pernas-fractais, em simetrias caleidoscópicas, reduzidas a um padrão
repetitivo e abstrato. E, de repente, quando nada o fazia prever, a grande
“trip”, uma ”acid jam” como nos bons velhos tempos. Quinze minutos de pura
desbunda instrumental, com improvisações eletrónicas e percussivas e imagens à
boa maneira hipnótico-alucinogénea do passado. Num quarto de hora alucinante,
passa-se em revista a história do Universo, desde o Big Bang e a expansão das
galáxias até ao apocalipse industrial da atualidade, passando pela visão de
protozoários na brincadeira, coloridas espirais de ADN, um especial “National
Geographic” e um “compacto” Terceiro Mundo. Os horrores da atualidade
(poluição, guerra e outros do estilo) são apresentados em imagens de arquivo, a
vermelho e negro, dando por fim lugar a um tom mais otimista com a Terra vista
do espaço, toda engalanada de azuis e verdes oceânicos. A arte, outro dos
tópicos importantes da temática humana. Ocupa também, como não podia deixar de
ser, um lugar de destaque no aparato visual do vídeo. Vitrais de catedrais
figurando a pomba do Espírito Santo, sobrepostos a baixos relevos e mandalas
orientais. Antes já tinha sido o surrealismo e as cartas mágicas do Tarot,
evoluindo sobre uma paisagem digital do tipo “chão em tabuleiro de xadrez com
montanhas roxas no horizonte e uma lua no céu”, criada pelo departamento
gráfico da RTP, com o recurso às “técnicas mais sofisticadas”. O mais engraçado
reside em que esta estética, dir-se-ia ultrapassada, resulta em pleno,
transportando-nos aos poucos para essa época, não muito distante, em que se
viviam todos os sonhos como se fossem realidade. ***
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