26/07/2016

The Waterboys - Room To Roam

Pop Rock
1990

VIVER NO CAMPO

THE WATERBOYS
Room to Roam
LP e CD, Ensign, ed. EMI/Valentim de Carvalho

Os irlandeses sentem o apelo irresistível das origens. Alguns vão até ao fundo e obedecem à chamada, mergulhando totalmente nas sonoridades ancestrais. São às centenas e mantêm viva a chama da tradição. Integram o vasto mundo da chamada “música folk”, incensada pelos conhecedores, seguida com alguma atenção e ocasional interesse pelos curiosos e apreciadores de música em geral. No meio, estão os que se ficam pelas meias-tintas. Não se atrevendo a confinarem-se ao círculo restrito da folk, optam por integrá-la em correntes mais acessíveis, a principal das quais é o rock, como não podia deixar de ser. Uns mais do que outros tornam-se permeáveis ao som dos antepassados, deslocando-o para contextos mais apelativos e suscetíveis de rentabilização.
Do lote dos mais ilustres praticantes da nova vaga folk rock fazem parte os Pogues, The Man They Couldn’t Hang e os Oyster Band, de raízes urbanas e virados para mercados onde competem, de igual para igual, com a imensidade de bandas independentes que pululam no Reino Unido.
Os Waterboys não escondem o amor que nutrem pela mãe rural. O mais engraçado é que até nem são irlandeses, mas sim escoceses. “Room to Roam” investe no entanto numa incursão decidida pelo folclore irlandês, retomando com maior convicção a via já anteriormente trilhada em álbuns como “This is the Sea” e principalmente “Fisherman’s Blues”. Mike Scott aventura-se pelas danças e baladas tradicionais, sem preconceitos nem falsos purismos. Sabe que não pode competir com os “folkies” genuínos nem será isso que lhe interessa. No seu caso trata-se antes de uma prolongada e sincera relação de amor pelo passado riquíssimo de uma ilha cuja história também se construiu de lendas, e da oportunidade de o dar a conhecer a um público alargado, sem que no processo se notem sinais evidentes de interesses comerciais mal disfarçados.

Fazem parte do álbum dezassete temas, alguns deles de curta duração, pouco mais de um minuto, pequenos apontamentos retratando momentos mágicos e intemporais de uma História imaginada. “In Search of a Rose”, “Upon the Wind and Waves”, “Spring comes do Spiddal”, “Natural Bridge Blues” (com alusões à música “cajun”), “Trip to Broadford”, “The Kings of Kerry” evocam atmosferas misteriosas e danças jubilosas, a guitarra elétrica quase parecendo intrusa, entre a respeitabilidade ancestral do violino e a delicadeza aérea do “tin whistle”, instrumentos da praxe neste campo. “A Man is in Love”, “Something that is gone” ou “Further up, Further in” são alguns bons exemplos de baladas que completam de forma coerente a tonalidade geral do disco, com a voz de Scott lembrando por vezes um pouco a de Don McLean e saxofones “limpinhos” dando o toque de contemporaneidade onde este não seria de todo necessário. O instrumental “Something that is gone” ou o tradicional “Raggle Taggle Gypsy” fariam passar os Waterboys por um típico grupo folk, se escutados isoladamente por ouvidos não iniciados. “Room to Roam” é um disco apelativo, bem mais interessante que a megalomania U2 e o seu séquito de imitadores, capaz de satisfazer os incondicionais da banda e de converter mais uns quantos fiéis, em prol da causa folk. Os já convertidos sorrirão, condescendentes; os neófitos darão pulos de entusiasmo.

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