Pop
Rock
13
MARÇO 1991
LP’S
COWBOY SEM
FRONTEIRAS
GARTH BROOKS
No Fences
LP / MC / CD, Capitol, distri. Emi-VC
“Vende
220 mil discos por semana, nos Estados Unidos” – deve ser bom, com certeza. “Já
é dupla platina, por vendas superiores a dois milhões de exemplares” – deve ser
muito bom! “Primeiro lugar durante um mês consecutivo no top de álbuns
‘country’ da ‘Billboard’” – superdisco! No ano passado, “venceu dois prémios da
Associação de Música Country” – ultradisco!! “Nomeado para sete prémios da Academia
de Música Country – hiper, hiper! Uau!!! –, entre os quais ‘artista do ano’ –
ooohhh! –, ‘cantor do ano’ – não é possível! –, ‘single do ano’ – desmaios – e
‘álbum do ano’ – não há palavras!
Vergado
ao peso de tanto ouro e honrarias, o crítico colocou o disco no prato, com a
reverência que aos deuses é devida e o nervosismo inevitável de quem se
reconhece mero humano, lama que Garth Brooks deve pisar com botins de espora de
ouro, cravejados de diamantes. Enfim…
O
disco não é mau. Mas olha-se para todos os lados e não se vê razões para
embandeirar (tão) em arco. Na “Q”, por exemplo, dá-se-lhe cinco estrelas, com
base na menção dos prémios intermináveis e no argumento (entre outros) de Garth
Brooks possuir o “maior chapéu de ‘cowboy’ de Nashville”. Pela fotografia da
capa, ninguém diria… Na “Vox” (classif. Oito em dez), a mesma coisa – os
prémios, o sucesso, a voz agradável, blá blá blá. Garth Brooks ostenta um
indisfarçável ar “clean”, bem barbeado, olhar puro e decidido, que lhe dá a
imagem perfeita do “americano médio ideal, branco caucasiano, defensor das boas
causas e dos não menos bons lucros. A América, na altura do lançamento, em
vésperas de partir para a guerra, viu-se retratada na música e nas virtudes de
um “cowboy” (como Reagan, como Bush), de pistola e baladas em punho, preparado
para salvar a “honra da nação”. Sabe-se como os americanos se perdem de amores
por aquela que consideram ser, mais que o jazz – coisa de negros – a “sua”
música. São assim os americanos, trocam de bom grado a “grande música negra”,
nascida nas entranhas de New Orleans, por uma importação adaptada das ressacas
alcoólicas de irlandeses amigos de dançar e trabalhar.
“No
Fences” agrada e funciona na medida em que sabe vestir os valores mais
conservadores do género, com uma produção perfeita, que faz da clareza e rigor
extremos a sua maior arma. Tudo é nítido e evidente, desde a limpidez das
baladas (“If Tomorrow never Comes”, “The Dance”, “Friends in Low Places”) ao
rigor rítmico e ao balanço dos temas mais acelerados. Os instrumentistas sabem
o que fazem e fazem-no bem. Rob Hajacos corta a golpes de violino a respiração
e os corações em “The Dance”. As guitarras fulgem em “Wild Horses”. Canções que
correm como as águas de um rio imune às tempestades. Garth Brooks transporta consigo
os sonhos de uma nação inteira, montada a cavalo na ilusão de que o futuro fica
na direcção do pôr do Sol. Como Lucky Luke, Garth Brooks não pode falhar –
“poor lonesome cowboy”.
Para
sempre. ***
Sem comentários:
Enviar um comentário