20/07/2016

Garth Brooks - No Fences

Pop Rock

13 MARÇO 1991
LP’S

COWBOY SEM FRONTEIRAS

GARTH BROOKS
No Fences
LP / MC / CD, Capitol, distri. Emi-VC

“Vende 220 mil discos por semana, nos Estados Unidos” – deve ser bom, com certeza. “Já é dupla platina, por vendas superiores a dois milhões de exemplares” – deve ser muito bom! “Primeiro lugar durante um mês consecutivo no top de álbuns ‘country’ da ‘Billboard’” – superdisco! No ano passado, “venceu dois prémios da Associação de Música Country” – ultradisco!! “Nomeado para sete prémios da Academia de Música Country – hiper, hiper! Uau!!! –, entre os quais ‘artista do ano’ – ooohhh! –, ‘cantor do ano’ – não é possível! –, ‘single do ano’ – desmaios – e ‘álbum do ano’ – não há palavras!
Vergado ao peso de tanto ouro e honrarias, o crítico colocou o disco no prato, com a reverência que aos deuses é devida e o nervosismo inevitável de quem se reconhece mero humano, lama que Garth Brooks deve pisar com botins de espora de ouro, cravejados de diamantes. Enfim…
O disco não é mau. Mas olha-se para todos os lados e não se vê razões para embandeirar (tão) em arco. Na “Q”, por exemplo, dá-se-lhe cinco estrelas, com base na menção dos prémios intermináveis e no argumento (entre outros) de Garth Brooks possuir o “maior chapéu de ‘cowboy’ de Nashville”. Pela fotografia da capa, ninguém diria… Na “Vox” (classif. Oito em dez), a mesma coisa – os prémios, o sucesso, a voz agradável, blá blá blá. Garth Brooks ostenta um indisfarçável ar “clean”, bem barbeado, olhar puro e decidido, que lhe dá a imagem perfeita do “americano médio ideal, branco caucasiano, defensor das boas causas e dos não menos bons lucros. A América, na altura do lançamento, em vésperas de partir para a guerra, viu-se retratada na música e nas virtudes de um “cowboy” (como Reagan, como Bush), de pistola e baladas em punho, preparado para salvar a “honra da nação”. Sabe-se como os americanos se perdem de amores por aquela que consideram ser, mais que o jazz – coisa de negros – a “sua” música. São assim os americanos, trocam de bom grado a “grande música negra”, nascida nas entranhas de New Orleans, por uma importação adaptada das ressacas alcoólicas de irlandeses amigos de dançar e trabalhar.
“No Fences” agrada e funciona na medida em que sabe vestir os valores mais conservadores do género, com uma produção perfeita, que faz da clareza e rigor extremos a sua maior arma. Tudo é nítido e evidente, desde a limpidez das baladas (“If Tomorrow never Comes”, “The Dance”, “Friends in Low Places”) ao rigor rítmico e ao balanço dos temas mais acelerados. Os instrumentistas sabem o que fazem e fazem-no bem. Rob Hajacos corta a golpes de violino a respiração e os corações em “The Dance”. As guitarras fulgem em “Wild Horses”. Canções que correm como as águas de um rio imune às tempestades. Garth Brooks transporta consigo os sonhos de uma nação inteira, montada a cavalo na ilusão de que o futuro fica na direcção do pôr do Sol. Como Lucky Luke, Garth Brooks não pode falhar – “poor lonesome cowboy”.
Para sempre. ***

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