Pop Rock
1990
JOHN HIATT
Stolen Moments
LP e
CD, A&M, distri. Polygram
O papel de
vítima, do desgraçado que não fez outra coisa senão sofrer durante anos a fio,
salvo mesmo à justa pela música das garras da miséria e da degradação, é um dos
favoritos dos profissionais do rock. Dá boa imagem, um passado difícil e a
vitória final do “self-made man”. Às vezes, as histórias de terríveis
sofrimentos padecidos pelo artista são um pouco exageradas pelas diretivas
editoriais que sabem como vender o produto quando o talento não abunda.
Noutras, as dificuldades dão reais, se bem que por si só não queiram dizer nada
em termos de qualidade. Mas que ajudam, ajudam. John Hiatt foi, desde a
infância, um desgraçado, a vida foi sempre sua madastra. Vingava-se escrevendo canções.
Aos 12 anos tinha escrito mais de 600, uma das quais dedicada à namorada de um
colega, porque ele, John, era “demasiado gordo e inseguro para entrar no mítico
mundo das mulheres”. Foi andando aos trambolhões pela vida fora até ao dia em
que compôs uma canção que foi êxito na voz de Tracy Nelson: “Thinking of You”.
Com o dinheiro ganho comprou um automóvel e o resto gastou-o em bebida. De copo
em copo, de angústia existencial em angústia existencial, lá foi gravando
discos e arrecadando uns cobres. Em “Stolen Moments” – confessa – conseguiu
finalmente “viver no seu próprio tempo” e até “divertir-se um pouco”. Há dias
felizes. Sobretudo para quem não tiver de ouvir o disco. Mais sopa FM, um
cheirinho a country, uma voz como os americanos gostam, ligeiramente rouca para
se perceberem as cicatrizes que a má vida deixou, produção “state of the
heart”, chegam para embasbacar e fazer babar a sensibilidade embotada de
muitos. Vai vender.
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