16 FEVEREIRO 1994
WORLD
MADUROS COMO OS VETERANOS
DERVISH
Harmony Hill
Whirling Discs, distri. MC – Mundo da Canção
Na Irlanda, depois dos Déanta, os Dervish são a nova grande revelação. “Harmony Hill” impressiona em vários aspectos. Se o primeiro álbum dos Déanta apresenta ainda alguns sinais de imaturidade, desculpáveis num disco de estreia, os Dervish explodem logo de entrada com um som que pouco deve aos veteranos: afirmativo, pujante e dando mostras de um virtuosismo instrumental que seria raro encontrar em estreantes, caso de tratasse de outro país que não a Irlanda. Ainda fazendo comparações: nem os próprios Altan, já elevados à categoria de “clássicos”, se podem orgulhar de uma estreia tão promissora como a dos Dervish.
À semelhança dos Dèanta e dos Altan, os Dervish não incluem as “uillean pipes” no seu arsenal de instrumentos. Curioso é traçar possíveis filiações para cada um destes grupos. Aos Altan já chamaram (com pouco razão, diga-se) os novos Bothy Band. Os Dèanta permitem que os situemos perto dos Clannad da primeira apanha. Quanto aos Dervish, não devem ficar escandalizados se os alinharmos ao lado dos De Dannan.
Têm excelentes trunfos estes “novatos” que já dão cartas: Cathy Jordan é mais uma grande cantora a juntar às muitas que a música irlandesa tem dado a conhecer ao longo das últimas duas décadas. Mairéad Ní Mhaonaigh, dos Altan, não cantava tão bem como ela, nos seus tempos de estreante. A voz de Cathy Jordan, a espaços reminiscente de Triona Ní Dhomnaill e com algumas inflexões que recordam a juventude de Dolores Keane passada nos primeiros De Dannan, desliza como seda aquecida por baladas como “Hills of Greenmore”, “Bellaghy fair” (aqui “a capella”), “The ploughman”, The fair maid” (baseado no canto de Triona Ní Dhomnaill na versão do mesmo tema incluída num álbum dos Bothy Band) e “A stór mo chroi”.
Do lado instrumental despontam dois novos “virtuoses”: Shane McAleer, no violino, e sobretudo Liam Kelly, na flauta. O primeiro brilha nas sequências de jiga quando, a par da tradicional velocidade de execução, que atinge o auge em “The green mountain”, usa o violino para simular a voz das “uillean pipes”, em “Hills of Greenmore” e “Welcome poor Paddy home”, neste tema lançando-se de seguida num impressionante diálogo com a flauta. O segundo dá “show” num solo da sequência final “Slides & Reels” e em “The green fields of Miltown”, onde também toca “tin whistle”, acompanhado por uma Cathy Jordan surpreendentemente ágil no manuseamento rítmico dos “bones” e do “bodhran”. As cordas dedilhadas (bandolim, mandola, guitarra) juntam-se em “The ploughman”, um original de Robert Burns, no acompanhamento à voz de Jordan, evocando as antológicas prestações de Andy Irvine nos Planxty. Shane Mitchell mostra-se igualmente um bom acordeonista (nan sendo dos mestres deste instrumento que passaram pelos De Dannan, com Mairtin O’Connor mais alto que todos os outros) em “Jig C jig” e na sequência final atrás referida. Todos aqueles que perdem a cabeça só de ouvir falar em música irlandesa podem saltar sem receio de cair dos Altan para os Dervish. Alta qualidade garantida. Até porque daqui a um ou dois meses já deve haver outras bandas do mesmo quilate em fila de espera. (8)
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