Pop Rock
25 de Setembro de 1996
reedições poprock
25 de Setembro de 1996
reedições poprock
Isto é pop!
XTC (8)
Fossil Fuel: The XTC Singles, 1977-92
2xCD Virgin, distri. EMI-VC
Perdidos no meio da confusão da pop britânica, em guerras para decidir se os melhores são os Pulp ou os Oasis, ou uns rapazotes chamados Babylon Zoo, os ingleses têm andado distraídos, não reparando que desde há anos a melhor e mais inteligente pop tem nascido de uma banda que decidiram ostracizar desde que em “Skylarking” optaram por lançar a sua música, como diria Julian Cope, “to-the-moooooon!”. A crítica foi unânime, os XTC eram bons quando eram crus. Para sermos precisos e preconceituosos, até “Black Sea”, álbum onde disseram adeus à melodia directa e à unidireccionalidade do “punk” e da “new wave”. Certo, já nessa altura os XTC pregavam outras mensagens e outros coloridos. Os primeiros ‘singles’, “Science friction”, “Statue of liberty” e “This is pop”, reclamam ainda estéticas idênticas, respectivamente, às dos Devo, Elvis Costello e Talking Heads (com quem foram frequentemente comparados). A partir daí, porém, seguiriam um caminho só deles, levando embora no bornal os ensinamentos dos Beatles – e dos Kinks – na prossecução de uma “englishness” genuína.
O estigma do pretensiosismo colou-se-lhes à pele a partir dessa altura, na “fuga” que empreenderam em direcção a um psicadelismo que devia menos ao LSD do que a Alice no País das Maravilhas, em álbuns como “English Settlement” e “Mummer” (que a “Q”, por exemplo, considera “irritante” e “sem verdadeiras canções”), subvalorizados pela história, que os pôs no caixote do lixo das bugigangas perigosamente próximas do “progressivo”. Por acaso serão talvez os dois melhores álbuns de sempre do grupo e que assinalariam o ponto de não retorno de uma música que de “Skylarking” até “Nonsuch”, passando pelo duplo “Oranges & lemons”, se rodearia de um manto de impenetrabilidade cada vez maior. Qualquer destes álbuns não se compadece com a voracidade do momento, necessitando de outro tipo de atitude até se tornar legível a sua organicidade e a riqueza das suas entranhas. À míngua de tempo e com o brilho ofuscante de novos estímulos, colou-se nos XTC o rótulo de “banda de ‘singles’”, como quem diz que deveriam ter deixado de gravar álbuns. Nada mais do que preconceitos. Se é verdade que os seus 45 rotações (semeados, na totalidade, ao longo dos álbuns) sempre foram pródigos em refrescar o mercado com pequenas peças pop de um barroquismo e refinamento que de disco para disco se acentuavam, tal deveria apenas servir de indicador de que “o melhor” do grupo sempre esteve guardado nos longas-durações.
Aconteceu que a preguiça terá impedido muita gente de penetrar além da porta de entrada. “Fossil Fuel”, embalado numa caixa com o molde, em alto-relevo, de uma amonite, não deixa, por todas estas razões, de ser o documento ideal para quem passou ao lado da discografia de álbuns do grupo, na mesma medida em que apresenta uma colecção com um número impressionante de algumas das melhores e, porque não dizê-lo, excêntricas canções alguma vez nascidas do outro lado da Mancha.
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