29 de Março de 1995
álbuns world
DO “SUK” A MOSCOVO
LA CIAPA RUSA
Aji & Safrán (8)
ROBI DROLI
BARABÀN
Barabàn Live (7)
ASSOCIAZIONE CULTURALE BARABÀN
Distri. MC – Mundo da Canção
“Alho e Açafrão” – um título condimentado, escolhido pelas suas “ressonâncias mágicas” (em dialecto piemontês, é possível; traduzido para português, nem por isso…) e, ao mesmo tempo, por evocar o ambiente de um “suk” (mercado) árabe. É o regresso em beleza desta banda do Piemonte, liderada por Maurizio Martinotti e Beppe Greppi, actualmente das mais importantes no circuito “folk” europeu. Os celtas italianos voltaram a não deixar os seus créditos por mãos alheias, com uma selecção variada de temas de inspiração piemontesa ou lombarda, arranjados ou compostos por Martinotti. As “monferrini”, danças típicas da região, dão um ar festivo à maioria das faixas, numa série de “medleys” divididos em secções que raramente excedem os dois minutos, numa girândola de cores criadas pela sanfona electro-acústica, o acordeão, o violino, e o arsenal de palhetas do novo elemento Patrick Novara, incluindo o indispensável “piffero” piemontês (da família da bombarda bretã), o oboé, o clarinete e a gaita-de-foles. Uma das virtudes dos La Ciapa Rusa é a preocupação, quase maníaca, com o detalhe e a precisão dos arranjos, o que faz deles uma miniorquestra de alquimistas. Há, em “Aji & Safràn” fantasia, Carnaval, dedicatórias sentidas a lugares ou a um velho “suonatore” de “piffero”, e baladas ancestrais como “Cecilia”, onde é narrada a história de uma noiva que, para livrar o seu amado da sentença de morte, sacrificou a sua honra ao executor. O último tema, “Ad Oriente”, homenageia de forma vibrante o festival de Lorient, reunião magna de celtas que todos os anos, durante dez dias, se celebra naquela localidade da Bretanha. Ao contrário dos Ciapa Rusa, Barabàn, os seus vizinhos da Lombardia, arriscam mais, seja na utilização (por vezes, exaustiva) das programações electrónicas ou, neste caso, da orientação estética de “per se”. Neste seu registo ao vivo, a qualidade dos temas é prejudicada por ocasionais falhas técnicas. Este desequilíbrio encontra justificação no facto de se tratar de uma compilação de actuações registadas entre 1989 e 1993 em Itália, Canadá, Inglaterra, Rússia, Bélgica e Áustria, em condições por vezes deficientes, com os próprios músicos a serem os primeiros a reconhecer que as canções “não são homogéneas”, quer do ponto de vista técnico, quer da interpretação”. O roubo dos instrumentos de que foram vítimas ou concertos em locais e horas impróprias, pagos, por vezes, “com alguns tostões e uma sandes”, contam-se entre as dificuldades que o grupo se viu obrigado a enfrentar. Os Barabàn citam, a propósito, um espectáculo em Moscovo, no Inverno de 1990, onde não tiveram outro remédio senão utilizar uma amplificação que não oferecia um mínimo de garantias. Mas o entusiasmo do engenheiro de som russo e da assistência foram tais, dizem, que não hesitaram em “guardar a memória do concerto, embora o som não ofereça qualidade” – uma saudável concessão “à emoção”, em detrimento do perfeccionismo clínico. Saudades devem ter os Barabàn do Intercéltico, onde há dois anos rubricaram um concerto memorável. O ponto forte deste sexteto impulsionado por Aurelio Citelli e Giuliano Grasso continuam a ser as baladas, de inexcedível beleza, como “Ol me buntemp”, “Lena”, “Gorizia tu sei maledetta” e a tocante melodia de “Dona Lombarda”, sem esquecer as polifonias “La merla” e “La Brunetta”, estes três últimos temas podendo já considerar-se clássicos do grupo. “Live” constitui uma escolha arriscada para suceder a “Naquane” – um disco imaculado – mas, como já foi dito, para os Barabàn, o risco é a sua profissão.
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