Pop Rock
30 MARÇO 1994
30 MARÇO 1994
A PRINCESA PROMETIDA
A sua figura de princesa da Idade Média sugere os mitos e a simbologia célticos. Infelizmente, vista de perto, Loreena McKennitt revela-se uma figura de papel. Vem pela segunda vez cantar e tocar harpa a Portugal. Com um novo álbum na bagagem, “The Mask and Mirror”.
Nasceu no Canadá, aprendeu canto clássico e encontrou a harpa quase por acaso. É estudiosa da cultura celta e interessa-se, entre outras coisas, por literatura, pelos vários folclores do Globo e por Portugal, onde tirou as fotografias da capa e foi buscar alguma inspiração para o seu penúltimo álbum “The Visit”, cartão de visita do seu anterior concerto, há dois anos, no nosso país. Loreena McKennitt parece ter à partida vários trunfos à sua disposição. Trunfos que, na prática, desaproveita ao desbarato. Em parte, talvez, devido ao sucesso de vendas obtido com “The Visit”, primeiro álbum da sua discografia a ter distribuição internacional, pela Warner, a música desta senhora, que se adivinha cheia de boas intenções, raramente ultrapassa a beleza superficial, dispersando-se por arranjos que privilegiam o exotismo e piscam o olho aos ouvidos e sensibilidades ávidas de evasão, mas que, ao mesmo tempo, não dispensam uma certa caução cultural.
Loreena dá, no fundo, aos seus auditores aquilo que eles querem receber, pondo de lado aquilo que os poderia levar mais fundo e a outras músicas menos presas à superficialidade. Não basta ir buscar um amontoado de referências – Yeats, Shakespeare, Tennyson, Stª. Teresa d’Ávila, S. João da Cruz, Santiago de Compostela, a música indiana, sufis, cátaros, templários, os evangelhos, a mil e uma noites, África… – para depois as misturar numa sopa que, no novo álbum, “The Mask and Mirror”, mais ainda do que em “The Visit”, acaba por saber a um inofensivo exercício de “new age”, com um ligeiro aroma a tradição.
Compreende-se que Loreena queira agradar a todo o custo. As capas dos discos são por regra belíssimas – por sinal mais, até, do que a própria música –, as referências célticas são distribuídas com parcimónia por tudo o que é nota, a força evocativa da harpa (céltica, topam?), também ajuda. Tudo isto não chega nem evita que a obra de Loreena McKennitt precise urgentemente de levar um abanão.
Posto isto, o que poderemos esperar desta sua segunda apresentação em Portugal? Sem dúvida, muitas e bonitas melodias, uma voz doce como a dos anjos, doses cremosas de folclore e “imaginários” celtas, um ou outro bocejo nos momentos mais contemplativos. Deve chegar para fazer do concerto desta princesa prometida um êxito.
31 DE MARÇO
Lisboa
Grande Auditório do Centro Cultural de Belém
22h00
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