Sons
5 de Dezembro 1997
Celso de Carvalho estreia-se a solo em edição de autor
30 graus Celsius
Celso de Carvalho, 47 anos, antigo elemento dos Plexus e da Banda do Casaco, violoncelista numa orquestra sinfónica, participante em gravações de estúdio ou em concertos dos mais diversos artistas nacionais e estrangeiros (Quarteto 1111, José Afonso, Rão Kyao, Filipe Mendes, António Pinho Vargas, Steve Potts, Gunther Hampel, Marcos Resende, Né Ladeiras, Jerry Marotta, António Emiliano, Chico Buarque, Ramuntcho Matta, Amélia Muge, e Ala dos Namorados, entre outros), acabou de “lançar” o seu primeiro álbum a solo, intitulado “Celsianices”, do qual é autor, intérprete, produtor, arranjador, misturador, programador e engenheiro de som.
Mas este álbum tem uma particularidade: trata-se de uma edição de autor do qual foram apenas prensados 30 exemplares, numerados e assinados, que têm sido distribuídos “por pessoas amigas, por amantes de música em particular e mesmo por pessoas que o autor não conhece pessoalmente, sendo, contudo, apreciador dos seus critérios musicais, gente ligada à crítica e à divulgação nos ‘media’”. Porque, quando Celso de Carvalho quis dar a conhecer a sua música, “faltaram-lhe todos os apoios”. “É que a coerência e a opção pelo não-comercial têm os seus custos”, diz. Foi assim que tivemos conhecimento de “Celsianices”, um álbum gravado entre Julho de 1994 e Julho de 1995, passado para CD em Fevereiro de 1996, inteiramente realizado com teclados Roland JV-90 e Yamaha PS-S-680, e recurso ao programa de computador Korg Audio Gallery.
Para trás ficaram o baixo eléctrico, o violoncelo e o vibrafone, instrumentos nos quais se notabilizou ainda na década de 60 com o primeiro grupo de “free music” português, os Plexus, do qual também fez parte o violinista Carlos Zíngaro. Mais tarde, Celso de Carvalho marcou presença em sete álbuns da Banda do Casaco e recentemente foi visto a acompanhar a cantora Amélia Muge na sua última digressão.
Destes 30 exemplares prensados, fica a esperança de que alguns cheguem às mãos de quem eventualmente possa estar interessado em editar este trabalho. Para já, não existe qualquer certeza, mas apenas um interesse vago manifestado por pessoas como o engenheiro de som José Fortes ou Nuno Rodrigues, da MVM, antigo companheiro de Celso na Banda do Casaco. “É o meu manifesto, para mostrar que estou vivo e a fazer coisas”, desabafa Celso de Carvalho.
Problemas de saúde atrasaram a distribuição de “Celsianices”. “Um ‘bad timing’ absoluto”, agravado por dificuldades com o texto do livrete, com um desenho da autoria do próprio Celso quando tinha cinco anos. Os temas de “Celsianices” abrangem um período compreendido entre 1972 e 1995, tendo a maioria sido composta nos últimos quatro anos. “É um tipo de composições que nunca consegui meter nos Plexus nem na Banda do Casaco porque não se adaptavam muito bem. Ficaram sempre na prateleira. “Por feitio ou por ter uma vida muito ocupada, a sua música foi sendo adiada, em termos de projecção pública. O computador surge como uma maneira de se autonomizar, sem que tal implique que Celso tenha esquecido as suas raízes, pop e jazzísticas. “Tento fugir ao som que eles me impingem no programa, fazendo, por exemplo, sobreposições várias, alterações de timbre ou glissandos com o botão de ‘portamento’, equivalentes ao que faria no violoncelo.”
Essa abordagem orgânica do som é uma das características mais interessantes de “Celsianices”, álbum nem sempre fácil mas sem dúvida preocupado em escapar ao exercício de estilo e ao hermetismo, evidenciando uma espécie de “swing” electrónico que se vislumbra em músicos como Wayne Horvitz, teclista e companheiro de longa data de John Zorn, ou nos Weather Report, que Celso refere a propósito de “Ah, bom”. O tema de abertura, “Figurante da vida”, inspirado pelos Genesis dos anos 80, entraria facilmente nas rotas do éter radiofónico. “Celsianices” cria ainda uma aura autobiográfica, em temas rotulados como “Celsinho” e “Megacelso”. “Não é narcisismo”, garante o autor, mas apenas uma reflexão em torno de uma vida, desde a infância, vocacionada para a música, desde a filtragem de melodias ouvidas em criança, em “Celsinho”, a um dos primeiros temas compostos e gravados digitalmente, “Megacelso”, onde se concentram, quase até à saturação, sons e direcções musicais díspares. “Celsianices” inclui-se no grupo dos não alinhados da música portuguesa. Cabe aos ouvidos inteligentes da indústria fazerem-no chegar aos ouvidos inteligentes do público. A música isenta de compromissos exige-o.
5 de Dezembro 1997
Celso de Carvalho estreia-se a solo em edição de autor
30 graus Celsius
Celso de Carvalho, 47 anos, antigo elemento dos Plexus e da Banda do Casaco, violoncelista numa orquestra sinfónica, participante em gravações de estúdio ou em concertos dos mais diversos artistas nacionais e estrangeiros (Quarteto 1111, José Afonso, Rão Kyao, Filipe Mendes, António Pinho Vargas, Steve Potts, Gunther Hampel, Marcos Resende, Né Ladeiras, Jerry Marotta, António Emiliano, Chico Buarque, Ramuntcho Matta, Amélia Muge, e Ala dos Namorados, entre outros), acabou de “lançar” o seu primeiro álbum a solo, intitulado “Celsianices”, do qual é autor, intérprete, produtor, arranjador, misturador, programador e engenheiro de som.
Mas este álbum tem uma particularidade: trata-se de uma edição de autor do qual foram apenas prensados 30 exemplares, numerados e assinados, que têm sido distribuídos “por pessoas amigas, por amantes de música em particular e mesmo por pessoas que o autor não conhece pessoalmente, sendo, contudo, apreciador dos seus critérios musicais, gente ligada à crítica e à divulgação nos ‘media’”. Porque, quando Celso de Carvalho quis dar a conhecer a sua música, “faltaram-lhe todos os apoios”. “É que a coerência e a opção pelo não-comercial têm os seus custos”, diz. Foi assim que tivemos conhecimento de “Celsianices”, um álbum gravado entre Julho de 1994 e Julho de 1995, passado para CD em Fevereiro de 1996, inteiramente realizado com teclados Roland JV-90 e Yamaha PS-S-680, e recurso ao programa de computador Korg Audio Gallery.
Para trás ficaram o baixo eléctrico, o violoncelo e o vibrafone, instrumentos nos quais se notabilizou ainda na década de 60 com o primeiro grupo de “free music” português, os Plexus, do qual também fez parte o violinista Carlos Zíngaro. Mais tarde, Celso de Carvalho marcou presença em sete álbuns da Banda do Casaco e recentemente foi visto a acompanhar a cantora Amélia Muge na sua última digressão.
Destes 30 exemplares prensados, fica a esperança de que alguns cheguem às mãos de quem eventualmente possa estar interessado em editar este trabalho. Para já, não existe qualquer certeza, mas apenas um interesse vago manifestado por pessoas como o engenheiro de som José Fortes ou Nuno Rodrigues, da MVM, antigo companheiro de Celso na Banda do Casaco. “É o meu manifesto, para mostrar que estou vivo e a fazer coisas”, desabafa Celso de Carvalho.
Problemas de saúde atrasaram a distribuição de “Celsianices”. “Um ‘bad timing’ absoluto”, agravado por dificuldades com o texto do livrete, com um desenho da autoria do próprio Celso quando tinha cinco anos. Os temas de “Celsianices” abrangem um período compreendido entre 1972 e 1995, tendo a maioria sido composta nos últimos quatro anos. “É um tipo de composições que nunca consegui meter nos Plexus nem na Banda do Casaco porque não se adaptavam muito bem. Ficaram sempre na prateleira. “Por feitio ou por ter uma vida muito ocupada, a sua música foi sendo adiada, em termos de projecção pública. O computador surge como uma maneira de se autonomizar, sem que tal implique que Celso tenha esquecido as suas raízes, pop e jazzísticas. “Tento fugir ao som que eles me impingem no programa, fazendo, por exemplo, sobreposições várias, alterações de timbre ou glissandos com o botão de ‘portamento’, equivalentes ao que faria no violoncelo.”
Essa abordagem orgânica do som é uma das características mais interessantes de “Celsianices”, álbum nem sempre fácil mas sem dúvida preocupado em escapar ao exercício de estilo e ao hermetismo, evidenciando uma espécie de “swing” electrónico que se vislumbra em músicos como Wayne Horvitz, teclista e companheiro de longa data de John Zorn, ou nos Weather Report, que Celso refere a propósito de “Ah, bom”. O tema de abertura, “Figurante da vida”, inspirado pelos Genesis dos anos 80, entraria facilmente nas rotas do éter radiofónico. “Celsianices” cria ainda uma aura autobiográfica, em temas rotulados como “Celsinho” e “Megacelso”. “Não é narcisismo”, garante o autor, mas apenas uma reflexão em torno de uma vida, desde a infância, vocacionada para a música, desde a filtragem de melodias ouvidas em criança, em “Celsinho”, a um dos primeiros temas compostos e gravados digitalmente, “Megacelso”, onde se concentram, quase até à saturação, sons e direcções musicais díspares. “Celsianices” inclui-se no grupo dos não alinhados da música portuguesa. Cabe aos ouvidos inteligentes da indústria fazerem-no chegar aos ouvidos inteligentes do público. A música isenta de compromissos exige-o.
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