23/06/2009

José Mário Brano - Ao Vivo Em 1997

Sons

19 de Dezembro 1997
DISCOS - PORTUGUESES

Ao vivo de certa maneira

Ainda não é desta que temos o prazer de escutar um novo álbum de estúdio do autor de “Margem de Certa Maneira”. Para José Mário Branco, compositor do outro lado, será ainda tempo de espera e de preparação interior, antes da concretização de um novo passo em direcção ao desconhecido. “Ao Vivo em 1997” é um ponto de ordem, uma chamada de atenção, um gesto de cumplicidade retomada. Uma inquietação intermédia num percurso de criatividade cujo derradeiro testemunho continua a ser as suas “Correspondências”.
José Mário Branco veio no passado mês de Junho dizer de si próprio e da sua arte, em 23 temas gravados nos espectáculos realizados a 14, no Coliseu do Porto, a 15, 16 e 18, no Teatro da Trindade, em Lisboa, e a 20, no Teatro Gil Vicente, em Coimbra. Fora do disco ficaram os temas compostos por José Mário Branco para a peça “Gulliver”, encenada pela Barraca, que pertenciam ao alinhamento dessas cinco datas, deixando entender que o músico pretendeu conservá-los para inclusão no disco da banda sonora a editar esperemos que muito em breve.
Para já ficamos com a recordação desses espectáculos, através de um punhado de canções de total exposição, às quais, em alguns casos, a voz de José Mário Branco não terá feito toda a justiça, revelando, sobretudo na sequência inicial deste duplo álbum, algum cansaço. Mas a expressividade, o teatro da alma, a força das palavras e os renovados arranjos de clássicos como “Engrenagem” (com as harmonizações dos Tetvocal), “Elogio da corporação”, “Margem de certa maneira” (mais escurecido e desamparado do que nunca), “Ser solidário”, “Emigrantes da quarta dimensão”, “Queixa das almas jovens censuradas” e “A noite” chegaram, e chegam, como sempre, para desassossegar. Mesmo se pelo lado da ternura. Ou da sátira, aqui retomada, de forma deliciosa e, de novo com a preciosa colaboração dos Tetvocal, por um José Mário Branco “rapper” em “Arrocachula”.
O segundo compacto inclui os inéditos “De pé, saudação a Antero”, “Menina dos meus olhos”, “Teu nome Lisboa” (um “unplugged” sem rede, suportado pelo contrabaixo de Carlos Bica), “Capotes pretos, capotes brancos” e “Terra quente”, este último a solo pelos Tetvocal. Estarrecedor é o balanço final de “Cantiga de alevantar ‘leva leva’”, um cântico ritual de trabalho que serve de metáfora à obra seminal de José Mário Branco. Momento privilegiado para quantos acompanharam de perto estes espectáculos ao vivo do músico, no mês da graça de Junho de 1997.

José Mário Branco
Ao Vivo em 1997 (7)
2xCD ed. e distri. EMI – VC

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