18/06/2009

Homens com centro na bateria [Tim Tim Por Tim Tum]

Sons

5 de Dezembro 1997

Tim Tim por Tim Tum na sua estreia discográfica

Homens com centro na bateria

“Diálogo de Baterias” é o álbum de estreia dos Tim Tim por Tim Tum, quarteto de bateristas formado por José Salgueiro, Acácio Salero, Alexandre Frazão e Marco Franco. Quem assistiu ao seu concerto realizado na Primavera passada no CCB terá reparado na forte componente cénica e lúdica do grupo, algo impossível de passar para uma gravação. A questão foi contornada com o recurso a uma faixa interactiva em CD-ROM para PC-Windows que inclui imagens de actuações ao vivo do grupo, às quais se acede através de uma espécie de jogo.
A oportunidade para a gravação do disco surgiu na altura em que se encontrava em Portugal o baterista norte-americano Jim Black – acompanhante habitual do contrabaixista português Carlos Bica e músico de créditos firmados na cena jazzística internacional –, convidado para um “workshop” com os bateristas dos Tim Tim. Foram juntos para o teatro da Malaposta, onde estiveram dois dias a trabalhar. “Senti que havia ali uma forma espontânea do que estava a acontecer e pedi os meios para gravar”, explica José Salgueiro, principal força impulsionadora deste projecto único em Portugal. “Gravou-se como se grava um disco de ‘jazz’, um disco de ‘takes’, tocado em tempo real com o técnico de som junto a nós, com a mesa e os gravadores na borda do palco. Criámos um ambiente, carregámos no “rec” [“record”, gravar] e estava a andar.”
Disco de bateristas, por oposição a um disco de percussionistas, “Diálogos de Bateria” constrói-se a partir de um respeito mútuo entre todos os músicos participantes e da sua capacidade para se “ouvirem uns aos outros”. “Não tentamos sacar malhas uns aos outros”, garante José Salgueiro, para quem “Tim Tim por Tim Tum é igual a comunicar”. Representou ainda a possibilidade de explorar um instrumento, a bateria, do qual andara arredado nos últimos tempos. “Sempre fui baterista, toquei bateria nos Trovante durante oito anos. Depois, quando o grupo acabou, houve uma altura em que comecei a ser requisitado como percussionista. De repente dei por mim sem trabalho na bateria”, diz José Salgueiro, baterista de gema mas que nos últimos anos se tem notabilizado como percussionista em grupos como os O Ó Que Som Tem, de Rui Júnior, que abandonou recentemente, ou nos Gaiteiros de Lisboa.
“Diálogo de Baterias” tem sabor a “jazz”. Alimentado pela improvisação. Um dos temas, “um verdadeiro diálogo de baterias, sobre um ritmo típico do Max Roach”, é dedicado a este baterista, uma das lendas vivas do jazz que, de certa forma, foi também responsável pela génese do grupo. “Fiz um ‘workshop’ com ele e o seu grupo, só de percussionistas, os M’Boum, em Barcelona. Foi um estalo. A experiência repetiu-se em Portugal, na Gulbenkian, desta feita sem o grupo, e foi aí que se decidiu fazer a coisa com músicos portugueses. O Max Roach falou connosco e pôs-nos a tocar, dando-nos pistas musicais, mais do que ensinando-nos pormenores técnicos. Os Tim Tim germinaram nessa altura na minha cabeça.”
No horizonte do grupo perfila-se a hipótese de realização de uma série de espectáculos no estrangeiro. “Há imenso espaço para os Tim Tim”, diz José Salgueiro. “Para já, começámos a trabalhar com a companhia de dança do Paulo Ribeiro, na mesma peça de percussões com as mãos e o corpo que fizemos no CCB, só que agora também dançamos, eu e o Marco Franco.” Além disso, já existem contactos no Brasil, Bélgica e talvez nos Estados Unidos.
Neste momento, além dos Tim Tim por Tim Tum, José Salgueiro reparte a sua actividade pelos Gaiteiros de Lisboa, pelo projecto “Suite da Terra”, com Carlos Barreto e Mário Delgado, uma tentativa de recriação original da música tradicional, “com linguagem de improvisação”, que sairá proximamente em disco, e pelo quarteto de João Paulo Esteves da Silva, com o qual irá também gravar em breve. Quando chegar a Expo-98, José Salgueiro terá em mãos espectáculos com os Tim Tim, com os Gaiteiros e com João Paulo Esteves da Silva, além de um outro girando em torno do adufe. “É um instrumento sobre o qual, curiosamente, não percebo muito. Vou ter que pesquisar para fazer um espectáculo de percussão em que o adufe seja a estrela.” “Já tenho uma agenda nova e ando a ver se consigo conciliar estas coisas”, desabafa com satisfação José Salgueiro, um músico para quem o ritmo é uma paixão.

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