Sons
12 de Dezembro 1997
PORTUGUESES
O princípio da Canção
12 de Dezembro 1997
PORTUGUESES
O princípio da Canção
Vários
Voz e Guitarra (7)
2xCD ed. e distri. Farol
Só a listagem de nomes presentes neste duplo álbum bastaria para esgotar o espaço desta crítica. “Voz e Guitarra” é uma autêntica parada de estrelas, reunidas com o propósito de pôr em prática uma ideia que, não sendo original – o “unplugged” –, tem a particularidade de os vários intervenientes mostrarem o que valem recorrendo às suas vozes e às suas guitarras. Num projecto desta natureza, é óbvio que nem todas as canções se pautam pelo mesmo calibre qualitativo. São, na maioria, canções conhecidas, umas vezes cantadas pelos próprios autores, outras recriadas em versões alheias, permitindo assim a sua revisitação em moldes diferentes.
Escolhemos para destaque, de um total de 36, aquelas de que ressalta algo que as torna momentos especiais. Assim, no primeiro compacto, tocam esse instante indefinível as vozes e as guitarras de Kalú (na sua estreia a solo fora dos Xutos) e Nuno Rafael, com “Tonto”, um grito arrebatado do fundo da esperança; “Os melhores anos das nossas vidas”, mostrando um Miguel Ângelo nostálgico e afastado das luzes da ribalta; a beleza distante de Filipa Pais, em “Praia das lágrimas”; “Mulher da erva” de Sérgio Godinho, um original de José Afonso, com introdução vocal de Filipa Pais; a nova e mais medievalesca versão de Né Ladeiras e Pedro Jóia, para “Molinera”; e as barrocas harmonias vocais das Vozes da Rádio numa “Canção da viela património mundial” que não esconde a influência de Gabriel, o Pensador. E, brilhando e agitando-se acima de tudo, a voz de Janita Salomé, ressumando espiritualidade no seu clássico “Não é fácil o amor”.
No segundo compacto, somos atirados para a quarta dimensão pela versão de um tema de Fausto, “Porque não me vês”, de Xana com Flak, um dos grandes momentos do disco. Jorge Palma assina um pedaço autobiográfico no confessional “O meu amor existe”, enquanto a voz das profundezas atlânticas do açoriano José Medeiros faz da ternura tristeza em “Menina dos olhos tristes”.
Mas “Voz e Guitarra” vale, ainda, como uma ideia que torna possível a redescoberta de algumas facetas pouco iluminadas de um lote abrangente de alguns dos nomes mais sonantes da música portuguesa. Redescubram então, além dos exemplos citados, a música, no máximo despojamento, de Paulo Gonzo, Rui Veloso, Tim, Carlos Tê, João Afonso, João Gil, Minela e Moz Carrapa, Vitorino, Nuno Guerreiro, Luis Represas, João Monge, José Soares Martins e Paulo Costa.
Sem comentários:
Enviar um comentário