07/02/2011

D. A. F.

Sons

17 de Setembro 1999
REEDIÇÕES

Sex Machine

D. A. F.
Die Kleinen und die Bösen (6)
Alles ist Gud (7)
Gold und Liebe (8)
Für Immer (7)
Mute, import. Symbiose


Disciplina. Suor. Sexo. Três palavras-chave para definir a música e a atitude dos D. A. F. (Deutsch-Amerikanische Freundschaff, Associação de Amizade Alemanha-América…), banda germânica que no início dos anos 80 misturou o krautrock, a batida disco, a confrontação punk e o inferno industrial, antecipando a estética “electronic body music” dos Front 242 ou Nitzer Ebb. Os D. A. F. eram, essencialmente, um duo formado pelo teclista-maquinista Robert Görl (ex-Der Plan) e o vocalista-gigolo espanhol Gabi Delgado-Lopez. Encontraram-se em Düsseldorf, capital da moda e da vanguarda… O primeiro usava os sintetizadores e caixas de ritmo como instrumentos de punição. O segundo alternava gemidos de prazer erótico com slogans políticos provocatórios ou exortações do sargento aos seus recrutas. Vestiam-se de cabedal negro ou posavam em tronco nu, segundo a estética dos clubes gay de Nova-Iorque que recuperaram com um acentuado gosto pelo sado-masoquismo.
Depois de um primeiro álbum, editado ainda em 1979, com o selo Warning (mais tarde Atatak, dos Der Plan e Pyrolator) e o título “Ein Produkt der Deutsch-Amerikanische Freundschaff”, marcado por bandas do krautrock como os Can e Amon Düül II, embora num contexto punk, os D. A. F. enveredaram no trabalho seguinte, “Die Kleinen und die Bösen” por uma veia industrial de cariz anarquista, soando a uns Einsturzende Neubauten infectados pela urgência da new-wave. Metade do disco foi gravado ao vivo no clube Electric Ballroom, em Londres, mas se o suor escorria em quantidades alarmantes dos corpos destes operários do metal, era, contudo na outra metade, feita em estúdio, que a banda dava mostras de uma disciplina e um grau de experimentação com a marca inconfundível do produtor-guru Conny Plank (sem ele o krautrock teria existido?).
Já reduzidos ao duo Görl/Delgado os D. A. F. partiriam em seguida para uma trilogia que os elevou a níveis de popularidade nunca antes atingidos por um grupo alemão dentro do seu país. “Alles ist Gut”, de 1981, ostentava a sonoridade que se manteria até à extinção: batidas electrónicas marciais (leia-se binárias, como botas cardadas que serviam para disciplinar as onomatopeias sexuais e as palavras de ordem cuspidas por Delgado. A ironia iludiu alguns que tomaram no sentido literal aquele que se tornaria o hino escandaloso do grupo: “Der Mussolini”. Nazismo pronto a dançar não era, realmente, prato de digestão fácil para uma nação ainda demasiado traumatizada por fantasmas recentes. Gabi Delgado limitou-se a dizer que achava a palavra “Mussolini” carregada de “sex appeal”. Apesar disso, o tema, editado em 12 polegadas, tornou-se um êxito. A presente reedição, como a dos dois últimos álbuns seguintes, foi remasterizada.
“Gold und Liebe”, editado no mesmo ano, seis meses apenas após o seu antecessor, foi, como seria de esperar, recebido com algumas reservas e receios. A banda era, nesta altura, acusada de misturar em doses perigosas, sexo, chicotes e totalitarismo. O álbum vendeu pouco, apesar de, ou por causa de, ser aquele em que, em termos musicais, melhor tipifica a tendência dos D. A. F. para o militarismo e o sexo, nas suas múltiplas variantes, dos jogos de poder ao coito subaquático, em faixas como “Sex unter wasser”, “Muskel” ou “Absolute körperkontrolle”. Música ideal para actividades do corpo, “Gold und Liebe” constitui um exercício de ginástica que, cumprido à risca, pode levar ao esgotamento. Para cima, para baixo, esquerda, direita, ao longo de dez faixas, sem parar. A seguir, só um duche.
Em “Für Immer, de 1982, último álbum de originais dos D. A. F. (Robert Görl gravaria ainda, a solo, um entediante exercício de pop electrónica, enquanto Gabi Delgado optou por uma diversão espanholada onde personificava um Rudolfo Valentino-macho no limiar do orgasmo) a dupla aparece pela primeira vez retratada na capa, sem a exposição dos corpos e do vestuário de cabedal, ficando reduzida a duas silhuetas negras recortadas contra um fundo neutro. É notória a falta de luz e a descida dos níveis de adrenalina, num álbum em que os D. A. F. se aproximam de algo parecido com baladas (como fizeram os Suicide, com “Chereee”) e dos ritmos tecnopop. Baixaram as rotações, mas aumentou o mistério, numa desaceleração que permitiu, por outro lado, concentrar a atenção em palavras que nunca deixaram de ser, para muitos, um castigo. “Die ötter sind weiss” (“Os deuses são brancos”) ou “Wer schön sein will muss leiden” (“Se queres ser maravilhoso(a) tens que sofrer”) não devem ser entendidos à letra…

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